Educação Condutiva - com amor

Quero escrever sobre Educação Condutiva porque me apaixonei por este método, cheio de amor, que tem atendido aos meus filhos com p.c. Quero descrever o que tenho estudado, aprendido, escutado e sentido ... Tenho a vontade de abraçar o mundo e fazer com que todas as crianças na mesma condição motora de meus filhos, tenham a chance de receber toda esta inteligência, técnica, forma de agir, pensar e sentir, que com todo carinho o Dr. Andras Peto deixou de herança.

Saturday, September 30, 2006

Formação de condutores


Participei da cerimônia de colação de grau dos condutores na Inglaterra no início deste mês. Os relatos da história, do aprendizado, e as riquezas que foram desenvolvidas pelo caminho foram mais uma certeza de mostrar que o que estamos fazendo vem sendo testado e aprovado.

Dra. Lillemor Jernqvist, fez o discurso para os condutores formados. Ela é fisioterapeuta senior que acompanhou a evolução do termo paralisia cerebral na década de 70, quando esta ainda era tratada apenas como um problema médico e por médicos. Hoje vemos que esta forma de visão levou a sociedade a tratar estas crianças de forma isolada e na maioria dos casos tendo suas capacidades e habilidade ignoradas.

Lillemor foi destas pessoas que se preocupavam com as crianças, com suas habilidades, e brigava por este espaço. Ela comenta como na educação condutiva todos trabalham de forma holística e ainda aplicada, que faz com que as pessoas que trabalham devem ter conhecimento em todas as áreas de desenvolvimento, visualizando a pessoa completa. Para isto o condutor tem que trabalhar duro, em seus estudos , nos exercícios na sua prática, além de usar o intelecto para manter seu trabalho estimulante e desafiador.


O condutor é um especialista no assunto e um profissional muti-competente. Lidar com pessoas portadoras de deficiência já é um tanto desafiante, assim como toda nossa vida é um desafio. Ela brilhou ao discursar as alunas, além de honrar não somente a elas, mas também a Andras Peto, Mari Hari e Ester Cotton, que dedicaram suas vidas para a Educação Condutiva, concluindo:


- Esta sala está cheia de novas condutoras sim, mas está é cheia de esperança! E o ciclo da vida é isto, a história, o agora e o futuro. Através da educação condutiva, com estes condutores 'o agora tem seu futuro'.
Condutores são as pessoas habilitadas para liderar um grupo de crianças trabalhando a Educação Condutiva. Eles têm uma formação super completa, têm estudos em diversas áreas, desde psicologia, neurologia, pedagogia, terapia, fisiologia, sociologia, anatomia, entre outros.

Ser um condutor é como qualquer profissão, exige uma faculdade de quatro anos de estudos. Ser condutor é uma destas profissões que estão ligadas a sua prática; assim como o médico que não se forma sem seu último ano de residência, o condutor aplica todo o seu conhecimento no dia-a-dia de sua formação.

Os dois centros que formam atualmente são o Instituto Peto na Hungria e o Instituto NICE de Birmingham. Na Hungria são formados 40 condutores por ano (em húngaro), em Birmingham este ano (2006) formaram 7 (em inglês), e está no seu sétimo ano. Ainda não existe nenhum curso oferecendo pós-graduação na área, mas pretende-se oferecer a partir de 2007 na Inglaterra. A Hungria fez uma parceria com uma Universidade da Espanha, que apenas uma vez, realizou um master. Em Birmingham, a Universidade que forma as alunas é a Universidade de Wolverhampton. Mas praticamente todas as aulas são feitas dentro do Instituto, e a prática realizada junto as crianças e adultos que são atendidos.

Peto, um ano antes de sua morte, escreveu sobre sua vida de condutor:

- Minha saúde é frágil, mas meu desejo inevitável pelo trabalho e o prazer que tenho por ele não me são reduzidos ou diminuidos.

Thursday, September 28, 2006

Estatísticas do trabalho de um poeta


Peto escreveu coisas lindas, cada frase com tanta intensidade, ele era mesmo um sábio, um poeta! Moreno, pai do psicodrama era seu amigo particular, eles escreviam obras teatrais juntos e ele nunca entendeu como Andras tinha ido estudar medicina. - Uma pessoa com esta sensibilidade, inteligência, domínio da literatura e conhecedor de tantas ciências humanas. Você poderia ser um escritor muito rico e famoso, um dia disse ao próprio. Peto lia muito, mas era muito mais que inteligência era um curioso arrojado, sempre em busca de novidades pelo mundo. Todas elas relacionadas ao bem estar humano.
Peto supervisionava diariamente o que chamava de 'cronotopografia', nem sei como traduzir isto para o português. Mas era um 'mapa' da rotina de cada criança que era atendida por seu Instituto. Todas as tarefas que cada um tinha a fazer, onde e quando. O programa deveria preencher as 24 horas do dia de cada um, incluindo a condução que seria realizada no seu tempo livre, nas brincadeiras e todas as formas de ação. Os resultados estavam ali para serem alcançados.

Anos mais tarde (1983) foram feitas estatísticas com tabelas dos resultados atingidos nas práticas diárias realizadas com Educação Condutiva. A pesquisa completa pode ser encontrada nos anais publicados no Segundo Congresso de Educação Condutiva, em húngaro e inglês. Abaixo descrevo um resumo de dois temas, (a) resultado de sua condição após determinado período de avaliação e (b) tempo necessário para cada criança dependendo de sua condição.

(a) Depois de 12-14 meses de avaliação as crianças:

já não tinham condições de andar 57,3% *(antes da pesquisa)
ainda não tinham condições de andar 17,7% **(após a pesquisa)

já não tinham condições de manipular 36,5% *
ainda não tinham condições de manipular 18,4% **

já não tinham condições de falar 27,1% *
ainda não tinham condições de falar 14,6% **

demonstraram atraso no seu desenvolvimento intelectual 22,1% *
permaneceram como chegaram 12% **



(b) Crianças com diferentes condições motoras necessitam diferente tempo de trabalho a ser desenvolvido até atingir conquitas para sua reabilitação.

ataxia 11 meses
atetose 41,5 meses
diplegia 32,9 meses
hemiplegia 16,2 meses
hemiplegia dupla 39,4 meses
espinha bifida 22 meses


Eu tenho formação em exatas e gostaria muito de ver o mundo todo em estatísticas. Mais do que isso: gostaria de ver o progresso e o sucesso em estatísticas. Ilustrados com aqueles gráficos lindos que a curva só sobe, só sobe... Infelizmente elas são somente números e tratando-se ainda da avaliação de humanos, fica ainda mais difícil avaliar, creditar, formular, resultar. Mas serve para algum posicionamento, de algumas pessoas, em algum ponto de vista.

Tuesday, September 26, 2006

Simples aprendizado


Quem é essa que fala de terapia, de medicina, de pedagogia .. Não sou nada disso, não tenho formação em educação, nem em medicina, nem em nenhuma terapia. Sou formada na ciência da vida, na experiência que a vida me deu, em ter trabalho dobrado, em não saber o que é amamentar só um, em não saber em o que é dar banho e descansar, mas começar de novo. Sou como os Teletubbies: again, again.

Descrevo a história que vivo, da forma que vejo. Mas imagino que todas as histórias devem ser contadas assim mesmo. Cada um conta aquilo que percebe. Não necessariamente aquilo que aconteceu.

Aqui queria falar sobre aprendizado. Aprendemos aquilo que vivemos. Não necessariamente o que lemos, nem o que vemos, mas sim o que vivenciamos.

Descrever a educação condutiva, quando se percebe, quando se vive, se experimenta, me parece talvez mais fácil do que quando comecei a ler sobre o tema, em que 'só' lia, mas não conseguia perceber o verdadeiro valor.

As vezes achamos tudo tão complexo, mas somente quando descobrimos o mais simples é que aprendemos de verdade.


Assim vejo também em meus filhos, o que eles têm que aprender são o que existe de mais simples. Na condição que eles têm, normalmente as crianças apresentam as mesmas dificuldades na condição motora, seja na movimentação de seus membros, na fala, na visão, ou em seu equilíbrio. As percepções do ambiente, como as sensações de espaço, as texturas, a sensibilidade e o entorno sensorial também são fragilizados.

De uma forma geral as crianças com paralisia cerebral têm que aprender a :

  • olhar, observar
  • seguir objetos em movimento
  • entender e se fazer entender
  • fazer que seus desejos e necessidades sejam conhecidos, demonstrar interesse
  • discriminar, gosto e não gosto, quero e não quero
  • controlar sua coordenação
  • adquirir novas técnicas
São tarefas que as crianças em seu dia-a-dia natural, aprendem de forma automática, sem que haja a necessidade de serem lembradas para executar tarefas tão simples. Mas para que o aprendizado se fixe, então é necessário que executemos as tarefas acima de forma repetitiva e rotineira.

A educação condutiva é trabalhada em grupo, com o grupo a criança aprende observando, copiando, compartilhando. Todo o programa é feito da mesma forma para todo o grupo, mas cada criança executa da forma que consegue.


Ao escrever parece difícil entender, mas imaginamos um grupo numa sala de ginástica, de yoga, de pintura. Todos executam a mesma atividade, mas cada um faz de seu jeito, um estende o braço por completo, outro já não tem o mesmo alongamento e outro não pinta com a mesma pressão e definição. O grupo faz a mesma ação, mas cada indivíduo executa de forma particular e independente.

Segundo Mari Hari, para estar integrado ao grupo se sugere uma adaptação em torno de dois a três meses, com visitas de seis a sete dias por semana. O programa desenvolvido para o grupo deve ser planejado e executado como uma receita de bolo, cada passo e ação é importante para o êxito do todo. Os exercícios a serem realizados, a forma como é conduzido, a atenção necessária para que se prenda o interesse. A seguir, de forma geral, o programa de Hari :

Seção de introdução: criar uma ambientação e atmosfera que dê prazer as crianças. Fazer com que o sentimento do trabalho seja visto como diversão.Estar preparado para usar as 'ferramentas' e facilidades que auxiliem o trabalho.Estabelecer um objetivo claro e facilmente compreensível. A criança tem que entender o completo sentimento da tarefa até que ela aja de forma voluntária e ativa.

A rotina, o trabalho e o programa desenvolvido, planejado pelo condutor, permite que a criança esteja apta para absorver seus progressos. Definindo objetivos como sentar, andar, escrever, comer ou qualquer outra forma de autonomia, através de tarefas simples leva ela a tornar-se útil não só para si mesma, mas para a vida em comunidade.

Nível de comprometimento e o grupo


Letícia, tenho uma dúvida em relação à Educação Condutiva que a seguinte: será que ela não é realmente útil para as crianças com paralisia cerebral leve ou moderada? Que para as crianças mais comprometidas não é tão eficaz assim? Cristiana

Cristiana, sabes que ao meu ver é difícil falar em 'nível de comprometimento', afinal cada um tem uma dificuldade em algo diferente que não consigo enquadrar esta qualificação de 'leve, moderado e grave' que a medicina nos coloca. Eu tenho visto a educação condutiva de uma forma mais ampla e vem me trazendo e mostrando uns resultados muito bons, nao só de nível motor, mas também de auto-confiança, realidade, vontade.

Não sei se por 'mais comprometidas' estais ainda falando de paralisia cerebral ou de outras síndromes. De todas as formas eu diria que a educação condutiva atende todas essas variedades tratando-se de desenvolvimento motor. Em relação as crianças com alguma dificuldade mental, eles não pontuam, nunca foi escrito nada, e nunca declaram a impossibilidade para ninguém. Mas encontrei em minhas leituras uma descrição de Bela Biszku, uma aluna de Peto :
'Eles nunca me falaram isso mas não aceitavam crianças com dificuldade mental, pois quando a comunicação é impossibilitada a criança não vem a atingir seus resultados.'

Descrevo a minha experiência aqui na escola das crianças e que inclui uma 'variedade' de dificuldades em cada criança. Me arrisco a dizer que normalmente as crianças com o cognitivo preservado, independente de sua condição motora, o método seria então mais eficaz. Na sala dos meninos têm crianças sem absolutamente nenhum controle de cabeça, tronco, membros; mas mesmo nesta condição eles mostravam que sabiam as cores, os números e outras coisas simples que temos condições de avaliar.

Em minha opinião estas crianças podem muito mais, nós é que não conhecemos as 'técnicas' para conseguir uma comunicação com elas. Podem inclusive compreender as ordens solicitadas.

Eu não vejo a educação condutiva para 'poucos', mas com certeza ela será muito mais produtiva naquelas crianças que entendam as ordens solicitadas. Para nós que falamos português, o próprio inglês também é uma barreira, justamente pelo fato da ordem não ser compreendida como um todo. Aí vem a importância do grupo.


O grupo trabalha junto, então se aprende realmente com o grupo, independente de sua condição 'leve, moderada, grave'. A formação deste grupo para a salinha de trabalho é muito importante para as crianças envolvidas. Para meus filhos é otimo, porque além do idioma e de todas as suas dificuldades, eles vêem no grupo muita gente para se inspirar e aprender.

No entanto, para cada criança deve ser desenvolvida sua própria técnica, apropriada para ela, que tente solucionar as suas dificuldades. O condutor é o guia para suas atividades, é ele que orienta e muda os objetivos quando percebe o 'amadurecimento' e êxito naqueles já alcançados.


Sunday, September 24, 2006

The tiny caterpillar


Tem uma música infantil aqui na Inglaterra, não sei se a origem é inglesa, mas é um amor! Ela representa pra mim muito esta mudança que a vida nos oferece, vivendo o presente, imaginando o futuro. Talvez num país tropical como o Brasil, nós não tenhamos tempo (ou seria sensibilidade) para reparar a força que a natureza tem.

Vou deixar a música em inglês e traduzo abaixo:

The Tiny Caterpillar

There’s a tiny caterpillar on a leaf (WIGGLE WIGGLE)
There’s a tiny caterpillar on a leaf (WIGGLE WIGGLE)
There’s a tiny caterpillar, there’s a tiny caterpillar, A tiny caterpillar on a leaf (WIGGLE WIGGLE).
He will eat the leaves around him till he’s full (MUNCH MUNCH)
He will eat the leaves around him till he’s full (MUNCH MUNCH)
He will eat the leaves around him, eat the leaves around him, Eat the leaves around him till he’s full (MUNCH MUNCH).
A cocoon is what he’s spinning for his home (SPIN SPIN)
A cocoon is what he’s spinning for his home (SPIN SPIN)
A cocoon is what he’s spinning, cocoon is what he’s spinning, A cocoon is what he’s spinning for his home (SPIN SPIN).
He will be a butterfly and fly away (FLAP FLAP)
He will be a butterfly and fly away (FLAP FLAP)
He will be a butterfly, be a butterfly, Be a butterfly and fly away (FLAP FLAP)


A pequenina Lagarta

Tem uma pequena lagarta na folhinha (wiggle, wiggle : é o barulho dela se movendo sobre a folha)
Ela vai comer as folhas a sua volta até estar satisfeita (munch, munch : é o barulho dela comendo a folhinha)
Um casulo é o que ela está fazendo pra ser sua casa (spin spin : é o barulho dela girando pra fazer o casulo)
Ela será uma borboleta e irá voar longe, longe (flap flap: barulho da borboleta voando longe)


-- vou tentar colocar a música aqui, tenho que achar!

Friday, September 22, 2006

O futuro quem sabe

O futuro quem sabe ?

Enquanto liamos a revistinha, resolvemos fazer as atividades, era pintar, recortar e colar, uma bolsinha de dinheiro do Tweenies. Então nos sentamos na mesinha de trabalho, umas destas que tem em escolinha infantil, sem nenhuma adaptação. Um de meus filhos está aprendendo a sentar-se nela, seu equilíbrio ainda é frágil, mas está com o tronco bastante firme. Escolhemos as cores: purple, pink, red and blue. Em um momento de descuido, um segundo que foi, ele caiu. Não se machucou, mas se assustou. Chorou, e logo passou.

Percebo que assim também acontece comigo. Não procuro mudanças, mas elas se apresentam e são energias boas e coincidências de coisas que me fazem pensar diferente, buscar uma nova situação, um novo momento. Aquele momento parece mágico, revitalizador, sonhador. E sofro em decidir, em experimentar, no medo de errar, digo que até me enfraqueço se não me equilibro. E acontece que também caio da cadeira, não me machuco, mas me assusto.

Ao dormir, fomos todos pro quarto contar histórias e cantar músicas. Cada um escolhe um tema, e já cada um quer a sua história, a sua música, o seu carinho. Que bom que tem colo pra todos, amor de montão. Antes de dormir, ele me diz:
- Mãe tô triste hoje.
- Porquê filho ?
- Por que eu caí.

Sei que tem um discurso muito lindo que sem cair não se aprende, de que é bom ter caído porquê mostra que já está numa fase que tem a condição de cair, que ninguém aprende sem errar, que é lindo aprender com seus erros, que é bom refletir sobre o seu dia e clarear sua mente antes de dormir, e mais e mais.

Esse sentimento acaba comigo, esse de não ser verdadeira, de não querer magoar por não dizer que não sei nada desse futuro, de não saber o incerto. Quero dizer que eles caem, mas vão sentar sem cair. Quero dizer que eles não estão em pé, mas que logo estarão. Quero dizer a eles que eles vão andar. Mas não posso. Quero, mas não posso. (Tantas coisas que quero mas não posso!)

E assim passa o meu susto, renovo aquela energia, aprendo com o que vivi. Fico só na expectativa do que mais a vida pode me dar. Sei que o 'menos bom' já passou, daqui pra frente só alegrias com os sucessos dos pequenos né...

O futuro quem sabe ?


Monday, September 18, 2006

Um pouco da cronologia


Andras Peto trabalhou em vários hospitais e em diversas áreas, neurologia, psiquiatria, tuberculose, psicoterapia, bioquímica, ortopedia.
Em 1938 ele retornou a Budapeste.
A partir de 1945 ele lecionava a 'Terapia do Movimento' (primeiro nome dado por ele a Educação Condutiva) numa escola de segundo grau com especialidade em educação especial. Nesta mesma época atendia um grupo de 13 crianças em suas casas. Depois de dois anos estas crianças foram avaliadas por um grupo de pediatras que descrevam como excepcional o desenvolvimento que obtiveram.
Em 1952 foi criado na Hungria a instituição de estado que permitia auxiliar financeiramente entidades sociais. Era parte do Ministério da Saúde.
A partir de 1960 Peto inicia 'oficialmente' os atendimentos com Educação Condutiva.
Em 1963 saiu um decreto que as pessoas com o sistema nervoso lesado poderiam receber atendimento. (imagine só!) Nesta época a Educação Condutiva era 'tratada' dentro do sistema de saúde, mas depois disso passou a ser visto como parte do sistema educacional.
Em 1965 foi iniciado o treinamento para condutores.
Apenas em 1985 foi criado o Instituto Peto.
Em 1984 Andrew Sutton inicia sua pesquisa sobre Educação Condutiva na Hungria e em 1986 publica seu primeiro livro no assunto.
Em 1986 a BBC faz um documentário sobre uma família de ingleses que leva seu filho para ser atendido no Instituto Peto na Hungria, 'standing up for Joe'.
Em 1987 a Fundação de Educação Condutiva é constituída em Birmingham.
A partir desta data vários centros no mundo iniciaram seus institutos e fundações seguindo a Educação Condutiva, entre eles, Israel, Austrália, Nova Zelândia, Áustria, Bélgica, Alemanha, República da Irlanda e Estados Unidos.
Atualmente novos centros foram criados, entre eles Noruega, Suécia, Hong Kong, Japão, México, Kuwait.

Relatos...


Ele (Peto) desenvolveu um sistema onde os músculos próximos aos nervos flácidos são estimulados e então estes induzem os nervos e músculos atrofiados a funcionarem em uma melhor condição. Ele desenvolveu uma série de exercícios para isto, e existe agora quase que uma nova literatura corporal neste assunto. - Bela Biszku-


Eu não me lembro de qualquer menção a uma sequer operação. Ele (Peto) era usualmente contra qualquer tipo de cirurgia, ele tentava resolver tudo de forma condutiva. -Lászlo Horváth-


Até onde eu sei o Instituto (Peto) se especializou mais tarde no tratamento de pacientes com acidentes cerebrais causados durante o nascimento, e outras dificuldades foram deixadas a parte para o tratamento. Quando uma pessoa portadora de deficiência tem um grupo de células sendo danificadas, um outro grupo de células pode aprender ou pode ser ensinada de forma que venha a substituir aquela função. E era assim que ele (Peto) estava habilitado para atingir tais resultados tão espetaculares com seus casos de hemorragias cerebrais causados durante o nascimento. -Dr. Katalin Hidvégi-


Ele (Peto) era uma pessoa de mente muito aberta, e estava sempre experimentando novas soluções; sempre pronto para refinar seu método. - Dr. Julia Dévai -


Em 1966 a Encyklopadisches Worterbuch der Sonderpadagogkik, escrito por KLEIN, comparou a Educação Condutiva com o método Bobath. E foi a partir destes estudos que o método de Andras Peto teve os olhos voltados para ele e chamou atenção do público internacional.


Berta (e Karel) Bobath estudou hemiplegia junto com Andras Peto, eles chegaram a fazer outros cursos juntos. Ela dava palestras em vários congressos tanto na Europa como América descrevendo vários métodos; entre eles Kobat, Roos, Deaver, Phelps, Doman. E foi depois de conhecer Peto que começou também a inserir a Educação Condutiva em suas palestras.


Visitaram o Instituto de Peto, Piaget e Luria.


Os resultados tinham que ser alcançados, nós não podíamos usar a falta de habilidade das crianças como uma desculpa. Não havia espaço para exceções. Todos os julgamentos e comentários negativos; e até mesmo os pensamentos negativos!, deviam ser evitados. -Mári Hári.

There is no bad children, only poor conductors. - Andras Peto- (vale a pena repetir!)


Saturday, September 16, 2006

Eu acredito, eu faço!


Uma vez aprendi em algum lugar, talvez com Paulo Coelho, que aquilo que conseguimos imaginar é porquê é possível de realizar. Me lembro quando li isso, estava indo visitar uns amigos quando parei e ali mesmo comecei a imaginar. É verdade, percebi que tinha algumas coisas que eu desejava e conseguia visualizar com muita nitidez, clareza, uma visão limpa. Outras tentava criar uma cena e nada combinava com nada, na verdade estava usando minha imaginação para criar uma cena muito difícil de acontecer.
Desde aquele dia uso este recurso como um auxílio para meus sonhos, pensamentos e realizações. Tudo aquilo que é fácil imaginar, fico feliz que será fácil de acontecer. Aquilo que não consigo construir em minha mente, percebo que fica muito difícil de acontecer. Existem coisas que tento forçar, tento contruir, imaginar, montar. Mas é tudo tão forçado que logo a cena 'desaparece' da minha mente, não consigo mentalizar. Talvez não tenha chegado o momento certo para saborear com o sabor que merece.

E acrecento que este tipo de pensamento é tão natural que vejo isto nos meus filhos de 4 anos. Até porquê, acho que temos tanto valor quando criança que acabamos esquecendo do precioso aprendizado que recebemos, e que destruimos com as impurezas da vida adulta.
Meu filho acredita que pode realizar tarefas que ele fisicamente não tem condições de realizar
.

Mas ele acredita que pode! Quem sou eu para podá-lo e para dizer que ele não tem condições... Ele mesmo acredita na força dele, na sua boa vontade e na facilidade de conseguir imaginar as suas realizações.

Muitas vezes em nossas vidas acreditamos que não podemos, acreditamos na nossa fraqueza, desprezamos o nosso poder de mudança e nossa sabedoria que temos em tentar. Fui, vi e falhei. O que que tem. Fui, vi e venci! Porquê não!
Olha que diferença, ele acredita que pode, sem poder. Eu acredito que não posso, e quantas ferramentas eu tenho!
Por isso eu acredito, eu imagino, eu mentalizo, eu faço!

Tuesday, September 12, 2006

Muito a frente de seu tempo


O método do Peto é precursor da contemporânea, não-médica, higiene mental positiva de Gordon. Ele coloca a saúde e doença em uma diferente visão e atende os problemas com uma atitude holística e bio-psicológica. Não existe um pensamento 'fechado', tratam pacientes como clientes, usam uma análise de processo dinâmico em vez de uma visão casual. Ao invés de terapia e cura, se faz educação e aprendizado contínuo.
A essência de seu método se baseia em exercícios físicos com funcionamento mental - executar cada ação, com uma ordem, dita de forma repetitiva e sonora. Os movimentos são sempre cantados, colocados em um enredo, fazendo a criança lembrar de uma música conhecida e executar o movimento. O mesmo ocorre quando ela escuta a tal música, fora do seu ambiente de escola, ela lembra da função a executar.
A essência deste método é que o aprendizado cresce com a eficiência do cérebro humano. O mais lindo de tudo isso é que András Peto desenvolveu isto na prática, chamou profissionais para julgar e avaliar seu desempenho (que profissional está acostumado a fazer isto, a ser pôr em prova ?) e tentou ensinar, formar profissionais para seguir seu método. E seu sucesso se deu em executar uma aplicação médica ao elemento humano de forma biológica e etológica (o estudo do comportamento do ser humano e sua organização social a partir de uma perspectiva biológica), ainda pouco comentada e ainda menos aceita, nos dias de hoje.

Crianças ditas 'inválidas' dão trabalho aos governos, que tentam incluí-las no ensino comum como se a adaptação fosse simples, chegar numa escola com escadas, portas estreitas, profissionais despreparados, sociedade mal informada.
A Educação Condutiva é a extensão de uma solução para tais problemas trazendo a informação de que estas crianças com paralisia cerebral, ditas 'incuráveis', adultos com derrames, idosos com Parkinson podem ser integrados no dia-a-dia. Peto oferece a oportunidade e dá a responsabilidade para que a comunidade possa visualisar estas pessoas como seres ativos, desde que ensinados de forma apropriada.

Peto era uma pessoa a frente de seu tempo.

Peto era uma pessoa absolutamente positiva e fazia com que todos os seus alunos se encaixassem na vida, de forma independente. Mesmo que ele não conseguisse atingir 100% de seu objetivo, ele ensinava todos a falar, comer e andar - em condições de viver como seres humanos. E ele não duvidava disso nem por um momento, ele sempre encontrava alguma positividade em cada um de seus alunos e fazia seus condutores pensarem com êxito.

O exemplo de Peto fez com que muitas pessoas quisessem dar continuidade a seu método, continuar executando as tarefas de forma exitosa como ele conduziu seu Instituto durante sua vida.
Posso dizer que em mim também foi despertado este desejo de dar continuidade, de mostrar, de dar a oportunidade para que outros tenham a chance de conhecer, testar e comentar sobre Educação Condutiva. E acho até engraçado que tenha me fascinado tanto, uma vez que comento com outras mães sobre o método, sua história e vejo que elas se apaixonam mesmo assim, sem conhecer em teoria, mas admirando os resultados observando 'apenas' o desempenho de seus filhos.

*alguns dos descritos deste Post foram citados por Dr. Miklós Kun, Prof. Pál Gegesi Kiss, Dr. Károly Ákos.

Rotina e independência


Existem atividades que fazemos de forma tão inconsciente e rotineira que acreditamos que não se precisa pensar pra executar. Mas a vida é tão linda que nosso cérebro vai somando cada ação, cada dia e vamos 'nos' construindo sem mesmo perceber.
Ao observar um bebê, vemos que seu primeiro movimento voluntário é levar a mão a boca, tarefa simples e tão complexa. Ali o bebê experimenta o mundo, as sensações, os sabores, o prazer. Com a mão ele experimenta o áspero, o suave, a areia, a espuma. Com a mão ele come a primeira bolachinha, e prova o doce, o salgado, a sujeira.
Meus filhos não tiveram essa chance. A eles temos que ensinar as tarefas mais básicas, com ordens simples.
A mais simples que me lembro, e diria que até hoje se atrapanham, é a coordenação do mastigar, engulir, respirar. Parece simples ? Pois temos que pensar para fazer e cabe a nós, pais, ensiná-los a fazer. Com ordens simples, diárias e rotineiras. Mastiga, engole, respira! Respirar, tão fácil parece, mas se eu paro para 'pensar' na minha respiração já me atrapalho! E me lembro das minhas aulas de pranayama, que sufoco.
O movimento olho-mão é outra ação que faz parte do aprendizado. Olhar o que eu faço, aprender com a reação daquela ação. Ver um pássaro partir de um ponto ao outro. Que rápido esse passarinho! E temos que ensinar, olha lá, lá estava o passarinho, pra onde ele foi ?
As tarefas da rotina diária é que nos fazem independentes. O que fazemos por nós mesmos : escovamos os dentes, penteamos o cabelo, nosso banho e higiene, comer. Não é tudo, mas é quase tudo. Se estas tarefas diárias forem executadas sozinhas, que independência!
Aqui abro um parentêsis para a palavra 'sozinho'. Em inglês traduzimos alone para sozinho, mas dizemos by myself para executamos uma tarefa por mim mesmo. Quando digo pros meus filhos que eles devem pensar em fazer suas coisas sozinhos, eles não querem! Mas quando digo, mas tu que vais fazer, tu mesmo, eu vou só te observar! Então muda o sentido, não é estar só, mas fazer por si só.
E estou sempre me corrigindo nas nossas atividades diárias. Chegar em casa e caminhar até a mesa do almoço, lavar as mãos e rosto após a comida, escovar os dentes, pegar o lápis pra desenhar. Mesmo que depois da primeira ação, as outras venham com alguma ajuda, já valeu, é um começo pra esta independência.
Outro dia estava fazendo meu filho dormir e ele me perguntou:
Mãe, quando é que eu vou ficar grande ?

Não me contive nas lágrimas, eu sou sempre muito verdadeira em todas as minhas respostas e sempre explico tudo a eles como explico a um adulto. Só que esta pergunta eu não sei responder... Uma vez que 'ficar grande', significa ficar em pé, andar, jogar bola, ser independente.
Uma amiga me disse que nós não vemos os progressos de nossos filhos porquê nós sempre queremos mais. As vezes nem acreditamos nas pessoas, não parece, porque nós estamos sempre esperando por mais e mais, vivemos imaginando o futuro, as vezes esquecendo do presente.
Mas é no presente que estamos aprendendo e somando. Cada dia, a cada ação.

E isto a Educação Condutiva nos ensina: executar tarefas diárias, simples, de forma rotineira.

A Educação Condutiva objetiva ajudar as crianças a desenvolver a sua auto-confiança e motivação, levando a uma vida mais independente.

Friday, September 08, 2006

mais sobre András Peto, seus estudos, sua vida


Peto começou seu trabalho usando seu método com crianças ditas 'incuráveis'. O momento era de pós-guerra, não existiam boas condições de moradia, alimentação e aspectos sanitários para os mais ricos, imagine para aqueles na condição de 'improdutivos'. Ele recebeu estas crianças que já 'ninguém mais queria' , mas não deixou por menos, chamou uma banca e fez com que profissionais do ramo fizessem uma avaliação. Um ano depois voltou a chamar a mesma banca. A banca descreveu que as crianças avaliadas tiveram uma melhora significativa, inesperada.

Um ano depois, as vezes parece pouco, as vezes parece muito. O método precisa de um longo tempo para mostrar resultados. Toda reabilitação é um processo lento.

Em 1954, tinham mais de 80 pacientes no Instituto. A rotina era quase militar, existem vários escritos descrevendo a rotina desde o se levantar até o se deitar. Todos os minutos 'controlados' e sempre com 'exercícios' coordenados, pensados, funcionais. - Eu levanto meu braço direito lá em cima, 1, 2, 3, 4, 5. Eu levanto meu braço esquerdo lá em cima, 1, 2, 3, 4, 5. Eu levanto meu braço direito lá embaixo, 1, 2, 3, 4, 5. Eu levanto meu braço esquerdo lá embaixo, 1, 2, 3, 4, 5.

Peto era uma pessoa super durona, não perdoava falhas. Um dia não gostou da comida do almoço, mandou chamar o cozinheiro e o despediu no mesmo momento. - Minhas crianças não podem comer este lixo! Ele queria resolver, mas não se preocupava que não teria ninguém pra fazer a janta. Ainda bem que tinha alguém do seu lado, sempre, era ela Mari Hari.

Mari Hari foi quem mais deixou escritos sobre a Educação Condutiva de Peto. Ela que passou a disseminar a ideia do método para outros países e continuou a frente do Instituto como uma embaixatriz. Faleceu em 2003 (confirmar esta data).


Ele é mais do que um médico. Ele é um mágico, um profeta, um fazedor de milagres: disse um de seus alunos.

Peto tinha interesse em várias ciências, em filosofia e na física e matemática contemporânea. Ele tinha um vasto conhecimento em literatura. Lhe interessava tudo que fosse relacionado com a saúde, corpo, auto-conhecimento e auto-cura. Alguns o chamavam de charlatão, mas ele não ligava, ele era um sábio. Ele era uma pessoa a frente do seu tempo, não era pra menos, o tanto que ele lia! Ele era uma das poucas pessoas na Hungria, entre tantas autoridades, que recebia jornais de diversos países e lia em mais de um idioma. Era convidado para ir a congressos fora de seu país, para escrever artigos em revistas especializadas, para dar aulas em universidades.

Peto trabalhou com a psicologia Gestalt durante seu tempo que cursava a universidade em Vienna. Depois passou um tempo em Paris. Se interessou também por acupuntura, o trabalho de Rudolf Steiner, reencarnação, budismo, judaismo, cristianismo. Ele queria era formar a estrutura de seu método, buscando a integração do ser como corpo físico, social-emocional e cognitivo. O desenvolvimento não necessariamente se dará no corpo físico, mas pode ser no lado social e então interferir no desempenho cognitivo. Ou pode se dar no lado físico e então influenciar o lado emocional.

A conexão entre estes três pontos faz com que o desenvolvimento no indivíduo não seja percebido diretamente, mas acontece de forma natural.



*alguns dos descritos citados neste post foram compilados por Judit Forrai, 1999, em Memoirs of the Beginnings os Conductive Pedagogy and András Peto.

Ilona e Hari : condutoras


Peto dizia:
Não existem crianças ruins (de trabalhar), existem sim condutores ruins !
'There is no bad children, only poor conductors.'
Peto estava trabalhando em um prédio antigo, semi destruído pela guerra e estava atendendo algumas crianças quando recebeu a visita de um engenheiro que estava oferecendo seu serviço para arrumar os encanamentos e principlamente a calefação. Ao olhar pela janela viu que ele estava acompanhado de sua família, esposa e filha, e as convidou para entrar. Ela se chamava Ilona. Ficou um pouco receosa já que não estava querendo interferir no trabalho de seu marido. Entrou e foi convidada para tomar uma bebida quente, fazia frio lá fora. Quando percebeu que Peto observava sua filha: - Ela está doente e precisa de cuidados. Porque vocês não ficam alguns dias até que ela melhore. Sim ela estava mesmo doentinha e Peto como médico aliviou sua otite e amidalite. Ilona não tinha como agradecer e ofereceu seus serviços para que pudesse servir como 'pagamento'. Ele perguntou o que ela sabia fazer, mas ela disse que não poderia ajudar com as crianças. Então sugeriu que Ilona acompanhasse as sessões de atendimento e auxiliasse os professores quando as crianças precisassem fazer suas idas ao banheiro. Um dia estava com uma criança no banheiro quando ela começou a babar, e ela imediatamente pegou um lencinho e foi limpar. No mesmo momento foi chamada: - Nunca mais seque a boca desta criança! Dê a ela um lenço, para que ela mesma o faça.
E foi assim, sem perceber, que ela foi aprendendo a forma de conduzir as crianças. Ilona Székely, a primeira condutora dizia que tinham que ajudar como se não estivessem ajudando.

Mari Hari trabalhou lado a lado de Peto. Aprendeu com ele e herdou dele o carinho pela Educação Condutiva. Mas não foi assim no início, ela começou a trabalhar com ele, mas escutou tantas coisas ruins, sobre ele, sobre seu método, sobre a forma de lidar com as crianças, que ela acabou saindo do Instituto. Neste momento muitas pessoas estavam querendo destruir o aprendizado e ensinamento que Peto fazia, o chamavam de charlatão. Dez meses depois ela voltou ao Instituto e nunca mais saiu do lado dele. Os mais nobres escritos sobre Educação Condutiva são assinados por ela. Ela estava ao lado de Peto quando ele faleceu, e coube a ela a responsabilidade de administrar o Instituto Peto, de continuar os passos dos planos de Peto ainda não terminados, além de lutar constantemente com as pessoas que ainda não tinham entendido o sentido da Educação Condutiva.


Como muito bem adicionou Lillemor em seu discurso citando Willian Blake:

' O que está sendo provado nos dias de hoje, foi um dia apenas imaginado, e agora é sua a tarefa de fazer o imaginado acontecer.'



paralisia cerebral, vc reconhece ?


Eu estava ali para conhecer o diretor, imaginei muitas vezes essa cena, em como cumprimentá-lo, como falar com ele, me apresentar. Só que minutos antes de eu chegar recebo um telefonema me avisando de uma meia hora de atraso, e não se preocupar com as brincadeiras dele, gesticula bastante apesar de sua dificuldade em falar, dada a paralisia cerebral.
Paralisia cerebral ? Aquilo ecoou como um martelo, minha cabeça não parou mais, e agora tudo que eu havia 'ensaiado' não servia mais, não conseguia imaginar como seria o encontro, a pessoa estaria deitada, numa cadeira, com os braços atados, será que ela poderia falar. Será que o encontro é num lugar especial ? Minha ansiedade era ainda maior.
Cheguei no local, era um bar. Fiquei surpresa, parecia um lugar de balada e com gente bonita nas ruas, conversando e sorrindo. Muitos detalhes passaram pela minha cabeça o ambiente não era o que eu esperava. Parei por algum momento e fiquei observando as pessoas do lugar, meus olhos escaneavam o lugar avaliando cada pessoa, as pernas, os braços, os olhos, eu buscava nelas alguma diferença. Não via nada que me chamasse atenção.
Meus olhos pararam em um homem, que estava no lugar mais escuro do bar. Via que ele tinha uma certa dificuldade de sentar, como se ele não coubesse no banco, 'escorregava' para os lados e voltava a sentar no banco. Vi que ele falava, mas percebi que babava ao falar. Gesticulava bastante, os braços abriam e fechavam, como se contasse uma história muito interessante. Devia ser ele! Me aproximei e vi que ele não falava com ninguém, 'discursava' sozinho. Ele nem me viu. Será que estava 'ensaiando' como eu. Logo ele saiu de onde estava e com muita dificuldade foi ao banheiro, ele se segurava nas paredes e ia se apoiando nos bancos pelo caminho. Fui até o lugar que ficou vago, só poderia ser ele. Não percebi quando ele voltou, já estava ao meu lado. Vi que seus olhos estavam vermelhos e semi-cerrados, suava. Passaram muitas coisas no meu pensamento e, resolvi desistir de tudo, não tinha condições de conversar com uma pessoa com aquele deficiência. talvez eu começasse a chorar, ou não saberia nem mais o que falar. Ele, com toda aquela dificuldade voltou a sentar-se e continuou a fazer o que fazia.
Na porta de saída fui abordada por um homem alto, loiro, elegante e como eu saía assustada quase nem o percebi, ele era bonito e com uma voz rouca perguntou se eu esperava alguém. Era ele, o diretor. Ele usava uma bengala.
O bêbado continuou seu 'discurso'.
Era um bêbado.

Thursday, September 07, 2006

András Peto, o poeta


András Peto (1893-1967)
Peto nao sabia bem como 'entitular' a técnica que ele aplicava de forma metódica e rotineira em seus pacientes de polio, primeiramente chamou de educação do movimento (...) , depois entitulou Pedagogia Condutiva (Conductive Pedagogy) e então passou a chamá-la de Educação Condutiva (Conductive Education).
Gosto de ressaltar que em português a palavra 'condutiva' não expressa o real significado dela em inglês. Em português entendemos que 'alguém conduz alguém' de forma passiva, mas em inglês 'conductor' significa 'maestro' (de uma orquestra) e 'conductive' seria ainda maestrar, orientar de forma sábia, porém de forma ativa.
Dúvidas ainda tenho, eu talvez, hoje, chamaria de Educação Orientada, para que tivesse seu significado ainda mais próximo do seu real sentido. Mas também imagino que em húngaro, tenha ainda uma nova 'sensível' diferença.
O condutor, ele formado depois de 4 anos, misturando algumas das profissões que conhecemos, sabiamente orienta as crianças como o maestro da orquestra, executando a liderença.

A Pedagogia Condutiva não se trata de uma terapia de cura para uma função específica, mas sim está relacionada com o desenvolvimento de um potencial para funções coordenadas.
Usar a palavra terapia também não entendo de forma correta. Afinal, conhecemos terapia como um atendimento, normalmente realizado de forma individual, onde se trata um 'problema' pontual. A sala da educação condutiva é um grupo, onde um aprende com o outro, lado a lado, observando, imitando, aprendendo. - Eu vejo como ele faz e quero fazer igual. Assim é na escola da vida, minha filha de um ano derruba todos os dvds da prateleira, e meus filhos de três querem fazer igual. Ela desperta o interesse neles, o que, na minha opinião já começam novas conexões cerebrais que permitam o fazer.
Ter vontade, querer fazer, imaginar que eu posso e até acreditar que eu vou fazer, já faz parte do fazer.
A Pedagogia Condutiva é um método que não trata separadamente os músculos ou os membros, mas transforma funções corticais em eventos.
As idéias de desenvolvimento de habilidades vêm de outros estudiosos, Edouard Seguin (1812-1880) citava que o desenvolvimento das capacidades e o poder fazer é muito importante no estabelecimento do 'método de aprendizado fisiológico'. Ele pontua os seguintes itens:
  1. a educação de forma consciente deve ser iniciada o mais cedo possível, antes da idade escolar
  2. é essencial que o ensino seja variado e rítmico, voltado para as necessidades do indivíduo
  3. não deve ser orientado a resultados e sim trabalhar com que a atividade - ela mesma - se torne o objetivo
  4. não existem casos sem esperança, pois as habilidades intelectuais para qualquer pessoa com alguma deficiência pode ser desenvolvida

Estas percepções formam a base do método de András Peto.

Birmingham


Então decidimos conhecer o National Institute of Conductive Education, em Birmingham - a segunda maior cidade da Inglaterra.
E qual foi nossa surpresa quando já na primeira semana as crianças gostaram e se adaptaram. A escola tem um excelente grupo de condutores, uma estrutura pedagógica que faz as crianças adorarem estar lá e claro um impressionante conhecimento das necessidades de cada criança.

Cada vez percebemos que nossos filhos precisam da educação condutiva nas suas vidas, assim como cada um de nós escolhe sua ginástica, seu curso de línguas, seu yoga, seu trabalho. Neste momento eles precisam desta continuidade e por isso estou começando este blogg, para que outras pessoas tenham acesso a educação Condutiva em português.
Muito conteúdo pode ser encontrado em húngaro e em inglês. Vamos ver o que consigo produzir...

Educação Condutiva é um método revolucionário que supera as dificuldades causadas pelas condição neurológica existente.Alguns aspectos a considerar :

  • Dá-se um importante crédito ao potencial humano
  • Tem uma visão holística
  • Usa a motivação para criar a intenção
  • Dá ênfase no aprendizado de longo tempo
  • Está familiarizado com a condição existente e seu efeitos

E.C. - uma introdução - Teoria, Peto e Positive Vibration


Teoria

Iniciamos relatando a Educação Condutiva com uma percepção teórica e muito embasada. Ela trata e reconhece a unidade essencial do ser humano conectando o seu eu emocional, intelectual, mental e corpóreo de forma integrada. Este método tem muito em comum com a psicologia de desenvolvimento aplicada por L. S. Vygotskii e o desenvolvimento de psicologias pedagógicas dos seus sucessores na antiga União Soviética. Ele também tem uma orientação em comum com a neuropsicologia de A. R. Luriya e une as explicações das ciências contemporâneas quando tratam do assunto cérebro, como a plasticidade neuronal.

Peto

A Hungria nos faz lembrar um país distante e chega a nos passar a errônea impressão de ser incapaz de criar um novo método de aprendizado para o ser humano. Foi lá que nasceu Andras Peto. Ele era um jovem antenado no mundo e nomomento que vivia seu país, estava se dirigindo para Vienna (Austria) cursar a sua faculdade de Artes Plásticas. O momento de guerra não era propício para este tema, então ele decidiu cursar medicina.
Mesmo com seus estudos, o intelectual que escrevia poesias, peças de teatro, e estudava a literatura, era o médico que se dedicava a pedagogia do movimento. Ele foi amigo de uma turma de precursores de novas idéias, intelectuais de diversas localidades estavam em busca de provações de novos conceitos.
Depois de ter seu método já implantado, e criar seu próprio Instituto Andras Peto, recebeu convidados que ouviam falar do comentado método 'milagroso' de Dr. Peto. E ele que passava o dia atrás de uma pilha de livros, lia em vários idiomas, recebia jornais de todo o mundo, também ciceroneava visitas como as de Piaget e Luria.

Positive Vibration

Desde que li sobre ele, o admiro, pela sua busca de saber mais, pela sua vontade de aplicar o que ele acreditava, e por fazer provar o que ele sonhava. Ele tinha todas as qualidad de um nobre, mas o que mais me impressionou saber dele, era a forma de como fazer-se PENSAR positivamente. Não permitia comentários de fracasso e administrava suas crianças com o momento que cabia, de forma militar, dura, séria e positiva. Assim ele colocava:

"Se você disser alguma coisa não verdadeira deve ter vindo da sua imaginação,
Mas se você pensar alguma coisa não verdadeira é porque vem de sua consciência culpada."

Arriba Mexico! A conocer Educación Conductiva...


E começaram as coincidências...
Comentei com meu marido no almoço sobre a possibilidade de irmos ao México conhecer esta tal de Educação Condutiva. A tarde me liga minha sogra perguntando se era mesmo sobre o assunto Educação Condutiva que eu vinha comentando nas últimas semanas. Eu disse: sim! E então ela estava na Universidade de Itajaí, reunida com algumas professoras de educação especial, que estavam indo para o México num curso de verão, aprender mais sobre ... Educação Condutiva!
Foi aí que fiz contato com o Instituto Morelos, en Jiutepec. Y..., fijate, estavan buscando niños para el curso de verano que empezaria en menos de un més.
Fui procurar no mapa, onde fica isso! Não achei, mas Jiutepec está anexado a Cuernavaca, que está a uma hora e meia de Ciudad de Mexico.
Lá conheci Margara, uma mãe maravilhosa, que como eu, se apaixonou pela Educação Condutiva. Com amor ela conseguiu reunir outras crianças e inicar o atendimento das técnicas de Peto no belíssimo quintal de sua casa, buscando benefícios não somente para sua filha, mas para aqueles que se interessassem.
O curso durou um mês, e na primeira semana tive acesso a biografia de Andras Peto, uma introdução ao Instituto na Hungria, ao êxito da Escola de Birmingham, e aos móveis, as músicas, as canções, a forma de ensinar aos meus filhos que eles podem muito, muito.
As palavras de Margara me fizeram rolar lágrimas: Ela estava me falando dela mesmo e eram as palavras que eu buscava pra mim! Era isso que eu queria ouvir de todas as terapeutas que atenderam meus filhos... que nunca me falaram nada. Mas agora eu escutava, de uma mãe, com um caso de sucesso, me dando exemplos dos ganhos de sua pequena desde que iniciou com a Educação Condutiva.
Um mês de México, recheado de chilli, tequila e escorpiões - foram o suficiente para que meus filhos tivessem um melhor desempenho de equilíbrio, movimento coordenado, atenção, auto-confiança e motivação.
Eu mesma saboreei cada momento e decidimos, sim, vamos largar tudo, vamos seguir nosso coração, vamos investir em nossos filhos AGORA.
Em vez de construir um futuro para nossos filhos, vamos permitir que eles tenham um futuro desde já.
Decidimos nos inscrever para ir a Birmingham.
A Educação Condutiva se trata de un processo de aprendizado ativo. A idéia central do sistema educativo formado por András Peto trata-se de que o problema neuromotor é um problema de aprendizagem, mais do que médico ou terapêutico. Mais especificamente, além dos danos no sistema nervoso central, a disfunção motora é causada pela falta de cooperação de diferentes funções.

A Educação Condutiva é entendida assim como um caminho indireto para a integração funcional e o aprendizado de funções coordenadas através da utilização das áreas cognitivas e de percepção. O Dr. András Peto foi um dos primeiros a considerar a incapacidade motora como um tema associado a educação e não como um problema biológico.

Então ouvi falar de Educação Condutiva!


Estava na TV uma pessoa falando de uma escola na Inglaterra que dava função aos movimentos das crianças. Também falavam em independência e auto-confiança. E cada palavra da matéria, que era sim muito vaga, somava a todos os meus pensamentos pro futuro.
Adorava todos os tratamentos que fazia, mas pensava sempre que faltava algo mais. Justamente a maturidade de querer fazer, de dar função aos membros para que se tivesse êxito no chegar lá.
Fui procurar, me informar, e na internet encontrei muita coisa. Mas cada coisa que eu lia, eu lia e não entendia! como eles fazem isso! Como !
E o que descobri foi que o método surgiu na Hungria, tinha uma boa escola na Inglaterra e várias outras em várias partes do mundo. Nenhuma na América do Sul. Uma no México.
No México! Pode ser aqui um lugar para conhecer um pouco mais sobre este método. Então eu quis saber mais e acabamos indo pra Cuernavaca.
Educação Condutiva, o que li:

Educação Condutiva, como o nome sugere tem uma visão educacional. Seu objetivo é ajudar crianças e adultos com dificuldades motoras a aprender a solucionar problemas que os permitam viver uma vida mais ativa e independente. Adicionado ainda aos ganhos de controle de movimento, pais e familiares relatam um aumento de auto-confiança, motivação e bem estar.

Começamos com as terapias - tantas!


Meus filhos nasceram prematuros, depois de uma gravidez de risco.
Eu sempre quis ser mãe de gêmeos!
E eles estavam a caminho, meus meninos que rezavam todas as noites comigo para que pudessem segurar ao máximo até garantir o dia do nascimento que permitisse as condições de vida para os dois bebês.
Ao nascer, passaram as primeiras 72 horas no mais alto risco, sempre sempre acreditamos que sairíamos do hospital com um em cada colo. Felizes da vida.
E assim foi... amamentei os dois, torci pelos dois, e com muito amor - dois meses depois saiam da UTI neonatal. Só que de lá sairam com mais um 'sobrenome' - paralisia cerebral.
Este nome 'feio' nos fez fazer terapia desde o início de suas vidas! Imagine que com um mês de vida, o que quer dizer sete meses de gestação, eles já faziam muita fisioterapia, pras pernas, pros braços, pra boca, bocheca, língua, pescoço...
Até os três anos fizemos: fisioterapia motora, fonoaudiologia, terapia ocupacional, terapia visual, hidroterapia, equoterapia, musicoterapia. Além de shantala, reike, shiatsu, yoga, rolfing. Também visitamos benzedeira, centro espírita, frei Ugolino, madre Paulina, novena.
Agora que me dou conta, quanto rodamos em três anos!
Foi quando vi na TV uma reportagem sobre Educação Condutiva.