Educação Condutiva - com amor

Quero escrever sobre Educação Condutiva porque me apaixonei por este método, cheio de amor, que tem atendido aos meus filhos com p.c. Quero descrever o que tenho estudado, aprendido, escutado e sentido ... Tenho a vontade de abraçar o mundo e fazer com que todas as crianças na mesma condição motora de meus filhos, tenham a chance de receber toda esta inteligência, técnica, forma de agir, pensar e sentir, que com todo carinho o Dr. Andras Peto deixou de herança.

Thursday, January 25, 2007

Peto na América por Bobath


Os programas de exercícios da Educação Condutiva não têm nenhuma surpresa. As 'aulas' seguem a rotina diária que vivemos em nosso dia a dia, com movimentos intuitivos e direcionados a motivação da criança em executar a atividade. Os deslocamentos como rolar, transferir peso, alongar membros, manter-se em posição de cócoras, levantar-se, são os movimentos que vemos nas clássicas sessões de Bobath.

Bobath ele mesmo manteve correspondência com o Andras Peto, e chegou a afirmar em uma palestra em junho de 1967, que o método de Peto era o único com significado, além do seu próprio. Mais tarde Berta Bobath representava em palestras pelo mundo afora o Método de Peto em conferências, principalmente na América.

O contato com os Bobath começou através de uma criança que foi referenciada por um médico inglês para ir a Hungria. Este médico, chamado Dr. Balassa, servia o Parlamento inglês e somente por esta formalidade a criança teve acesso ao método húngaro ( uma vez que até a década de 70, apenas crianças de países socialistas eram aceitos no Instituto Peto).

Esta criança conseguiu progressos significativos em apenas alguns meses, o que acabou de certa forma 'incomodando' Dr. Bobath, que tratava esta criança desde os 12 anos de idade. Em 1965, Ester Cotton, por insistência de Bobath foi até a Hungria conhecer o método de Andras Peto. E lá ela viveu por algumas semanas, dormindo e acordando dentro das salas do Instituto Peto. E acabou descrevendo e relatando em vários artigos publicados, o tempo 'perdido' de trabalho, que tinha realizado 20 anos antes de conhecer a Educação Condutiva.

Mais sobre Ester Cotton no artigo de 20 de outubro, neste blog. Ester Cotton: pioneira.



Referências deste artigo são citações do livro Conductive Education - Occasional Papers - Supplement 2, publicado em 2001 com textos de Mari Hari, em referência aos 50 anos da Educação Condutiva.

Wednesday, January 24, 2007

Intenção é metade do caminho


Na minha aula de yoga, entre uma postura e outra, minha professora conduz a aula com a frase: "Vamos seguindo, a intenção já é metade do caminho." É neste momento tão simples e singular que aprendemos quão importante (e prazerosa) é a motivação de uma ação, independente de estar apto para tal atividade.

O desenvolvimento da Educação Condutiva nos mais diversos países tem sido impulsionada pela força de vontade e o resultado percebido nas pessoas que trabalharam com ela. Encontrei pessoas que largaram a profissão, outras a família e ainda suas culturas, para ir estudar mais sobre a filosofia, a vida e a história do método de Andras Peto.

A Educação Condutiva é fascinante justamente por ser uma filosofia de vida, em que se pode aprender a ser uma pessoa melhor, não só para os portadores de alguma deficiência, mas para qualquer deficiência que tenhamos dentro de nós mesmos.

Eu ainda digo que é difícil explicar a forma como se conduz uma 'aula' de educação condutiva, pois a vivência, a experiência do dia a dia é que trarão os resultados, seja em mim, no meu filho ou no contexto em que eu vivo. Repito que não sei se sou eu que me apaixonei pela Educação Condutiva, ou se o que ela me apresentou como resultado para os meus filhos, é que me fascinou.

O primeiro vídeo criado para divulgar o método de Educação Condutiva, foi patrocinado por um cirurgião ortopedista americano. Foi no ano de 1965, e o próprio Peto comentou que 30 minutos de vídeo não seriam suficientes para mostrar todo o contexto em que se vivencia a Educação Condutiva.

E é assim que estamos iniciando: na intenção, na vontade e na esperança de formar um grupo de crianças que tenham êxito e autonomia em suas ações.


Thursday, January 18, 2007

Quase para começar: Florianópolis


Estamos iniciando o planejamento para a inserção do Projeto de Educação Condutiva em uma escola infantil em Florianópolis. Estamos motivados, e ansiosos para o começo das atividades. Nesta época do ano em que maioria do povo está em ritmo de férias, pegando praia e descansando em baixo da árvore, já cansamos da rotina e estamos aguardando o reinício.

O colégio nos espera, a sala está preparada. Em verdade, todos os móveis da Educação Condutiva podem ser levantados e ficam encostados nas paredes. A mesma sala pode ser usada para os exercícios, o lanche, os estudos, as brincadeiras, aulas de música, artesanato e até para dormir. Compartilhar o espaço com uma classe da educação infantil, será fácil!

Nossa espera é pela condutora que tem sua chegada esperada para o fim deste mês. Iniciaremos, em princípio, um grupo dentro da escola com meus dois filhos. Estaremos passando por uma fazer de mudança, adaptação, estruturação e esperamos receber muitas visitas!

Crianças, mães, pais, professores, fisioterapeutas, profissionais de educação e saúde, ou quaisquer interessados. Estão todos convidados para conhecer o nosso espaço. Queremos opinião, críticas e sugestões. Quem gostar que fique, nos auxilie, e divulgue. Quem não gostar... que não fique envergonhado e tenha coragem de voltar um dia! ;)

Tuesday, January 16, 2007

Vontade de fazer


Qualquer atividade exercida na Educação Condutiva tem o princípio de independência. O indivíduo é tratado como um ser útil e dinâmico. Não se fala de vestir alguém, alimentar alguém ou dar o banho em alguém. Fala-se em vestir-se, alimentar-se, lavar-se.

Muitas vezes estamos prontos para 'ajudar', para ir até ele e secar, esfregar, vestir. Mas muito mais importante que esta ajuda e solidariedade é deixá-lo fazer.

Meus filhos não andam, mas teimam em andar! Querem que os levemos por todos os lados. Nós seguramos eles pelo tronco e eles dão os passos voluntariamente. Pouco a pouco percebemos que nosso esforço não é segurá-los, mas dar equilíbrio para que eles sigam o destino e a ordem do dia : Mãe, hoje queremos ver todos os tapetes da casa!

Tenho consciência de que eles não estão caminhando, e que seus pés, ou joelhos, ou quadris, não estejam bem posicionados; mas eles estão podendo deslocar-se de acordo com a vontade deles, indo aos lugares de interesse deles e viver uma experiência nova. Cada novo tapete é um nova conexão cerebral, é uma curiosidade que é sanada e uma nova atividade é despertada.

Hoje a ordem do dia é : Mãe quero subir escadas! Ele não tinha força e nem 'maturidade' para levantar o pé a cada degrau. Agora aprendeu, que tem que fazer um esforço diferente. E eu não os deixo parar, vamos lá. Tem que subir e subir, sem cansar.

Os exercícios para a independência estão aqui, em volta da gente. A escada pra subir, a rampa pra fortalecer, a areia da praia para sensorizar. A farinha de trigo para amassar, o sagú para esfregar, a gelatina para experimentar. Vamos trabalhar a vontade de fazer, enquanto eles não têm como realizar. A mente deles tem que estar forte e preparada para o momento que o corpo acordar!

Amém.

Relatório de especialistas


Este único artigo escrito por Peto descreve o início da forma de trabalho com Educação Condutiva. O momento era de pós-guerra, na década de 50, ao ler o texto, parece algo totalmente novo. Naquela época a reputação do Instituto e a forma de trabalho que Andras Peto realizava, acabou chamando a atenção e o interesse para um grupo de médicos. Estes uniram-se e foram pesquisar do que se tratava. Aqui uma breve descrição de seu relatório:

"Nós podemos visualizar que os pacientes deste Instituto podem ser tratados com sucesso. Nossa opinião é suportada com as descrições a seguir. A maioria dos pacientes tratados aqui vieram de outros centros onde foram qualificados como 'sem tratamento' ou nem foram admitidos em outros institutos devido sua condição. Entre eles encontramos diferentes formas de paralisia cerebral, pacientes que tiveram poliomelite e outras formas de paralisia causadas por acidentes. Os pacientes são de diversas idades, e dada sua condição de saúde nãop podem movimentar seus membros voluntariamente. Como citado antes, estes pacientes foram tratados em outros centros sem sucesso. Vimos que muitos dos pacientes tiveram resultados positivos e que a forma de tratamento conduzida os fez ter a iniciativa para mudar de lugar de forma independente e mover os membros superiores pelo mesno quando solicitado, outros tiveram ainda uma completa reabilitação. Eram pacientes que não tinham condições de falar ou escrever devido a sua condição motora e agora eles conseguem executar estas tarefas de forma tão boa que estão preparados para serem inseridos na escola regular. Todos estes resultados nos mostram que o sucesso pode ser atingido em casos em que se dizia não ser possível."

Entre estes médicos que observaram o trabalho de Educação Condutiva com as crianças estavam cirurgiões pediatras, ortopédicos e clínicos pediatras. Eles também destacam o fato de que todo o 'tratamento' não usava ( e ainda não se utiliza) nenhum tipo de medicação. Para reduzir espasticidade ou aumentar tônus, usavam apenas do movimento rítmico.

Monday, January 08, 2007

Escrito por Peto


Andras Peto estava muito a frente do seu tempo, criou e trabalhou durante toda sua vida com a Educação Condutiva. Ele objetivava criar uma educação voltada para crianças com dificuldades motoras. Naquela época a poliomelite era o maior causador da paralisia cerebral. Desde o início de seu trabalho já atendia também adultos, que tinham as mesmas dificuldades, normalmente acidentes cerebrais causados por acidentes ou derrames. No início dos anos 60 recebia crianças russas, inglesas, romenas e israelenses em seu Centro de desenvolvimento motor.
O maior registro de Peto é a Educação Condutiva, ela mesma, presente e aplicada em vários países nos dias de hoje. Registros em livros, textos, artigos, existem muitos, a maioria em húngaro, alemão e inglês. Peto, ele mesmo deixou poucas publicações, algumas cartas que foram formatadas em forma de livro entre pacientes, fisioterapeutas e especialistas, mas apenas um (!)artigo em inglês.
O artigo descreve justamente o desenvolvimento de um grupo de crianças, antes e depois de trabalharem com a Educação Condutiva. Ele é recheado de declarações de especialistas de diversas áreas, e outros países, que avaliam o método em si, e o retorno recebido pelos 'pacientes'. Entres eles descrevo a seguir :
" A terapia motora-condutiva (ainda não era chamada de Educação) não é um sistema, mas um método completo. A realização de novas tarefas trazem novas soluções e estas novas soluções modificam e desenvolvem as tarefas que já se realizava anteriormente, assim como a aquisição de soluções."
" A terapia motora-condutiva não trata certos músculos, não trata certos membros, mas, durante todo o processo de aprendizagem leva a atividades dinâmicas, ativando novas funções cerebrais."

Thursday, January 04, 2007

Quê moral heim...


Estamos com muitos planos para começar a implantação da Educação Condutiva para meus filhos em Florianópolis, e escolhemos um lugar maravilhoso, dentro de um escola infantil, em um ambiente educaional e ainda por cima integrado com a natureza.

Muitos passos ainda, a chegada da condutora, os móveis, a pedagogia, as crianças, o grupo. E ainda o planejamento, a rotina, a harmonia, a integração, a adaptação, os sonhos, a liberdade, a naturalidade.

Muitos desafios para vencer, e barreiras para derrubar... A maioria delas: barreiras morais.

"Uma mãe foi até o colégio e disse: É nesta escola que existirá um projeto para crianças especiais ? Então vou tirar minha filha daqui, não quero ela em um colégio para 'crianças especiais'.!"

Tuesday, January 02, 2007

Advances in Condutive Education - artigo publicado


Finalizei o artigo: Hungria, México, Inglaterra, Brasil: A Experiência de Minha Família com a Educação Condutiva, que estava escrevendo para o jornal Advances in Condutive Education. Ele já foi lido e aprovado para publicação, que será no primeiro trimestre de 2007, em inglês. O artigo fala da experiência de minha família com Educação Condutiva, aliás, de nossa ‘Odisséia’ com esta filosofia. Assim me falou Andrew Sutton, e, por sugestão dele, publico aqui o artigo em português.

Qualquer um que deseje publicar este artigo em algum outro lugar, por favor o faça na íntegra, citando fonte e contato. De preferência, me consulte antecipadamente. Obrigada.



Hungria, México, Inglaterra, Brasil: A Experiência de Minha Família com a Educação Condutiva.

Leticia Búrigo Tomelin Kuerten
leticia.kuerten@gmail.com
Birmingham, Dezembro de 2006

Introdução

A Educação Condutiva é um método de trabalho que trata a paralisia cerebral com uma visão holística, entendendo o indivíduo como a união do corpo físico, do seu cognitivo e de suas relações sociais. A paralisia cerebral não tem cura, e nem tratamento. A situação que se forma após a lesão é estática, não muda com o tempo. A Educação Condutiva ensina o corpo a trabalhar de forma funcional, independente de sua condição, visando uma melhora na qualidade de vida do indivíduo..

Este artigo relata a experiência de minha família com nossos primeiros contatos com a Educação Condutiva, desde o momento de planejamento para uma visita à Hungria, posteriormente uma experiência curta no México e por fim nossa vivência por um ano na Inglaterra. Descrevo então a evolução no desenvolvimento de meus filhos nesta experiência, nosso aprendizado adquirido e nossos planos de continuidade na aplicação da Educação Condutiva em nosso país.

Ouvindo falar de Educação Condutiva

Ouvimos pela primeira vez falar de Educação Condutiva através de uma matéria na televisão no Brasil. Falava de um método húngaro desenvolvido principalmente para crianças com paralisia cerebral que proporcionava um modo de vida visando a independência do indivíduo. A reportagem foi breve e proporcionou uma introdução sobre o método e seus benefícios. Mesmo sendo breve a reportagem foi o suficiente para que despertássemos o interesse em conhecer o método húngaro.

Temos filhos gêmeos com paralisia cerebral decorrente de uma infecção e um parto prematuro de 28 semanas. Sempre acompanhamos lado a lado o desenvolvimento de nossos filhos e estamos sempre em busca de novos estímulos para que possamos proporcionar ao cérebro a plasticidade neuronal, buscando promover uma melhor qualidade de vida à eles.

Desde o nascimento de nossos filhos eles experimentaram diversos tipos de terapia, cada uma voltada para uma parte do corpo. Eles fizeram fisioterapia motora, terapia da fala, estimulação visual, terapia ocupacional, hidroterapia, equoterapia; sempre alterando a quantidade de sessões durante os anos. O trabalho sempre foi individual e especializado, cada profissional exercitava uma parte do corpo que necessitava melhora.

Com a convivência adquirida em todas estas visitas, passamos a aprender mais sobre o nosso próprio corpo. Entendemos que nossos corpos necessitem de alongamentos, movimentação e transferência de peso, mas sempre nos questionamos internamente: Quando vamos fazer nossos filhos entenderem que todos este movimento precisa ser funcional para atingir um objetivo? Era certo que precisávamos experimentar algo novo e a Educação Condutiva surgiu em nossas vidas para que pudéssemos conhecer uma nova forma de trabalho e verificar se a prática seria condizente com a teoria.

Partimos para buscar novas informações através da internet e o que encontrávamos estava em sua maioria nos idiomas inglês ou húngaro. Apesar de ler o novo conteúdo não conseguíamos entender o que aquilo significava na prática. Tudo o que líamos parecia adequado e vinha de encontro aos nossos ideais para com nossos filhos, era a resposta para o que sempre nos questionávamos em relação às inúmeras terapias passivas que fazíamos.

A experiência Mexicana

Tínhamos a vontade de ir a Hungria ou Inglaterra, e casualmente descobrimos uma escola de Educação Condutiva no México. Nós moramos em Florianópolis, uma ilha no sul do Brasil, pela distância que estamos da Europa, nos parecia uma viagem longa e arriscada, principalmente por causa da adaptação das crianças com um novo idioma. A escola mexicana estava oferecendo um curso de verão com a duração de quatro semanas. Em menos de um mês estávamos na cidade de Jiutepec, no México, para conhecer a Educação Condutiva (1).

Foi neste primeiro contato que pudemos observar a definição de objetivos, os movimentos com propósito, a intenção e a forma de trabalho ativa que é conduzida para com as crianças.

A Educação Condutiva nos ensinou a ver nossos filhos da forma como eles são, independente do que eles tiveram; permitindo enxergá-los no presente, definindo tarefas para seu futuro. A Educação Condutiva respeita a sua condição e acredita no seu potencial.

Meus filhos tinham recém completado 3 anos e com a experiência de um mês na escola mexicana, percebemos que eles trabalhavam com a consciência de um adulto, com responsabilidade, programação de metas, e valorização no êxito de suas conquistas. Foi a primeira vez que vimos nossos filhos serem tratados de forma igual, trabalhando como adultos, pessoas conscientes de suas tarefas.

Também na escola tivemos a oportunidade de ver alguns vídeos sobre a história da Educação Condutiva e de seu criador, Andras Peto. A cada aprendizado tínhamos a certeza de que estávamos no caminho certo. Era como se tudo aquilo fosse novo e estivéssemos nos moldando a nossa realidade, vindo em frente ao que sempre buscávamos.

De toda a experiência realizada o que mais nos motivou foi ouvir os relatos das palavras da fundadora da escola mexicana em relação ao desenvolvimento de sua filha, e toda sua busca até encontrar-se com a Educação Condutiva. Eram palavras que pareciam minhas.

Investimento para o futuro: Inglaterra

Decidimos então investir um período de nossas vidas no desenvolvimento de nossos filhos com a escola de Educação Condutiva na Inglaterra, em Birmingham. Tínhamos naquele momento mais informações sobre educação condutiva através do site da escola do National Institute of Conductive Education do que em qualquer outro local (2). Iniciamos então uma troca de mensagens sobre nossa história com o corpo administrativo da escola, para podermos dimensionar o nosso novo projeto de vida. Sem dúvida era um investimento de risco.

Um investimento que nos consumiria tempo, afastamento do trabalho, distância da família e principalmente dinheiro. De todas as formas decidimos por investir este capital no presente, para que nossos filhos tenham um melhor futuro, ao invés de guardar o capital para que eles tenham uso no futuro. Fomos seguir o jargão anônimo: “Preparar nossos filhos para o futuro e não o futuro de nossos filhos”.

Antes da viagem vários questionamentos e dúvidas passavam por nossos momentos de decisões. O novo e a sensação de mudança nos desestrutura aparentemente, mas reforça a inserção a novas culturas, adaptação em outro idioma e resolução de novos problemas. É na vivência da situação limite que temos a melhor clareza de idéias para resolver uma situação qualquer. Foi nesta posição que nos encontramos, seis meses depois, quando nos mudamos para Birmingham.

Uma confusão de novas idéias em nossos pensamentos; um novo local para morar, a escola, a cidade, uma nova cultura e o nosso domínio pobre do idioma inglês. Se este era o sentimento dos adultos, imaginemos quais seriam os sentimentos de nossos filhos ao serem transportados para um clima frio (de 2*C), árvores sem folhas, e a primeira experiência com a neve. Somado a isto, o primeiro dia de escola, em um novo espaço, dentro de um grupo de crianças estranhas e condutoras falando um idioma incompreensível para eles, o inglês.

Para nossa surpresa a adaptação foi mais rápida do que esperávamos. Foi neste momento que a experiência que tivemos no México se mostrou ainda viva. Nossos filhos já conheciam os móveis, a seqüência do programa, a musicalidade das ordens, o ritmo e a rotina diária. Era como se conhecessem todo aquele programa, mas sem conseguir unir as pessoas e o idioma. Era como se eles já estivessem estado ali antes.

Em uma semana já se interessavam em ficar na escola e com duas semanas já estavam acompanhando o ritmo do grupo. O inglês também parecia estar sendo incorporado, ao ir embora diziam bye-bye.

Percebemos que o fato de a Educação Condutiva ser em grupo, acelera o aprendizado com a observação, mesmo tendo a compreensão parcial do idioma. Ao ver o que o grupo fazia, meus filhos foram unindo as ordens em inglês, com os movimentos na prática. Com um mês já tinham adicionado várias palavras do novo idioma, além de contar até dez. Em três meses estavam totalmente adaptados, tinham a confiança do grupo e das condutoras para falar ao microfone, citar seu nome e sentir falta dos amigos que não vinham a aula.

Curso de verão em Budapeste

Estávamos adaptados e contentes com a rotina. Percebemos então que três meses na escola foram suficientes para a total integração no país, no método e na rotina; porém seria muito pouco tempo para proporcionar resultados duradouros no desenvolvimento.

Nossa idéia inicial era experimentar a Educação Condutiva na Inglaterra por três meses e então decidir se iríamos permanecer por mais três meses, ou se conheceríamos o Instituto Peto em Budapeste (3). Não ir à Hungria, parecia um pouco insano, já que chegamos tão perto, iríamos experimentar a Educação Condutiva no seu espaço original.

Foi quando nos reunimos pela primeira vez com Andrew Sutton, fundador e atual conselheiro do Instituto de Birmingham e Wendy Baker, diretora educativa das crianças. Discutimos a experiência que estávamos vivendo, nossos planos, nossa satisfação pela escola, a qualidade e profissionalismo dos condutores, o correto posicionamentos das crianças para a execução de suas tarefas com propósito.

Também era o momento de planejar o nosso próximo semestre e nos prepararmos para o curso de verão em Budapeste. No desenrolar de nossa conversa questionamos ao Andrew Sutton sobre o Instituto Peto e nossa intenção de aproveitar nossa viagem para uma visita, alguns aprimoramentos e um curso na Hungria.

Andrew nos respondeu com um exemplo: veja hoje o telefone, nós não sabemos em que país ele foi feito ou por quem ele foi criado; sabemos que ele é útil, funcional e globalizado. Assim é a Educação Condutiva, em qualquer lugar que nós estivermos ela será funcional e se adaptará às circunstâncias, seja do país, da escola, do grupo. Não é necessário ir até a Hungria para saber o que é a Educação Condutiva, ela é globalizada e pode ser vivenciada em qualquer lugar.

Considerando nossa satisfação com a escola de Birmingham, decidimos por não interromper a evolução do desenvolvimento do trabalho realizado e desistimos da idéia de visitar o Instituto Peto neste momento. De uma hora para outra, a idéia que nos parecia tão urgente já não nos apetecia.

Um ano depois: resultados

Estamos por finalizar um ano na escola de Birmingham, e com muito orgulho avalio o desenvolvimento de nossos filhos de forma produtiva. Todo o investimento realizado está tatuado para sempre nos momentos que vivemos, aprendemos e adquirimos. Meus filhos adquiriram maturidade social, interação no grupo, relacionamento com alunos e condutores, compartilhamento de atividades. Aprenderam a observação de suas emoções e avaliar seus comportamentos.

Na questão motora adquiriram equilíbrio para manter-se na posição sentado por algum tempo e de forma independente, assim como na postura de cócoras e gato com auxílio. A postura em pé e a postura orientada para o caminhar com passos foi aprimorado. O rolar passou a ser executado com propósito. A movimentação dos braços para executar funções como comer, escovar os dentes, brincar, também foi bastante desenvolvida. O controle de urina e fezes ainda está em fase de amadurecimento, mas já quase não ocorrem acidentes.

O desenvolvimento cognitivo e a aquisição do idioma parecem ter sido assimiladas sem dificuldades. A respostas às ordens e a solicitação delas em inglês, foram absorvidas rapidamente.

Ao fim de um ano parece termos encontrado harmonia com o grupo, a concentração nas atividades, o entusiasmo em continuar e descobrir novas formas de desenvolvimento. Decididamente nos apaixonamos pela forma de educação que é a Educação Condutiva.

Conclusão

Apesar de estarmos praticamente um ano no Reino Unido, vivemos nossa experiência intensamente. Nos concentramos no trabalho das crianças observando periodicamente a evolução dentro da sala de aula, com a orientação dos condutores, aprendendo e percebendo as diferenças no desenvolvimento.

Também preenchemos nossos momentos com visitas periódicas à biblioteca da escola, estudando a história da Educação Condutiva e sua evolução no decorrer dos anos. Foi lá na biblioteca, que aprendemos, adicionamos conhecimento, e nos interessamos cada vez mais pelo tema e pelo nosso propósito.

Os familiares e amigos que ficaram no Brasil, estavam cada dia mais curiosos e interessados sobre o que estávamos fazendo com nossos filhos, e o que tínhamos como resultado de uma mudança tão significativa. Eles queriam entender o que era esta Educação Condutiva.

Foi quando resolvemos compartilhar de nossas anotações e experiências, que a princípio tínhamos guardado de maneira particular, publicando algum conteúdo em português na Internet. Assim poderíamos colaborar com uma conscientização e conhecimento do método no Brasil. Foi assim que surgiu o blog, Educação Condutiva com amor (4).

Próximos passos

Com a necessidade de continuação deste trabalho nos empenhamos então em iniciar um projeto no Brasil. Para isto queremos introduzir e iniciar um grupo de crianças, em idade pré-escolar, que trabalhe a Educação Condutiva junto com meus filhos. Temos muitas dificuldades pelo caminho, mas já temos um espaço, os equipamentos necessários e uma condutora com bastante entusiasmo para iniciar.

Neste novo momento de mudança oferecemos e aceitamos o desafio de introduzir o conceito de Educação Condutiva em Florianópolis e região, mostrar na prática o trabalho com nossos filhos e formar um novo grupo que tenham a oportunidade de conhecer este método. O alto nível de qualidade de vida e o baixo custo para viver em nosso país, abre portas para os condutores em busca de aventura e desafios profissionais.

A energia do aprendizado que tivemos continuará reverberando por algum tempo e iremos aproveitar esta motivação para iniciar um projeto piloto e esperamos que seja muito promissor.



Referências

(1) Website Escola Connosotros, México –
http://www.morelosweb.com/connosotros/

(2) Website National Institute of Conductive Education, Inglaterra –
http://www.conductive-education.org.uk/

(3) Website Instituto Peto, Hungria –
http://www.peto.hu/

(4) Website Blog Educação Condutiva com amor, Brasil –
http://educacaocondutiva.blogspot.com/

Educação Condutiva pra quem passa


Vejo crianças na rua e as visualizo preparadas para a Educação Condutiva. Não sei que sentimento me vem, que acabo construindo em minha mente, por alguns minutos todo o futuro daquela criança que passa, que nem me percebe, mas que intimamente me envolvo. Minha vontade é sair ‘pregando’, mostrando que benefícios esta criança poderia ter, que progresso ela poderia ter, que BEM ela poderia fazer.

Não quero dizer que se tenha que buscar a Educação Condutiva no fim do mundo, como eu fui, é apenas com um simples gesto, uma pausa, uma nova visão.

Quem não experimentar não vai saber o que é. Quem não se der a chance de saber, de conhecer e de perceber, nunca entenderá o que é.

Eu não sei o que tenho, mas com um olhar identifico e visualizo os ganhos daquela criança com o método. Não penso nos pais, não penso na família, penso diretamente na criança como um indivíduo feliz e motivado.

Me felicito a cada vez que vejo a evolução de meus filhos, não só de seu desenvolvimento motor, mas da forma de educação que eles nos permitiram realizar. Não só com eles, mas com todos que estão em volta de nós mesmos. É algo que construímos e valorizamos. É com eles que aprendi muito, a dar valor ao pouco, aos pequenos ganhos. É com eles que aprendemos a dar exemplos e fazer com que cada um se sinta útil, de forma natural e feliz.

ser especial, ser normal... Ser Natural!


Criança especial é cativante, motivante, feliz.
Criança especial é ansiosa por novos desafios, quer aprender mais e mais.
Criança especial é insegura, frágil, ingênua e indefesa.
Criança especial é curiosa, interessada, precisa de atenção.
Criança especial é levada, dá trabalho, me faz rir e me faz chorar.
Criança especial me faz passar madrugadas acordada, não quer comer nada, faz birra e chora.
Criança especial tem amor, tem valor.
Criança especial se esforça, se cansa, se testa, se prova.
Criança especial se ama, te ama, me ama.

Criança "especial" ?
TODA criança é assim.



Não quero que me vejam com olhos que não são meus, não quero que me tachem, que me diferenciem. Quero ser feliz no que eu sou, como eu vivo e porquê vivo.

Não quero que vejam meus filhos de forma especial, nem diferente e nem normal. Não quero usar a palavra "normal", ela me tacha, me separa, me difere.

Quero ser NATURAL, assim como sempre fui, assim como sempre serei. Quero que meus filhos sejam, por direito deles, parte do mundo que vivo e que vivemos. Que compartilhem aquilo que todos compartilham, que se deliciem com tudo o que saboreamos e que também se frustrem com tudo aquilo que nos frustramos.

Quero que não só em 2007, mas que pra sempre sejamos sempre naturais. Feliz Ano Novo!