Educação Condutiva - com amor

Quero escrever sobre Educação Condutiva porque me apaixonei por este método, cheio de amor, que tem atendido aos meus filhos com p.c. Quero descrever o que tenho estudado, aprendido, escutado e sentido ... Tenho a vontade de abraçar o mundo e fazer com que todas as crianças na mesma condição motora de meus filhos, tenham a chance de receber toda esta inteligência, técnica, forma de agir, pensar e sentir, que com todo carinho o Dr. Andras Peto deixou de herança.

Tuesday, October 31, 2006

Peto: um voluntário


Peto nunca trabalhou para seu próprio ganho. Todas as suas atividades sempre foram voluntárias, ele não tinha posses, nunca se preocupou com seu próprio conforto ou bem estar. Ele estava sempre pronto para ajudar e por toda sua vida ele tinha uma idéia fixa : Corrigir o desenvolvimento para crianças com dificuldades motoras. (Pena que eu não tive a oportunidade de dar um beijo nesse cara!)

O Sistema de Peto tem propósito, é consistente e é desenvolvido por passos construídos um sobre o outro.

Mas eu poderia dizer que ele foi 'tentado' a viver uma vida 'comum'... Parece que em algum momento ele se deixou levar pela emoção, pelo prazer, pelo amor. Dizem por aí que um dia ele viu uma bela moça dentro de um trem quando chegava na estação em Vienna. A atração foi instantânea, dali ele partiu para Berlin, sem lenço nem documento, entrou no trem em companhia desta moça. Ele foi visto somente alguns anos depois, em Paris, da onde retornou aos seus estudos e a sua bela carreira.

O admiro como pessoa, como história, como vida. Ele abdicou, não só de seus bens, mas de uma companheira, de filhos, de uma família. Peto era visto por alguns como um 'Buddha', porque ele parece mesmo ter sido 'feito para isso', assim dizia Vera Foster, uma de suas alunas. E ela o descrevia assim: Ele era gordinho, forte, não muito ágil, andava com passos curtos e balançava de um lado ao outro; toda vez que entrava em nossa sala, todos os outros ficavam insignificantes.

Ele não tinha vida social, trabalhava e respirava pelo Instituto Peto. Tinha um grande carisma e era judeu. Seu pai tinha uma confeitaria, sua mãe era professora de escola infantil. Nascido em 1893, ele foi professor do departamento de Fisiologia da Universidade de Vienna, diretor de duas instituições de saúde na Áustria. Em 1938 fugiu no facismo e voltou a Hungria. A partir de 1945 iniciou seu trabalho prático e em 1967 formou a primeira turma de 23 condutores. Morreu no mesmo ano de ataque cardíaco, em seu Instituto.

Meu objetivo: brincar!


Definir objetivos faz mesmo parte de nossas vidas. Ao sair de casa pela manhã, logo planejamos o nosso dia com as inúmeras tarefas a serem realizadas, entre elas ir ao mercado, comprar o presente, passar no correio, fazer uma aula de ginástica, pegar as crianças, levar na fisio, depilar, comprar salgado pra janta, passar no posto. E quando chegamos em casa, na hora do banho, í! esqueci o presente!

Para meus filhos os objetivos são no seu dia-a-adia, e principalmente aquisições motoras. Hoje em dia a diversão deles é poder andar. Eles não podem, mas querem. Ao chegar em qualquer lugar eles querem sair de seus carrinhos e sair por aí andando. Essa é a diversão do momento, querer andar. Nós já não podemos estar por tanto tempo, segurando pelo tronco e dando equilíbrio para que eles possam dar seus passinhos.

Eu queria poder ser forte o suficiente para não cansar! Na verdade queria mais, queria poder ter todos os braços que pudesse ajudar, a segurar os dois, ligar o dvd, trocar a música do ipod, e a fralda que está cheia já, além claro de enchê-los de abraços e cosquinhas, todos juntos no meu colinho, como eu podia fazer quando eles eram uns tiquinhos...

Sei que estes passinhos que eles querem dar não são dados de forma correta, mas a intenção de querer sair do carrinho e de se mover, eu considero muito importante. Na verdade já não considero mais o que não deve ser feito, porque senão, sei lá o quê. Nós também fazemos coisas que não devem ser feitas, mas mesmo assim saímos pra beber, fofocar ou chorar. Aqui vejo que o próprio movimento do andar proporciona uma outra visão do ambiente, e eles mesmos podem 'se guiar', já que na maioria das vezes eles estão 'sendo guiados'.

Meu próximo objetivo nesta situação, para meu pesar, é a aquisição de uma cadeira de rodas para cada um. Eles estão pesados e os carrinhos de bebês já não servem mais pra eles. Uma cadeira do seu tamanho, com suas medidas, será muito mais adequada para que eles possam estar 'bem sentados' e com isso ter a possibilidade de usar melhor seus braços, perceber a rua e quem sabe brincar.

Ontem mesmo, quando recebi a visita de uma terapeuta ocupacional, ela me perguntou o que eu queria como aquisição para meus filhos nos próximos meses, e foi isso que eu respondi: Quero que eles possam brincar!

Sunday, October 29, 2006

Definição de objetivos: educacionais 3/3


Esta é a última parte do estudo que descrevo em 3 partes. Acho que ele realmente ficou longo e chato, no entanto orienta a 'evolução' de objetivos. Cada um dos itens ainda se divide em situação de chegada zero e a evolução dos objetivos em estágio 1, 2, 3 e 4.

1- Objetivos motores 1/3
2- Objetivos funcionais 2/3
3- Objetivos educacionais 3/3


Objetivos educacionais 3/3

Para os objetivos educacionais serão observados cada um dos seguintes itens 1. olhar-observar; 2. escutar; 3. brincar; 4. aprender.


Situação de chegada : 0

GERAL
Anti-social.
Preferência por adultos.
Não tem concentração.
Não olha-observa.
Não tem foco.
Não escuta.
Conhecimento congnitivo é dependente e variável com a situação.

Objetivos : Estágio 1 a 3
1. OLHAR-OBSERVAR

Aprende a olhar enquanto na função segurar.

Objetivos : Estágio 4

1. OLHAR-OBSERVAR
Pronto para a inclusão escolar.



Objetivos : Estágio 1 a 3
2. ESCUTAR
Aprende a olhar enquanto na função segurar.

Objetivos : Estágio 4
2. ESCUTAR

Pronto para a inclusão escolar.


Objetivos : Estágio 1
3. BRINCAR

Usa as duas mãos para brincar, segurar, rolar, sentir, passar ao outro.

Objetivos : Estágio 2
3. BRINCAR

Brinca paralelamente.

Objetivos : Estágio 3
3. BRINCAR

Brinca construtivamente.
Brinca socialmente.

Objetivos : Estágio 4
3. BRINCAR

Pronto para a inclusão escolar.


Objetivos : Estágio 1
4. APRENDER
Cores, primeiros números, esticar, dobrar, frente, trás, empurrar, puxar, em cima embaixo.

Objetivos : Estágio 2
4. APRENDER
Reconhece cores, números e elementos da linguagem.
Inicia o programa de pré-escrita.
Inicia a leitura de palavras chaves.

Objetivos : Estágio 3
4. APRENDER
Lê palavras e frases conhecidos.
Escreve algumas formas e algumas letras.
Escreve números.

Objetivos : Estágio 4
4. APRENDER
Pronto para a inclusão escolar.

Definição de objetivos: funcionais 2/3


Esta é a segunda parte do estudo. Ele continua longo e chato, sem o uso do recurso de tabela. Cada um deles ainda se divide em situação de chegada zero e a evolução dos objetivos nos estágio 1, 2, 3 e 4.

1- Objetivos motores 1/3
2- Objetivos funcionais 2/3
3- Objetivos educacionais 3/3


Objetivos funcionais 2/3

Para os objetivos funcionais serão observados cada um dos seguintes itens 1. continência; 2. vestir-se; 3. alimentar-se

Situação de chegada : 0
1. CONTINÊNCIA

Incontinência para xixi e cocô.

Vestir-se totalmente passivo.
Despir-se totalmente passivo.

Objetivos : Estágio 1
1. CONTINÊNCIA

Não usa fraldas durante o dia.
Responde ao estar no pinico.

Objetivos : Estágio 2
1. CONTINÊNCIA

Dias e noites com acidentes de molhar a roupa.

Objetivos : Estágio 3
1. CONTINÊNCIA

Pede para ir ao banheiro.

Objetivos : Estágio 4
1. CONTINÊNCIA

Tem controle de sua continência.



Situação de chegada : 0
2. VESTIR-SE

Vestir-se totalmente passivo.
Despir-se totalmente passivo.

Objetivos : Estágio 1
2. VESTIR-SE

Tem participação no vestir-se e despir-se.

Objetivos : Estágio 2

2. VESTIR-SE

Tira suas meias, blusão e roupa íntima.
Ajuda com os braços para vestir as mangas.
Puxa suas meias.
Lava seu rosto e mãos.
Escova seus dentes.

Objetivos : Estágio 3

2. VESTIR-SE

Despe-se sozinho.
Veste-se parcialmente.
Escova seus dentes.
Lava seu rosto e mãos.

Objetivos : Estágio 4
2. VESTIR-SE

Despe-se e veste-se sozinho.
Lava seu corpo.
Escova seus dentes.
Abotoa e faz laço.



Situação de chegada : 0
3. ALIMENTAR-SE

Alimentação totalmente passiva.
Beber totalmente passiva.
Pobre mastigar.
Pobre sugar.

Objetivos : Estágio 1
3. ALIMENTAR-SE

Alimenta-se de forma assistida.
Segura um copo com duas mãos.

Objetivos : Estágio 2
3. ALIMENTAR-SE

Bebe sem auxílio.
Alimenta-se sozinho fazendo muita sujeira.

Objetivos : Estágio 3
3. ALIMENTAR-SE

Come e bebe sozinho.

Objetivos : Estágio 4
3. ALIMENTAR-SE

Come e bebe sem auxílio.


Definição de objetivos: motores 1/3


Em janeiro de 1976, a Sociedade de Espasticidades acompanhou 12 crianças na sede do Instituto Peto em Sussex, Inglaterra. As crianças usavam a Educação Educativa em seu desenvolvimento. Ester Cotton descreve então apartir da observação, uma programação da definição dos objetivos para as crianças. Quando os objetivos eram atingidos então a criança era passada para um novo estágio no desenvolvimento de suas habilidades, levando a criança de uma total disfunção para o estato de inclusão escolar.

Vou descrever este estudo em 3 partes. Acho que ele vai ficar longo e chato, sem o uso de uma tabela, mas orienta a 'evolução' de objetivos. Cada um dos itens ainda se divide em situação de chegada zero e a evolução dos objetivos em estágio 1, 2, 3 e 4.

1- Objetivos motores 1/3
2- Objetivos funcionais 2/3
3- Objetivos educacionais 3/3


Objetivos motores 1/3

Para os objetivos físicos serão observados cada um dos seguintes itens 1. sentar ; 2. mãos ; 3. braços ; 4. quadris ; 5. fixação ; 6. orientação ao centro ; 7. levantar .

Situação de chegada : 0
1. SENTAR
Não senta na mesa.
Não senta a mesa e nem se segura.
Não senta no pinico.
Não senta no pinico e nem se segura.
Não senta sozinho na cadeira.
Não senta no chão.
Não senta no chão, nem como 'indiozinho'.
Não senta no chão, nem com as pernas esticadas.

Objetivos : Estágio 1
1. SENTAR
Senta a mesa se segurando.
Senta no pinico se segurando.
Senta com os braços sobre a mesa.
Senta na cadeira se segurando.

Objetivos : Estágio 2
1. SENTAR
Senta sozinho no pinico.
Senta sozinho na cadeira.
Senta de indiozinho no chão.

Objetivos : Estágio 3
1. SENTAR
Senta sozinho no pinico.
Senta sozinho na cadeira.
Senta no chão.
Senta no banco.
Não usa mais o pinico, vai ao vaso sanitário.
Começa a sair do banco para ficar de pé.

Objetivos : Estágio 4
1. SENTAR
Senta sozinho.
Não usa mais o pinico, vai ao vaso sanitário.
Desloca-se da cadeira para o chão.
Levanta-se do chão (com ajuda e auxílio).



Situação de chegada : 0
2. MÃOS
Não consegue agarrar nem soltar.
Não consegue segurar com as duas mãos.
Não tem habilidade de manipulação.

Objetivos : Estágio 1
2. MÃOS

Segura com as duas mãos.

Objetivos : Estágio 2
2. MÃOS
Consegue segurar e soltar.
Segura com as duas mãos.
Tem alguma habilidade de manipulação .

Objetivos : Estágio 3
2. MÃOS
Consegue segurar e soltar.
Fixa uma mão e movimenta a outra.
Aponta com o dedo indicador.
Tem alguma habilidade de manipulação .

Objetivos : Estágio 4
2. MÃOS
Consegue segurar e soltar.
Fixa uma mão e movimenta a outra.
Usa o dedo indicador.
Usa o dedão fazendo movimento de pinça.



Situação de chegada : 0
3. BRAÇOS
Não coloca os braços do lado em supino ou sentado.
Não coloca os braços para frente sentado a mesa.
Não coloca os braços acima da cabeça em prono, sentado ou supino.

Objetivos : Estágio 1
3. BRAÇOS
Coloca os braços sobre a mesa.
Estica os cotovelos.

Objetivos : Estágio 2
3. BRAÇOS

Coloca os braços para cima da cabeça e ao lado com os cotovelos extendidos em prono, sentado e supino.
Estica os cotovelos quando sentado.

Objetivos : Estágio 3
3. BRAÇOS

Movimenta os braços em todas as direções.
Estica os cotovelos em todas as posturas.

Objetivos : Estágio 4
3. BRAÇOS

Pode realizar movimentos rítmicos de seus braços, de forma individual.


Situação de chegada : 0
4. QUADRIL

Não consegue flexionar ou esticar os quadris de forma ativa.

Objetivos : Estágio 1
4. QUADRIL
Faz flexão de quadril quando sai da cama.
Faz flexão de quadril quando senta.

Objetivos : Estágio 2
4. QUADRIL

Sai do splint.
Senta-se em uma cadeira ou no pinico.

Objetivos : Estágio 3
4. QUADRIL

Sai do splint.
Senta-se em uma cadeira ou no pinico.

Pega objetos do chão quando em posição sentado.

Objetivos : Estágio 4
4. QUADRIL

Sai do splint.
Senta-se em uma cadeira ou no pinico.
Pega objetos do chão quando em posição sentado.

Coloca as duas mãos esticadas no chão.


Situação de chegada : 0
5. FIXAÇÃO
Faz somente movimento global.
Não tem nenhum ponto de fixação, nem mãos, pés ou quadris.

Objetivos : Estágio 1
5. FIXAÇÃO
Usa as mãos como forma de fixação.

Objetivos : Estágio 2
5. FIXAÇÃO

Fixa com as mãos na frente e ao lado.
Alguma fixação de pés e quadris.

Objetivos : Estágio 3
5. FIXAÇÃO

Fixa com as mãos na frente e ao lado.
Fixação com os pés e quadris.


Objetivos : Estágio 4
5.
FIXAÇÃO

Fixa com as mãos, pés e quadris.
Fixa um braço ou uma perna para realizar o movimento


Situação de chegada : 0
6. CENTRO, linha média

Nenhuma orientação a linha média.

Objetivos : Estágio 1
6. CENTRO, linha média

Traz a cabeça ao centro quando segura.

Objetivos : Estágio 2
6. CENTRO, linha média
Traz a cabeça ao centro quando em prono, supino ou sentado.
Foca os olhos na linha média.

Objetivos : Estágio 3
6. CENTRO, linha média
Traz a cabeça ao centro em todas as posições.
Foca os olhos na linha média.
Movimenta cabeça com controle para a direita e esquerda.
Segue objetos com o olhar.
Bate palmas sentado.

Objetivos : Estágio 4
6. CENTRO, linha média
Bate palmas em todas as posturas.
Move a cabeça livremente batendo palmas.
Segue objetos com o olhar.


Situação de chegada : 0
7. LEVANTAR

Não fica de pé em frente a mesa, cadeira ou de forma livre.

Objetivos : Estágio 1
7. LEVANTAR

Fica em pé em frente a mesa com ajuda.
Empurra-se da cama com ajuda.
Anda com máximo auxílio.

Objetivos : Estágio 2
7. LEVANTAR

Fica em pé em frente a mesa com ou sem ajuda.
Fica em pé em frente a cadeira
Empurra a cadeira para movimentar-se.
Anda apenas com o condutor ou com a cadeira e o condutor.

Objetivos : Estágio 3
7. LEVANTAR

Fica em pé sozinho em frente a mesa ou cadeira.
Anda com o auxílio da cadeira e o condutor.
Empurra a cadeira para andar sem auxílio.

Objetivos : Estágio 4
7. LEVANTAR

Levanta-se sozinho a partir da mesa.
Levanta-se sozinho da cadeira.
Levanta-se sozinho e bate palmas.
Anda sozinho com a cadeira.
Anda sozinho.

Friday, October 27, 2006

Bobath, uma visão


Sempre que se fala em fisioterapia para crianças fala-se em Bobath. No início eu não sabia bem o que se tratava esse 'palavrão', mas todos os 'entendidos' perguntavam: Eles fazem Bobath ? Só bem mais tarde entendi os movimentos e a forma de trabalhar com as crianças. Sempre atendi da foram mais fiel todas as intenções de trabalho, seguir a rotina em casa, continuar o trabalho feito no consultório. Como sempre acompanhei as seções posso dizer que tinha quase uma 'especialização' no assunto, afinal seções diárias por três anos se aprende observando!

No entanto este método tem uma visão muito diferente da Educação Condutiva e gostaria de repassar aqui a experiência de um fisioterapeuta em Hong Kong, que escreveu um artigo comparando a Educação Condutiva com o método Bobath. O artigo se chama "Conductive education and the Bobath concept: an evaluation", escrito por TATLOW, A. em 1987.

Tatlow descreve em seu artigo alguns comentários sobre estudos de Karel Bobath, onde ela mesma coloca os seguintes dizeres a seguir:


"Nós trabalhamos os reflexos, e não as crianças."


"No passar dos anos nós fomos influenciados por muitos outros trabalhos. Por exemplo, Knott, principalmente no reconhimento da importância da estimulação proprioceptiva; Rood, no valor da estimulação tátil para obter novos movimentos; mas de todos aquele que mais nos ensinou foi Peto."


" Ainda estamos trabalhando e melhorando o nosso conceito, objetivando tratar a criança em situações funcionais, assim como em atividades da rotina em casa, na escola e em suas vidas."

Dos ensinamentos de Peto, o autor compara, descreve e comenta os seguintes itens:
1- Inibir reflexos reduz espasticidade mas não leva a intenção de movimento
2- A ênfase nas reações automáticas é interessante quando se trabalha com bebês, mas é inadequado para atividades que exijam equilíbrio
3- A necessidade de se buscar um bom equilíbrio ainda é uma das grandes fragilidades no método Bobath
4- Aprenderam com Peto que era preciso reduzir o controle gradualmente para permitir a criança seus próprio movimentos
5- Perceberam que não estava correto tentar seguir a sequência natural do desenvolvimento da criança de forma tão próxima
6- Reconheceram que seu tratamento não era levado para o dia-a-dia da família da forma como eles esperavam.

O que sempre me incomodou um pouco no Bobath era a comparação do que os meus filhos tinham que estar fazendo naquela idade e ainda não estavam. Gera uma ansiedade que por mais que nós não tentássemos comparar, era o que acabavamos fazendo e, sim, sofrendo com aquilo. A fisio proporcionava então a sensação do rolar, do tocar, do esticar para que seguissem com o desenvolvimento. São muitos alongamentos que são excelentes para deixar toda a musculatura em ordem, porém na minha visão falta ação e função nestes movimentos.


O Peto não tenta reduzir aquilo que a criança é, ou não tenta comparar com aquilo que ela devia ser. Ele apenas diz que ela é, e daquela forma ele vai fazê-la ser útil. Sempre executando uma atividade com propósito, que proporcione o desejo, e que se explore sua intenção.

Friday, October 20, 2006

Ester Cotton: pioneira


Ester Cotton trabalhava com Dr. Bobath e foi passar férias na Hungria onde iria rever uns amigos. Por sugestão dele foi ver o que Dr. Peto fazia. Quando estava lá pensou até em não ir, afinal ela trabalhava no melhor centro de fisioterapia que já se tinha tido notícia, em um país desenvolvido e rico, o que ela iria fazer no seu tempo livre que tinha de férias ! Mas lembrou da insistência de Dr. Bobath e foi.

Depois de um dia de visitas no Instituto, e ser recebida pessoalmente por Andras Peto, ela se descreve cansada, confusa e muito impressionada com o trabalho que ela viu naquele país que ela tinha ido por acaso.
Ao chegar a noite ao hotel, ela não conseguia mais parar de pensar nas crianças que tinha visto, como eles conseguiam aqueles resultados. Resolveu passar uma semana por lá, dentro do Instituto. Era o ano de 1964.

No outro dia ela se dirigiu ao Dr. Peto com a seguinte pergunta:
' Dr. Peto como àquelas crianças conseguem realizar estas atividades por elas mesmas ?'

E ele respondeu:
' Porquê é isto que eu espero delas.'

A Sociedade de Espasticidade da Inglaterra foi a primeira instituição a financiar esta fisioterapeuta, um ano mais tarde, à ir a Hungria estudar o método Peto. Foi ela que trouxe a Educação Condutiva para 'fora' da Hungria. Foi a partir de artigos publicados por ela, em inglês, que outros países tiveram acesso ao método.

Seu primeiro artigo publicado em 1965 foi 'The Institute for movement therapy and school for conductors.' publicado nos anais do Congresso de neurologia da criança e desenvolvimento da medicina. Depois destes foram inúmeros trabalhos, livros e muitas memórias pra contar.

Em 1967 morre o Dr. Peto sem chegar a ver a Educação Condutiva fora do reduto de seu país. O primeiro centro inicou seus trabalhos em 1968, na cidade de Watford, Inglaterra, por Ester Cotton.


Tratamento e Ensino


É comum as pessoas me perguntarem como é o 'tratamento' que meus filhos estão tendo. A palavra tratamento leva a uma percepção errônea da situação, já que um tratamento sempre 'cura' alguma situação. Mas a paralisia cerebral não é uma doença. Ela não progride, não se altera, não muda. Uma vez tendo aquela 'cicatriz' ela ali permanece e da forma como ela ficou ela será. Não tem 'cura'.

Ontem eu ainda via um programa no Channel 4 falando sobre danos cerebrais. Era um testemunho de um adolescente que se meteu em briga de amigos, levou uma tijolada na cabeça e ficou com uma lesão no cérebro. A partir dali não se sabe a proporção da lesão no dia a dia na pessoa, mas ela terá sempre uma lesão.

De maneira geral crianças com paralisia cerebral são classificadas com as seguintes dificuldades :
a) motoras
b) de comunicação
c) funcional
d) de aprendizado
e) psicológicas
Todos estes sintomas, causados pela mesma causa ocorrida no cérebro, é normalmente tratado individualmente pelo terapeuta apropriado, em sessões específicas, orientadas e individuais. A criança passa então por diversas terapeutas que trabalham cada uma a sua área.

O Professor Peto já unifica esta visão e trabalha todos estes sintomas sobre o mesmo guarda-chuva. Ele enxerga a criança com uma falta de habilidade em aprender neste seu ambiente de insegurança e confusão. A Educação Condutiva é organizada de uma forma que permita a criança o aprendizado. A sala, os condutores, os horários e o programa que permite a criança um ambiente seguro, estimulante e motivante.

Então não se usa a palavra tratamento, mas sim o ensino através de uma escola que ensina meus filhos a realizar as funções que eles não tiveram a oportunidade de aprenderem sozinhos. Na escola eles recebem os objetivos que devem ser alcançados. A cada objetivo alcançado se passa a um outro objetivo, e assim por diante até desenvolverem as funções básicas e necessárias visando sua independência.

Thursday, October 19, 2006

Sonhar e ser!


Minha mãe não deixou passar e me fez lembrar Lindolf Bell, o poeta catarinense:

"se não for sonho não vale a pena viver...
pois de sonho em sonho aprende-se a ser."


"...a face inversa da luz
onde me extravio
e não cessarei jamais.
Pois menor que meu sonho
não posso ser..."


Lindolf Bell

Wednesday, October 18, 2006

Sonhei, sonho, sonhar...


Não é a primeira, nem a segunda vez que sou abordada por alguém pra me contar um sonho! Já perdi a conta de quantos telefonemas recebi, contando um sonho com meus filhos. Silvia, Simone, Samantha, Nice, Vanilde, Bebel, Nelsíria, Lígia, Fernanda, Carol, Ana, Tina, Cacá, Adriana e outras tantas mais! Alguns chegam a me relatar em e-mails, outros precisam me ligar pra me contar. Em Florianópolis mesmo já me aconteceu de uma pessoa, que eu nem conhecia, me abordar dizendo que sonhara com meus filhos! E a Sami chegou a me contar que eu engravidaria de uma menina moreninha, que seria a minha cara!

Não sei se desejamos o que sonhamos, se planejamos para nós mesmos, se buscamos estar em contato com alguém através dos sonhos. Existem sonhos tão reais que acabamos até nos confundindo com a realidade! Que sensação estranha! Pensei já ter te contado uma coisa, mas nada, aquilo tinha sido em um sonho. As vezes acho que tento resolver algumas coisas através de sonhos para poder ter mais tempo de dia para resolver outras coisas!

Normalmente o sonho que relatam de meus filhos é apenas com um deles. E as pessoas fazem questão de me dizer que eles estavam de pé e caminhando! Acho que o sonho dá uma alegria tão grande pra quem sonha que elas querem compartilhar comigo esta mesma alegria! Eu sei que só se trata de um sonho, mas me impressiona a quantidade de pessoas que me contam seus sonhos com um 'final' tão parecido!

Eu mesma nunca tinha sonhado com eles. E comecei a sonhar este ano! O sonho era tão claro, tão límpido, que parecia mesmo um sonho! Não sei se liberei alguma coisa dentro de mim para poder sonhar com eles, ou se tenho acreditado ainda mais no potencial deles. De todas as formas sei bem o limite entre sonho e realidade, e sei também que não há Educação Condutiva que consiga tantos resultados...

Tuesday, October 17, 2006

Rotina na escola


Descrevo a seguir a rotina diária das crianças do grupo Pré-escola do National Institute of Conductive Educational em Birmingham. Este grupo é formado por crianças entre 3 e 7 anos com diferentes tipos de paralisia cerebral. A escola também prepara as crianças para que estejam aptas ao ingresso na escola regular.

Toda a rotina é principalmente direcionada para o desenvolvimento motor, mas as crianças também trabalham o desenvolvimento de suas habilidades auditivas e de fala, reconhecimento do seu entorno, habilidades de percepção, manipulação, e coordenação de mãos-olhos.

Esta rotina é usada atualmente por meus filhos, ela pode ser alterada eventualmente.

8.00 - 8.30
- Preparação de sala, equipamentos e programa acadêmico pelos condutores.

8.30 - 9.00 Enfoca-se o desenvolvimento pessoal, social e emocional
- Horário de chegada das crianças recepcionados pelas condutoras.
- Encaminhamento ao banheiro, onde as crianças sentam-se no pinico ou no vaso.
- Troca de roupas, onde se aprende as maneiras de se vestir e despir
- Brincar livre, enquanto todas as crianças estejam prontas para iniciar o programa

9.00 – 9.45 Enfoca-se o desenvolvimento pessoal, social e emocional
- Chamada, com aprendizado dos números e visualiazação dos nomes
- Previsão do tempo, verificando o tempo lá fora e aprendendo dia de semana
- Introdução do tema que será trabalhado no programa a seguir ( por exemplo: passeio de barco, colher frutas no outono, viagem de trem, etc.)
- Programa Deitado incluindo os elementos do tema da semana
Eu gostaria de detalhar este programa em outro tópico, mas de forma geral se trabalha o aprendizado em mudança de posições à partir da posição deitado.
O programa deitado enfoca o desenvolvimento físico, conhecimento e compreensão do mundo, desenvolvimento matemático, comunicação, linguagem e alfabetização, além do desenvolvimento pessoal, social e emocional.

9.45 - 10.10 Enfoca-se o desenvolvimento pessoal, social e emocional, e físico
- É feito o caminhar até a mesa do lanche
- Os condutores preparam a sala para as atividades individuais (levantam as camas para deixar espaço livre)
- Preparação do lanche
- Recreação

10.10 - 10.35 Enfoca-se o desenvolvimento pessoal, social e emocional, e físico
- Lanche, onde se aprende maneiras de se alimentar usando as mãos e a beber segurando seu copo

10.35 - 11.15 Enfoca-se o desenvolvimento pessoal, social e emocional, e físico
- Programa Individual rolando-sentando-levantando.
O programa individula é trabalhado dependendo das necssidads de cada criança. É feito de forma individual, como se fosse um circuito, onde cada criança tem seuestágio e é auxiliado por uma ou duas condutoras dependendo da necessidade da criança. O programa também inclui os elementos do tema semanal e além do desenvolvimento físico, trabalha o reconhecimento do ambiente, compreensão do mundo, desenvolvimento matemático, comunicação, linguagem e alfabetização.

11.15 - 11.30 Enfoca-se o desenvolvimento pessoal, social e emocional, e físico
- Encaminhamento ao banheiro
- É feito o caminhar até a mesa para o trabalho de manipulação

11.30 - 11.55 Enfoca-se o desenvolvimento físico, de comunicação, linguagem e alfabetização
- Programa de Manipulação inclui linguagem, soprar, provar sabores, emitir sons, escutar a própria voz, falar seu nome, etc.

11.55 – 12.00
- É feito o caminhar até a saída para as crianças que saem neste horário (caso de um de meus filhos)
- É feito um relato de como foi seu dia pela condutora que o acompanha

12.05 - 12.25
- É dado início ao Programa Acadêmico onde são trabalhados os assuntos de acordo com a programação pedagógica, por exemplo: segunda-feira com comunicação, linguagem e alfabetização, na terça-feira a matemática, na quarta-feira mais uma vez a comunicação, linguagem e alfabetização e escrita, na quinta-feira reconhecimento e compreensão do mundo , com geografia e ciências, na sexta-feira se trabalha o desenvolvimento criativo, como artes, recortes, pinturas e habilidades manuais.

12.25 – 1.00 Enfoca-se o desenvolvimento pessoal, social e emocional, e físico
- Preparação de almoço
- Encaminhamento ao banheiro
- Recreação livre
- Almoço

1.00-1.30 Enfoca-se o desenvolvimento pessoal, social e emocional, e físico
- Encaminhamento ao banheiro
- Troca de roupas
- Recreação
- É feito o caminhar até a saída para as crianças que saem neste horário (caso de meu outro filho)

1.30-3.00
Trabalha-se o curriculum acadêmico da escola regular para as crianças acima de 5 anos.

Thursday, October 12, 2006

Dia-a-dia: dicas


Existem alguns movimentos tão simples que usamos em nosso dia-a-dia que, de tão simples, acabo esquecendo de praticá-los com meus filhos. Aqui descrevo algumas tarefas que tento lembrar na minha rotina.

O apoio que se coloca sempre para os pés. Este apoio dá a eles o equilíbrio enquanto sentados. Imagine você sentado em um banco destes altos, onde não alcançamos o chão, perdemos o equilíbrio mesmo. Este apoio para os pés ajuda mesmo.

O mesmo serve para o uso de botinhas nos pés. Quando pequena eu usei destas botas pra 'pé-chato', nem sei direito pra que serviam, mas se era para consertar uma leve inclinação, imagine como podem beneficiar aos meus filhos que não tem o pézinho totalmente plano no chão e perdem o equilíbrio facilmente. Já andou de ski ? Só com botona né...

O primeiro talher que damos aos nossos pequenos é a colher. Já tentou comer macarrão de colher ? É difícil comer de colher sem que se dê uma ajudinha com o dedo! Então porque não o garfo ? Sim, o garfo.

O apoio dos cotovelos na mesa (daquele jeito que nossos pais diziam ser falta de educação) dá apoio ao tronco e facilita o movimento dos braços. Se ele não consegue sozinho levar a colher ou o garfo a boca, então faça com que ele segure a sua mão e então a sua mão vai a boca dele. Assim o mesmo movimentos com a bolacha, a escova de dentes, o lápis. Repito: a bolacha vai na minha mão e ele segura a minha mão.

Antes e depois das refeições sempre lavamos as mãos. Com meus filhos trago um prato fundo com água para que eles mergulhem a mão na água e possam então lavar seus rostos e mãos. Depois uma toalha fica na frente deles para que eles possam ter a intenção do movimento de secar-se, ir até ela e tocá-la.

Brincar ? Lembra da brincadeira mais simples, a primeira que o bebê aprende ? Jogar no chão tudo o que vê pela frente. A diversão do bebê é jogar no chão para ver a gente buscar. É uma ótima brincadeira, derrubar uma torre, jogar o copo no chão, derrubar uma bola ou uma boneca. Várias vezes.

São tarefas tão simples, ás vezes até ridículas, mas é com a conquista de cada uma delas, passo a passo, que se atinge um grande objetivo.



Elementos e mobiliário


A Educação Condutiva incentiva o trabalho por longos períodos de tempo levando a superar alguns de seus problemas motores. Através da liderença do condutor, e com o uso dos móveis especializados, ela proporciona o uso de sua própria inteligência para o entendimento destas dificuldades. Com a intenção rítmica e a observação no grupo leva àqueles que visualizam se mover, serem ativos e tornarem-se independentes.

Os principais elementos da Educação Condutiva são:

  • o condutor
  • o grupo
  • a intenção rítmica
  • o mobiliário específico
  • a rotina diária

O condutor premia cada pequena conquista atingida. Esta conquista é compartilhada pelo grupo, fazendo com que o grupo observe, reflita e vislumbre também aquele objetivo como seu.

A intenção rítmica é constante. Todo movimento é repetido inúmeras vezes, e 'cantado' através de uma melodia conhecida. Por exemplo, sempre que a criança fica em pé:
" Estou de pé, 1, 2 , 3. Estou de pé bem bonito,1, 2, 3. Estou de pé, bonito e retinho, 1, 2, 3. Estou de pé, estou de pé, estou de pé."
Ou, ao esticar o braço:
"Estico meu braço lá em cima. Lá em cima. Estico meu braço lá em cima. Lá em cima. Estico meu braço lá em cima. Lá em cima."

O mobiliário é simples e pode ser fabricado sem nenhuma dificuldade. A grande diferença entre os usuais, é que ele sempre dá a opção que a criança se 'segure' ou se 'agarre' seja na mesa. Eles têm o estilo de um 'estrado de cama', não é sólido, mas sim com ripas de madeira lado a lado. Descrevo abaixo alguns deles:
  • cama / mesa
  • barra de segurar
  • cadeira com encosto
  • caixa para os pés
  • banco
  • escada
A cama é usada nos movimentos como rolar, arrastar, descer da cama, colocar os pés no chão, ficar de pé apoiando-se na cama, sentar-se a partir do em pé. Esta mesma cama se transforma em mesa quando se é colocada em volta as cadeiras. Na mesa, com o auxílio de barras de madeira a criança se segura com uma ou duas mãos, dependendo da tarefa a ser realizada. Na mesa se realiza o brincar, pintar, as refeições, os movimentos com as mãos. A cadeira com encosto é usada para a criança sentar-se a mesa. Sob os pés são colocadas caixas de madeira para que os pés fiquem sempre com apoio. Com esta mesma cadeira se exercita o andar. A criança segura no encosto da cadeira e vai empurrando dando apoio e intenção no caminhar. Também são usadas escadas que servem de apoio para os braços nos movimentos de pé e no andar, e bancos, com eles se exercita o sentar sem apoio.

Tuesday, October 10, 2006

O potencial de cada um


As condutoras que trabalhavam com Andras Peto o chamaram para ver uma criança que não conseguia atingir seu objetivo já a algum tempo. Ele tinha que subir e descer três degraus de uma escadinha. Era seu objetivo e elas não estavam conseguindo realizá-lo. A criança parecia ter todas as condições mas elas estavam inseguras e depois de várias tentativas resolveram mesmo chamar Peto.
Ele chegou na sala e 'simplesmente' chamou a criança pelo nome e disse: ' Eu vim aqui te ver subir estes degraus. Você pode, tem todas as condições. Suba agora. Um, dois, três.' E assim a criança o fez, um, dois e três; subiu os degraus e desceu.
As condutoras envergonhadas se entreolharam e parabenizaram a criança. Ao sair falaram ao Peto: ' Foi muito difícil conosco, como o senhor conseguiu ? O senhor deve ter algo muito especial mesmo, não foi a criança, foi o senhor!'
Ele retrucou em forma de quase deboche: ' Eu ? Fui eu ? Quem subiu aquela escada não fui eu!'
E assim Peto demonstrava não ter nenhuma 'mágica' e que ele não era nenhum 'milagroso'. Ele era decisivo, direto e pontual em seus objetivos.
Simplesmente acreditava no potencial que cada um tem.

Na Educação Condutiva não se aprende um movimento, mas sim a resolução de problemas. Todos os programas que são realizados habilitam a criança a desenvolver o que ela não sabe fazer, e não praticar aquilo que ela já sabe. Os condutores ajudam as crianças a pensar. Se a criança quer mostrar alguma coisa, eles param, observam e comentam sobre aquilo. Então eles convertem aquilo que a criança quer fazer com o que o condutor realmente deseja realizar. A indiferença frente a intenção que a criança tem é o pior retorno que se pode dar.
As crianças devem aprender a querer, viver, resolver seus problemas, lutar por suas coisas, esforçar-se. A intenção leva a uma nova perspectiva de vida.
O grupo que se trabalha inclui as crianças e os condutores com seus auxiliares. O condutor líder vê o grupo como uma só unidade, eles precisam trabalhar precisamente juntos. Cada novo passo é dado depois que cada um do grupo atingiu seus objetivos estabelecidos.

O grupo é como uma orquestra. Eles tocam juntos. O condutor é o maestro. Cada criança é um instrumento diferente, tocando a mesma melodia.

Sunday, October 08, 2006

Maturidade aos três anos


Me inscrevi para uma bolsa de estágio internacional, era uma seleção entre todos os países da América Latina, uma chance em mil de ser selecionada. Sempre tive vontade de conhecer uma nova cultura, uma nova língua e de ter uma experiência de trabalho no exterior. Pensei na chance de ir, na vontade de ir e, mesmo sendo muito difícil passar, decidi me inscrever.
Era uma proposta de trabalho na minha área de atuação, desenvolver uma laboratório multimídia em uma empresa de tecnologia. Trabalhar nesta área era aquilo que eu mais gostava de fazer, e nesta situação então, era tentadora.
Eu conseguia imaginar meu trabalho, minha nova casa e meu grupo de amigos. Ao mesmo tempo que o coração me batia na garganta eu tinha desejo de estar lá o quanto antes.
Era fim de agosto quando recebi a carta de aceitação e eu deveria me apresentar até a segunda quinzena de setembro. Eu tinha tanta coisa pra decidir, que não tive muito tempo para pensar. Antes da data eu já estava em Madrid assinando os papéis do contrato, sozinha, procurando um lugar pra morar. Eu tinha 23 anos e já me considerava madura para a situação.
Eu estava sozinha, em um país distante, sem nenhum conhecido, sem falar o idioma, andava pelas ruas e todos pareciam me afrontar, me sentia com 'movimentos lentos', como se o meu corpo fosse mais pesado do que eu, e por mais que eu me esforçasse não conseguia dar os passos que queria. A minha cabeça estava super ocupada procurando casa, móveis, amigos, ônibus, trem, casaco, plano de trabalho, equipamentos.

Todo este filme passou em minha cabeça quando trouxe meus filhos para uma escola fora do país. Meus dois filhos, aos 3 anos de idade estavam vivendo aquela experiência que eu vivi com 23. Estavam em um novo país, em uma nova escola, com novos amigos, uma nova língua. A nossa adaptação a nova casa, ao clima frio, ao transporte, a localização, ao novo conceito de trabalho.
Imagino que eles também sintam seu corpo pesado, ou melhor, amarrado. Ver toda aquela nova situação dá mesmo vontade de fugir, mas para poder fugir eles precisam de auxílio. Sempre que vivenciam uma nova situação, sem que antes tenhamos a habilidade de explicar todo o roteiro, eles tentar se esquivar, seja aos choros ou com 'uma nova idéia menos assustadora'.
A Educação Condutiva tem dado a eles muita confiança no que eles podem e não podem fazer, naquilo que eles têm condições de visualizar, e na determinação e entusiasmo de executar suas ações. Eles administram tudo isso muito bem, talvez melhor do que com a minha sensação de maturidade aos 23.

Sou eu, que como mãe, os vejo indefesos. Seja por um mosquito que vem morder, ou por uma criança que vem bater. Espero mudar meu modo de pensar, espero vê-los maduros, ou que se sintam assim, ainda mais confiantes do que podem.

Saturday, October 07, 2006

Este blog faz um mês


Hoje, 7 de outubro, 22 artigos depois, com mais de 20 comentários publicados, além dos mais de 50 que recebi em minha caixa postal, fico feliz! São estes singelos números que me fazem escrever, com maior prazer e repassar aos amigos minha forma de vida, aos colegas um novo conceito de atividade para as crianças com lesão cerebral e aos desconhecidos uma nova esperança.
Desde que recebi o primeiro, e naquele momento obscuro diagnóstico que nos levaria a uma vida 'não natural' sempre questionei. " Existe alguma chance ? Pois se existe, me deixe acreditar nela. A esperança é que me motiva seguir adiante." Obrigada a todos vocês que lêem ;)

Luria, Vygotsky e Peto


Luria, Vygostky e Peto respeitavam a personalidade holística de cada criança. Estes três estudiosos viam o ser humano como uma pessoa ativa que necessitava de simultânea atividade do corpo-mente. Afirmavam que a passividade e apatia eram (e são) os piores inimigos da criança.
Peto fazia com que suas crianças vivessem em constante desafio à si mesmas, criando um ambiente de oportunidades na resolução de seus problemas, o que os levaram a ter experiências de sucesso.
A dinâmica do grupo e as experiências que este grupo desempenham, favorece o quesito segurança e socialização. Vygotsky e Peto aplicam este conceito, prevenindo assim o isolamento.
Luria e Peto viam na reabilitação de pessoas com um cérebro danificado, a necessidade de um treinamento sistemático e prolongado. Peto ainda incluia que a motivação para a realização de qualquer tarefa é decisiva na sua reabilitação.
Entre outras comparações, estes estudos entre as teorias de Vygotski, Luria e Peto, podem ser encontrados no artigo : " Analogies between the Vygotskian - Luria theory and Peto´s approach (Conductive Education)" escrito por Anita Tatlow em 1997.
A Educação Condutiva tem um papel de constante observador sobre as necessidades de cada criança, modificando sua próxima tarefa assim que ela tenha sido alcançada. As tarefas são todas simples e são comemoradas a cada pequeno avanço. O condutor é um educador disposto, meticuloso, atento e alegre.
A visão holística, que se tem sobre a criança, tendo integrado o social, cognitivo e físico; faz com que perceba-se a interligação destes 'sistemas'. O que quero dizer é que se vê o progresso de uma destas áreas, afetar o progresso de outra. Por exemplo, a participação no grupo leva a uma interação social, que facilita a compreensão cognitiva, por exemplo esperar sua vez, ajudar quem está ao lado passando um objeto, e levando assim também ao desempenho motor.
Esta construção se dá no dia-a-dia da criança, desde o momento que se acorda, até a hora que se vai deitar. O Instituto Peto, impulsionado pelo mesmo, iniciou atendendo crianças destas forma, em sistema de 'internato'. Na mesma sala que elas trabalhavam, elas dormiam. E assim, dia e noite, noite e dia.
Ainda hoje existe esta forma de trabalho, mas a maioria dos atendimentos se dá por até 6 horas diárias. Com o novo posicionamento de 'inclusão social' também se modificou esta idéia, já que as crianças podem ficar parte na educação condutiva e outra parte da escola regular.

Tuesday, October 03, 2006

Cérebro novo


"Ele consegue parar o tempo, ler pensamentos, mover objetos a distância e se reconstruir de acordo com a necessidade. Parecem super poderes de histórias em quadrinhos, mas são apenas algumas das descobertas que neurocientistas fizeram ao longo da última década sobre o cérebro." Foi assim que começou a matéria da revista Super interessante de agosto.
Os novos estudos sobre o cérebro são algumas das portas que vêm sendo abertas para aqueles que sofreram ou sofrem alguma lesão cerebral.

Meus filhos têm uma cicatriz no cérebro. Ao nascerem com 28 semanas de gestação (uma gravidez natural ocorre as 40 semanas), eles sofreram uma hemorragia, na verdade uma certa quantidade de veias muito finas localizadas em uma região muito sensível, que devido as condições externas ainda não serem apropriadas, estouraram e cicatrizam aquele local. Ali, onde cicatrizou, a célula não se renova, e então define-se a paralisia cerebral.

O que se sabe, e ainda bem que atualmente já se acredita, é que as áreas próximas daquelas atingidas podem passar a executar a função daquelas que foram lesionadas. É a capacidade que o cérebro tem de se auto-regenerar, de se dar nova função aquelas células. A isto chama-se de plasticidade neuronal.

Na matéria da Super não me impressiono quando ele fala em ler pensamentos ou mover objetos a distância, mas sim no super poder que o cérebro tem de se reconstruir! Imaginamos assim como um rabo de lagartixa, que nasce de novo ao ser cortado. Imagine isso em humanos! O que se sabe hoje é que sim, podemos realizar esta tarefa, mas apenas com as células do cérebro.

Peto foi um do caras que já falava na plasticidade cerebral. Ele não era um mágico, mas era visto como um! Imagine em uma época daquelas falar nisto, claro que foi criticado e satirizado. Mas ele era um estudioso, não dava ponto sem nó. Todas as suas atividades, todo o seu método foi fundamentado em pesquisa, em novas descobertas, e ele só não ficou no esquecimento, porque provou tudo o que escreveu.


O sistema de Andras Peto tem um propósito, é consistente e é desenvolvido com um passo em cima do outro. Ao falar em voz alta: - Movo minha perna direita. Levanto meu braço esquerdo. Ele está enviando sinais ao cérebro para que execute a ordem da forma que estou solicitando. São ordens que com o tempo passam a serem automatizadas pelo corpo, sem que precisem ser ditas em voz alta, mas estão sendo executadas daquela forma ordenada e internalizada. É assim que a Educação Condutiva motiva a pessoa ao seu trabalho, usando sua inteligência para entender os seus problemas motores e ordenar para que seu corpo execute as ações de forma ativa e independente.

Graças a ciência que é a medicina, está sendo possível comemorar o aniversário de vida de meus dois filhos todos os anos. Graças aos médicos, enfermeiros, aparelhos, medicações, e outros estudiosos, está sendo possível fazer 'sobreviver' crianças que antes não teriam condições de vida. Por outro lado, ainda não se consegue evitar a paralisia cerebral no momento do nascimento, que não tendo o corpo ainda preparado para o ambiente, mostra-se um crescimento no índice de crianças com alguma dificuldade neurológica.

Há alguns anos àquelas que nasciam com algum problema em órgãos vitais também não tinham esta chance. Hoje, qualquer órgão vital pode ser operado, retirado, regenerado e até substituído. Seja rim, pulmão ou coração. Mas ainda nada se faz pelo cérebro. Ainda nada pelo cérebro.