Educação Condutiva - com amor

Quero escrever sobre Educação Condutiva porque me apaixonei por este método, cheio de amor, que tem atendido aos meus filhos com p.c. Quero descrever o que tenho estudado, aprendido, escutado e sentido ... Tenho a vontade de abraçar o mundo e fazer com que todas as crianças na mesma condição motora de meus filhos, tenham a chance de receber toda esta inteligência, técnica, forma de agir, pensar e sentir, que com todo carinho o Dr. Andras Peto deixou de herança.

Wednesday, August 29, 2007

Luma


Logo que meus filhos nasceram decidimos por nos mudar para uma casa, nosso apartamento tinha ficado pequeno para uma inesperada gravidez de gêmeos. Eu sempre morei em casa e meu marido também. Casa, jardim, árvores, passarinhos, ar, espaço. Quase completo, faltavam os cachorros.

Decidimos por ter uma cachorra que cuidasse da casa, nos fizesse compania e principalmente pudesse estimular os meninos. A alegria de um cachorrinho, o vai e vém dele, correndo de um lado ao outro sem sossego, mesmo que roubando meias, lambendo nossos dedos, mordendo nossa canela, é um teatro que se faz e se cria todo dia, a cada instante.

Então fomos buscar a Luma, nossa pastor alemão. Ela veio meio assustada e ficou muito acomodada, parecia tímida na nova casa. Naquele momento a alegria e o teatro foram representados por nós adultos, que adoramos o presente. Ela chegou em casa com uns quatro meses, apenas uns dois a mais que os meninos.

Mas aquela acomodação e quietude não ficou somente no primeiro dia, nem na primeira semana. Onde ela dormia ela ficava, fazíamos ela conhecer a casa, ir de um lado a outro, mas ela logo cansava. Parava e ali descansava. Trazíamos os meninos para junto dela, era uma alegria só, passar a mão no pêlo, sentar em cima dela, fazer carinho, dar ração na boca, receber lambidas. Mas ela quase não andava, nem corria.

Ela parecia triste. Na verdade ela tinha displasia.

"Displasia é uma doença que dá em algumas raças, muito comum em pastor alemão, sempre em fêmeas. Ela é hereditária e genética, e afeta a articulação coxo-femural. Esta articulação é formada pela cabeça do femur e a cavidade acetabular dos ossos da bacia, e é responsável pela transmissão das forças da coluna vertebral pelo membro posterior até ao solo quando o animal anda ou corre. Esta falta de resistência dos tecidos moles envolventes da articulação origina precocemente sub-luxação articular (cabeça do femur mal encaixada na cavidade acetabular) e posteriormente lesões de artrose."

O que acontece com meu mundo que traz para dentro da minha casa uma cachorra com lesão no quadril que não consegue correr e andar?

... ... ...

Essas reticências querem dizer muita coisa, muitos pensamentos imbecis, momentos de desentendimento comigo e com o universo, muitos momentos de questionamentos sem sentido e esforços tensos desnecessários. Reflexões que nunca deveriam ter sido feitas, pensamentos que nunca poderiam me ocorrer, momentos importantes, que me marcaram, me transformaram e me fizeram viver.

Hoje nossa Luma está fazendo 5 anos. Ela é uma cachorra linda, tem respeito e impõe respeito. Com uma pelagem brilhosa e um tamanho descomunal, ela corre e brinca pelo terreno. Ela faz ainda seu tratamento, toma medição, faz regime e tem ração especial para lidar com sua dificuldade. Mas ela é uma gigante, aos meus olhos, do tamanho do Clifford, que cresceu conosco tanto tanto, se destacando entre tantas pastoras. Como o cachorro vermelho do Discovery Kids, ela ficou assim tão grande de tanto amor que recebeu.



Informações sobre displasia retiradas do Guia do Criador do site do Clube Português de Canicultura.

Saturday, August 25, 2007

Auto-defesa



Hoje fomos até a praça dar comida aos pássaros. Parecia uma tarefa agradável, simples e natural. Para meus filhos não foi.

Levamos um saquinho de milho e chamamos eles até nós. Vieram vários, muitos mesmo. E foi para mim uma delícia ver eles a nossa volta, se deslocando para todos os lados, qualquer local que pudessem encontrar um grãozinho.

Esta movimentação sem sentido, ora pra direita, pra esquerda, pra cima, uma turma indo para um lado, outras para o outro, alguns deles até se chocando no ar. Esta `desorganização` e os movimentos `surpresa`, fizeram com que um de meus filhos tivesse medo. Parecia uma daquelas festinhas de aniversário que ele entra aos prantos e sai chorando mais ainda.

Eu poderia achar que festinhas de aniversário, entrar em uma sala de cinema ou ver pessoas dentro de bonecos, estivessem todas associadas a alguma aversão à novas pessoas. Mas neste momento a reação e o sentimento dele era o mesmo, e eram pássaros.

Esta situação está relacionada com a auto-defesa deles, que é, sem dúvida muito frágil. Eles têm vontade de fugir, de correr, de sumir, e o máximo que podem fazer é chorar desesperadamente ou gritar:
- Mãe, me tira daqui!
Mas... não é sempre que a mãe responde da forma como eles querem. Procuro fazê-los viver as experiências, querendo ou não, agradando ou não.

O movimento surpresa dos pássaros, a movimentação desordenada, algumas vezes até batendo na gente, outras batendo suas asas aceleradamente, ou fazendo um ruído estranho. Era muita surpresa, tudo novidade. Viver situações assim irão mostrar que nem tudo é lógico e possível de determinar. Surpresas acontecem sempre e temos que administrá-las.

A auto-defesa é frágil para uns quando a pessoa têm noção do perigo, das situações a realizar e se vê completamente indefesa nos momentos críticos. Para outros ela é frágil justamente quando a pessoa não tem a noção da dificuldade a ser encarada, talvez por não ter maturidade para tal ou por parecer irresponsável algumas vezes.

Para mim, pode parecer antagônico, mas como saber se meu filho não chora por não ter noção de sua dificuldade, ou não chora porquê ele já se sente seguro com aquela situação?

Thursday, August 23, 2007

Bonecas


Fomos convidados para oferecer uma oficina sobre a Educação Condutiva no Congresso de Motricidade Humana que ocorrerá no próximo mês em Florianópolis (estão todos convidados!). Estamos planejando as atividades para poder alcançar nosso objetivo de divulgar este método e que possamos oportunizar mais crianças com este rico aprendizado.

Pretendemos unir teoria, vídeos, experiências e estar aberto para responder aos questionamentos existentes. Na última palestra que realizamos, sentimos falta de demonstrar mais prática. Mas como realizar isto em uma sala para 200 pessoas? Alguns sugerem levar as crianças e fazer uma pequena 'demonstração': claro como no zoológico, quando as focas se apresentam. Ai ai.

Estamos buscando a melhor forma de nos apresentar neste Congresso e sugeri a condutora para levarmos bonecas, assim poderíamos simular os movimentos. E a resposta foi mais do que óbvia:
- Leticia, bonecas não respondem as minhas ordens. Eu digo estica as pernas e elas não esticam. O que eu vou fazer com uma boneca ?

Parece uma resposta simples, mas para mim muito profunda e que me fez refletir, por quantas vezes algumas das fisioterapeutas que conheci, nos ensinaram a movimentar os meus filhos com bonecas.

A forma passiva que aprendi a trabalhar com eles, faz parte de meu passado. Agradeço estar vivendo esta oportunidade e poder aprender de forma permanente o que estamos vivendo, para não voltar a viver a 'ressaca' que senti certa vez, após ficar um período sem educação condutiva.

Wednesday, August 22, 2007

Se moldando como água


A primeira vez que pude experimentar a Educação Condutiva foi nossa experiência no México, onde fui em busca de um método que me parecia novo, mas apenas para mim ele era novidade. Desde então me deixou inquieta para poder buscar mais e mais sobre como proporcionar este método aos meus filhos. Fomos em busca, experimentamos e validamos. Hoje podemos vivenciar este sistema em nossa cidade, aqui no Brasil.

Ainda me coloco na situação de outros pais que têm essa vontade, essa dúvida aqui dentro para ser respondida, uma ansiedade que não termina, buscando sempre um algo a mais, um algo melhor. A sensação de não estar fazendo `tudo`, a sensação de `poder fazer mais`. Dentro de mim sempre tinha uma vontade de preencher todos os espaços, assim como a água que inunda qualquer recipiente e se molda a ele.

A Educação Condutiva trouxe para mim um momento de transformação, gostar do que meus filhos fazem, dos planos a seguir, dos trabalhos a completar, do resultado a observar. Não sei dizer se este método a isto se propõe, se ele é o melhor que há. Sei que estar tranquila de estar oferecendo esta forma de aprendizado à eles, e me sentir livre por não precisar de muito mais, isto é o melhor que pode existir. Neste momento me sinto então como a água, me moldando ao meu mundo, me sentindo completa nele, satisfeita com o que temos feito pelo desenvolvimento deles.

Friday, August 17, 2007

O poder da superação


Li uma matéria na Isto É que falava do Poder da Superação. A matéria fala de portadores de deficiência e sua vida rotineira, o surdocego Carlos que salta de pára-quedas, a tetraplégica Flávia que está grávida de gêmeos, o cego Alberto que é endurista de cavalos. Uma matéria real, de uma vida real, mostrando as dificuldades naturais, sem a tristeza grudada nas histórias existentes. Adrenalina, emoção, felicidade, e muitas sensações novas são descritas por eles. O que mais me emocionou, foi uma frase de Flávia, 34 anos:

"Se um gênio da lâmpada aparecesse para realizar três desejos meus, talvez voltar a andar não fosse um deles."

Hoje na minha família, sendo mãe de gêmeos com paralisia cerebral, vivemos uma vida muito feliz, uma vida real, natural, cheia de estímulos, e com muita ansiedade de como será nosso futuro. Às vezes achando que o que era pra ser já foi, outras achando que o que era pra ser ainda está por vir.

Meu filho sempre precisou de uma forcinha a mais na estimulação oral, buscando o sincronismo da respiração, mastigação e deglutição. Desde que iniciamos a educação condutiva, não nego, sempre fiquei ansiosa por estimular ainda mais a linguagem. E não fui fazer nada mais, além da Educação Condutiva.

Hoje ele se supera e me responde, sem eu perguntar. Ontem não queria pão com geléia, respondendo com a cabeça negativamente, então abre a boca e pede "Mel". Na sala se negou a fazer os exercícios de caminhada e dizia "João" (pois aquela era a cadeira usada pelo João). E nos mata de paixão, quando minha mãe pergunta pra ele o que ele é da vovó e ele diz "Amor".

A cada dia um pouquinho mais, nos mostrando que ainda tem muito mais por vir. Se o gênio aparecesse hoje, me sentiria confusa em saber o que pedir.


Post citando matéria da Revista Isto É de 13 de junho de 2007, escrita por Gisele Vitória e Rodrigo Cardoso.

Tuesday, August 07, 2007

Feche os olhos, e sinta


Feche seus olhos e seu mundo mudou.
Faça isso agora, por um segundo que for.
Neste momento, com seus olhos fechados perceba o mundo a sua volta.
De olhos fechados você acaba de sair do mundo das formas.
De olhos fechados você está no mundo das sensações.
Neste momento escute seus sentimentos.
Seus sentidos estarão mais apurados.
Qualquer ruído lhe chamará atenção. Um odor a sua volta irá te aguçar ainda mais. Até um vulto, uma sombra, a idéia de um movimento, será percebida.
No seu corpo você sente a sua roupa. No seu rosto a temperatura do ar.
Em pouco tempo você percebe o ar entrando e saindo das narinas, percebe seu corpo todo se movimentando com a entrada e a saída do ar em seus pulmões.
Num instante você sente a temperatura de seu corpo, onde precisa de mais calor e onde sente mais frio.
Logo na garganta, no seu pé, na sua cabeça, no seu pulso, você consegue sentir seu coração batendo.
Tudo isto é apenas você.
Seu corpo, suas sensações, seu mundo de sentimentos.
O que aconteceu, seu mundo mudou?
Você apenas fechou os olhos, e ao abri-los tem a impressão de que aquelas sensações desapareceram.
Na verdade, esquece que você está ali.

Quantas sensações temos a descobrir apenas vivendo uma condição diferente. Fico mais uma vez imaginando meus filhos experimentando todas as sensações e sentimentos em seu mundo. Tão diferente do meu. E somente com esta simples experiência de fechar os olhos, tenho a certeza que eles experimentam um mundo mais sensível, puro e rico em sensações deliciosas.

Monday, August 06, 2007

Curso de Férias, os pais falam


Depois de três semanas de rico aprendizado eu gostaria de registrar um pouco do tempo que passamos juntos, discutindo e conhecendo a Educação Condutiva. Através dela pudemos conhecer um pouco mais de nossos filhos e a nós mesmos, quando em momento de muita emoção encerramos as atividades e pudemos conferir mudanças dentro de cada um de nós, crianças, profissionais e pais.

Cada criança é fascinante, e cada uma delas nos deixou, além de uma árvore plantada por elas mesmas, muitas alegrias! Cada um de seus pais nos deixou um registro imenso, mas selecionei de cada um, uma fala que não poderia deixar de compartilhar com quem passa por aqui. Bom proveito!

"O melhor de tudo pra mim com certeza foi ver os rostinhos dos nossos pequenos, na alegria de realizar coisas. Sentiremos saudades."
Amanda Rocha – mãe do Lucas

"Foi uma experiência única, que queremos repetir."
Hernán Terenzi – pai do Enrique

"Um exemplo para ilustrar a afirmação da crença do João nas suas possibilidades foi um dialogo ocorrido no Shopping. Procurávamos uma loja de discos que não aparecia nunca, aí eu disse: - acho melhor desistir! Ao que o João retrucou: não, mãe, a gente não pode desistir das coisas! Logo em seguida achamos a loja..."
Patrícia Lacerda – mãe do João

"Há homens que lutam um dia e eles são bons
Há homens que lutam um ano inteiro e eles são melhores
Mas, há os que lutam todos os dias,
Estes são os imprescindíveis"
Brecht
Eugênia Araújo – mãe da Bia

"O curso foi bem organizado. O programa proposto foi cumprido. Efetivamente foi realizado Com Amor, justificando o nome do grupo."
César Behling – pai do Tiago

"Tenho que me orgulhar de dois pequenos de 5 anos que passam as suas férias “trabalhando” e querendo retornar no próximo dia. Parabéns as condutoras e equipe que conseguiram tal proeza: o Gabriel e o Leonardo amaram o curso e pude ver o quanto se trabalhou. Os detalhes foram buscados sem perder a essência da educação condutiva."
Rafael Kuerten – pai de Gabriel e Leonardo

"Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais, Braços dados ou não
...
Quem sabe faz a hora e não espera acontecer"
Pedro Lago – pai da Bia

Thursday, August 02, 2007

Curso de Férias chega ao fim


Amanhã encerramos nossas três semanas de curso. Foram semanas de muito aprendizado, para mim, para a equipe, para os pais e para as crianças.

Me arrisco a dizer que o planejamento foi completo, em três semanas as crianças passaram por várias áreas de conhecimento, experimentaram diversas posturas motoras, viveram a vida como ela é. Além do programa de trabalho da educação condutiva, as atividades complementares serviram como momento de aplicação do conhecimento. Nadar, cozinhar, plantar, contracenar, cantar, cavalgar, alimentar, acariciar, experimentar, rolar, sentar, andar, e sempre de forma ativa e participativa, foram alguns dos verbos que foram conjugados nesta semana de intensidade.

A cada dia cada um buscava dar o melhor de si, buscando ser melhor, estar melhor, aprender mais. Nestas semanas muitos tiveram a oportunidade de executar ações e movimentos que raramente tinham sido realizados antes. Esta é uma das chaves, realizar. Aprender a realizar.

Muitas considerações a fazer, muitas coisas a aprender para que possamos repetir esta experiência, e fazer dela uma experiência cada vez mais rica.

Agradeço imensamente as famílias que aqui estiveram, que por um momento viveram o sonho de vivenciar a educação condutiva e que, tenho certeza, continuarão saboreando os momentos que aqui passamos juntos. Estas semanas ficarão registradas pra sempre em nossas vidas, em nossa mente, em nossos corações.

Obrigada Eugênia, Pedro, Patrícia, André, Amanda, Vera, César, André, Ana Carolina, Hernán, Rafael. Obrigada por todos os momentos juntos. Obrigada por acreditarem no potencial de seus filhos e terem dado esta oportunidade à eles.

Obrigada Bárbara, Becky, Anna Rita, Juliana, Renata, Fabiola, Graziele, Silvana, Vanilde, Anna Paula, Vanessa, Fabiane, Felipe, Maria Alejandra, Maria Cristina, Silvia, Paulo, Maria, Nelson, Marina, Selma, Marilina, Simone. Obrigada pelo seu envolvimento, dedicação, paciência e amor.

Reflito com esta frase que me marca muito:
"A vida não é medida pelo número de vezes que você respirou, mas pelas inúmeras sensações que te fizeram perder o fôlego."

E certamente esta foi uma delas.

Wednesday, August 01, 2007

Por que Heloísa ?


... No dia em que Heloísa nasceu, as horas perderam o tempo. ... E o médico até sumiu. ... O doutor ressurgiu na hora H, H de Heloísa.´

Heloísa não chorou. E o médico ficou preocupado. A mãe ficou preocupada porquê o médico ficou preocupado. O pai ficou preocupado porque o médico e a mãe ficaram preocupados. A menina dormiu uns dias no hospital...

Muitas de nossas histórias começam assim. Este é um trecho do livro de Cristiana Soares, contando a história de Heloísa, baseada na vida de sua filha (Luísa) com paralisia cerebral. É um livro infantil, editado pela Companhia das Letrinhas e será lançado neste sábado em São Paulo.

Ela também fala em Educação Condutiva. Conheça mais sobre o livro e a autora.