Educação Condutiva - com amor

Quero escrever sobre Educação Condutiva porque me apaixonei por este método, cheio de amor, que tem atendido aos meus filhos com p.c. Quero descrever o que tenho estudado, aprendido, escutado e sentido ... Tenho a vontade de abraçar o mundo e fazer com que todas as crianças na mesma condição motora de meus filhos, tenham a chance de receber toda esta inteligência, técnica, forma de agir, pensar e sentir, que com todo carinho o Dr. Andras Peto deixou de herança.

Tuesday, August 31, 2010

Recuperação, cura, educação


Neste fim de semana uma senhora veio até mim e perguntou como será a recuperação de meus filhos. Entendo que nos diversos olhares que recebo, alguns de asco, outros de pena, mas alguns como este: de preocupação e cura. Cura? Paralisia cerebral não tem cura, nem tratamento, por isso acreditamos em educação, ensinamento e treinamento.

Respondi a ela com um lindo sorriso nos lábios que a recuperação deles é a vida. A vida é o nosso dia a dia que nos leva a cada dia melhor. Ser o que não fui, nunca serei. Mas mudar o que hoje sou, de forma intencional, repetitiva e dedicada, posso conquistar muito mais.

Pode ser um exemplo simples, como aprender a falar inglês, quanto mais treino, quanto mais aulas, quanto mais dedicação, melhor será meu resultado e mais eu vou aprender. Mais fácil eu poderei desenvolver minhas habilidades.

Na condição de meus filhos o aprendizado é aprender a sentar, a comer, a ficar de pé de forma independente. Andar, se locomover, chegar lá. Temos que desenhar nosso objetivo a cada dia.

Agora com 8 anos eles passam por um momento de maturidade e cada dia mais estão percebendo sua condição, algumas vezes com raiva, outras com dúvida. Nós como pais temos que dar o caminho, o caminho da vida.

Outro dia assistimos juntos na tv uma reportagem sobre o Therasuit, roupa elástica usada por astronautas que aceleram a reabilitação de crianças com paralisia cerebral. E foi da boca de um dos meus filhos que escutei:
- Eu quero experimentar esta roupa mãe.

Os objetivos que antes eram somente meus, agora passam a ser também deles. Entendo que com o passar dos anos e com mais maturidade irão percebendo a importância das rotinas que eles seguem e do bem a Educação Condutiva faz para a vida eles. Juntos conquistaremos nossos objetivos de reabilitação. No decorrer da vida.

Friday, August 27, 2010

Vídeo no Instituto Peto, Hungria


Compartilho um vídeo da CBS news, by 60 minutes falando e mostrando a educação condutiva no Instituto Peto, em Budapeste.

O vídeo conta a história de uma família que saiu dos EUA para buscar uma forma alternativa de trabalho que faz as crianças com paralisia cerebral se movimentarem adequadamente. Lá eles trabalham oito horas por dia, cinco dias por semana, repetindo as rotinas até próximo da exaustão, diz a matéria.

A idéia é: Se o cérebro está sendo forçado a tentar, em algum momento ele encontrará uma forma de conectar mente e músculo, explica uma mãe na escola húngara.

Algumas famílias, depois de tentar várias terapias nos Estados Unidos, buscam alguma esperança em Budapeste. Nesta matéria atual, escrita e publicada neste 18 de agosto, você pode descobrir mais sobre a Educação Condutiva.

Mente e músculo, O Instituto Peto tráz esperança a crianças com paralisia cerebral.

Selo Sunshine


Pelo prêmio Sunshine, no blog Pelo Prazer de Educar, Tia Renatha nos agraciou.

O Sunshine Award é premiado aos bloggers que inspiram positivamente e com criatividade a outros blogs no mundo.

Adoro ser lembrada, ainda mais por desconhecidos que nos encontram casualmente no espaço virtual, amo as visitas e estes selos que nos fortalecem para sempre continuar distribuindo amor e gentileza. Assim fazemos novos amigos, obrigada!

Thursday, August 26, 2010

Sementinha da habilidade


Uma semente precisa de tempo e estímulo adequado para crescer. Assim relata a experiência de aprendizado do autor Shinichi Suzuki no livro Nurtured by love, falando sobre a educação com talento. Ele conta a história de um papagaio que aprendeu a falar seu nome após escutar a repetição dele em mais de cinquenta vezes por dia durante dois meses. Após este intenso momento o papagaio começou a falar seu nome. Sem esta ação de repetir incansavelmente, de forma metódica e diariamente, a ave não teria adquirido esta habilidade ou desenvolvido este talento.

Com o treinamento diário o conhecimento vai sendo implantado e a habilidade vai sendo desenvolvida.

"A preparação, o tempo e o ambiente são fatores que trabalham em conjunto para provocar os estímulos para o aprendizado. Nós não vemos a semente que está plantada na terra, mas a água, a temperatura, a luminosidade e as condições de sombra agindo diariamente servem como um forte estímulo para aquela semente, que pouco a pouco nos mostra a mudança brotando da terra." Se não percebessemos o entorno, nos pareceria mágica.

Quando leio os ensinamento do método Suzuki, percebo as similaridades com os ensinamento de Andras Peto na educação condutiva. Preparação, tempo, ritmo, disciplina e ordem assediado por um ambiente de positivismo, criatividade, motivação e conhecimento, buscam melhor desempenho de habilidades e novas aquisições em crianças e adultos com paralisia cerebral ou outras dificuldades motoras.

Mais informações sobre o método seguido pelo escritor, vale a pena ler: Associação Suzuki.

Wednesday, August 25, 2010

Conductive Education, article in engish


In September is being published in England a book about the experiences of families with conductive education at different countries. In the same model of the book Just do it, where the conductor Becky Featherstone said his experience as a conductor in our project in Florianopolis. This time I will be writing our story, how we started and where we go. Post here first hand the article, written by me, soon to be edited by Gillian Maguire and Andrew Sutton.

Para ler em português, clique aqui.


Conductive Education Com Amor: a case in Brazil
Leticia Búrigo Tomelin Kuerten, leticia.kuerten@gmail.com


In 2004 a story on a method for children with motor difficulties called Conductive Education was shown on Brazilian television. This was my first contact with the Hungarian system that would change the way I saw the possibilities of life with my twin children, who have cerebral palsy.
The story was that of a mother who was searching for greater independence for her daughter. She needed resources to go to Hungary and try this method, which would give her daughter the chance of having a more active life.
I immediately thought that this method, called Conductive Education, was not designed for my children, since I saw them with poor movements to execute the suggested tasks. I thought that Conductive Education was for children in a better stage of development than mine.
Anyhow, curiosity made me research the method. I confess to reading and re-reading the information in English, and no matter how much I read I could not understand the functioning of the routines. I tried talking to health care professionals, physicians and physical therapists, about the Hungarian method, but no one knew or had even heard about it.
On obtaining more information, I understood that it was something very different from what we had already tried. It was an educational system that worked in group and carried out repetitive movements for daily situations, perceiving the individual as a complete being.
Following the coincidences life offers us, I casually met a pre-school teacher who told me she was going to Mexico for a summer course on Conductive Education. I realized that the method was closer than I thought.
From week 12 of my boys’ pregnancy, I had to be in total bed rest. I spent most of the time in hospital and was mostly unaware of the risks a twin pregnancy in the infectious state I was in presented. In June 2002 my sons were born at 28 weeks gestation, and they left the hospital with a new surname: cerebral palsy. From that moment on my dedication was fully to my children: I was curious and studied to discover the several stimuli that could stimulate the neuronal plasticity of the brain.
We decided to embark to Mexico in search of this singular opportunity, something of a bonus. It was August 2005.
At this time, we did motor physiotherapy, speech therapy, occupational therapy, hydrotherapy and equotherapy, besides other alternative therapies, in Brazil.
It was at this time that my daughter, who was born 2 years after the twins, learned to crawl and started to bring down the DVDs and VHS tapes that decorated our living room. One of my sons told me, enthusiastically:
- Mom, I also want to bring things down!
Only at that moment did I realize that, even though they followed a daily and diversified routine, they had no idea of how to perform their actions in an independent way. They had good physical stretching but movement had not been aroused as a cerebral intention.
Our experience in Mexico was intense. For the first time in their three years, I saw my children being respected in relation to their motor desires; they were asked about their objectives and interests, and it was the first time I saw them attentive to the conscious objective of their movements. There were four weeks of intense work for the children. My husband and I were able to watch some videos about the Peto Institute, Andras Peto’s biography and read statements by his former students and conductors, which was enough for me to become even more curious about the method, yearning to know it in depth.
At that moment I became deeply interested in Conductive Education and in the way my children were conducted, responsibly and maturely, even though they were only three years old.
My immediate reaction after the course in Mexico was to invite my husband to make a joint decision to search for a new experience in some other country that offered Conductive Education. We decided to invest a year of our lives in our children, following the Hungarian method in England. Once again we followed life’s synchronicity and went to Birmingham, where I had already been received as a guest by a Brazilian friend, many years before being a mother, in her place in front of Cannon Hill Park, which is opposite the National Institute of Conductive Education,
We arrived in England in January 2006, experiencing a new routine, a new culture and a new learning method for children with cerebral palsy.
During this year in England, I spent part of my time in the library, reading books and articles, trying to saturate my curiosity about the history, objectives, developments and possibilities the method offered. I experienced the school’s environment, watching adults and children on external activities, participating in outings with the families, attending lectures and absorbing the full conductive education experience.
I have a doubt that I tell myself time and time again: I don’t know whether conductive education was better for me or for my children. Medicine and physical therapy always taught me to see the limits of what my children could not do. Conductive education has taught me to see the other side, their unrealized potential for learning.
I started celebrating each small step, every victory and to live each moment intensely, in the here and now. I began respecting their individuality and their being as they are, and realized the importance of giving them discipline, with clear cut rules, teaching physical perception and body awareness, always with motivation and the joy of celebrating each conquest.
Conductive education is the joining of simple repetitive movements that provide correct information to a series of small tasks that form a big movement. Information is repeated and motivated by the conductor’s instructions:
- With my feet on the ground, I stretch my knees and position my body in the middle, put my hands on the table and keep my body straight. I am standing. Keep, keep, keep.
Conductive Education is physically and mentally demanding, for it is intense and tiring: it consists in being aware of each movement, building each small task for an active action, with the mind always aware of the body’s movements. It is a system of education that sees the individual as a whole, in a holistic way, stimulating motor, social, emotional and cognitive activities. The children experience daily routines, with short programmes that vary according to each child’s age and development.
I remember when my children went to regular school for the very first time and the teacher asked me for orientation from the physical therapist so as to better include them in the activities. The physical therapist advised the teacher in relation to the children’s sitting posture and the physical education activities, but when asked about break time, the physical therapist said the speech therapist had to be asked about that. The same happened with drawing, writing and working at the desk, when the physical therapist recommended the occupational therapist be asked about that.
Traditional therapy sees my children in bits, focusing in only one movement, member or muscle. Conductive Education sees my child as a whole being, wholly, in a standing posture reflex, group activity, adequate behaviour response, waiting for his turn, among other relationships.
I am happy with just repeating this teaching, because conductive education is rich as a philosophy in teaching us the complete relationships of our actions, our yearnings and conquests.
Which one of us finishes a task thinking of doing better next time? For each task sequence in conductive education sequences the children have an objective, and after its completion they analyse their behaviour and programme themselves for a more positive and precise response next time.
Upon our return from England we decided to start a project forming a group that would cater for my children and other children who would be able to experience conductive learning in our country. It was a dream, the Com Amor Project.
We started with one conductor, my two children and a lot of will to do things. In February 2007 we established a partnership with a regular school and started using their space, one classroom in a period different from regular classes, for the conductive education activities. The school environment is rich in stimuli and the moment we experienced was very pleasant.
We needed furniture and found it easy to have it made in our region. Following photographs and measurements given by the conductor, we built the necessary desks, chairs and bars. Accessories such as mirrors, attachment bars and stools were also built. Rings of various sizes and latex pressure bars came from Hungary.
Within three months our adaptation period was in great condition, we had a physical education professional working with the conductor, helping with the setting up of routines and the language, and both gave their best efforts for the project to be set up. At the end of this short period we managed to have the programs prepared by the conductor translated into Portuguese, using words that fitted the regionalisms.
By means of word of mouth, a family came in to learn about conductive education as a method, and their child joined the group immediately. We had a pre-school group, and my children were 5 years old.
During that year we also elaborated songs that followed Brazilian rhythms and contained conductive instructions adequate to the programmes prepared by the conductor. We formed a group: three children, one conductor, two educators, furniture, songs and a lot of enthusiasm. The dream was complete.
Through the blog (http://educacaocondutiva.blogspot.com), writing more on conductive education and reporting our day-to-day life, more families from other parts of Brazil became interested in visiting us. Due to the distances, we decided to offer a Holiday Course in July for the families to experience the conductive education routines. Since then we have been receiving 8 children every year, who experience the conductive education programme integrally for three weeks.
The Project grew and we had to move to a bigger place. In 2008 we started the year with a new conductor, in a new place: a farm with lots of stimuli from nature, contact with animals and a pleasant feeling of well-being. We adapted the toilets to the group’s needs, designed new furniture such as walkers, parallel bars and new sets of furniture to receive the group of children who joined us.
This year we received the families for the Holiday Course once again, and their presence is always very important for the project’s development and credibility, for they report a positive experience and divulge the Com Amor Project. Observing their children’s development and performance is very gratifying. Each family works toward a goal and ends up reaching many others. Parents describe the learning, routine and discipline obtained through conductive education as fundamental in the development of their children’s daily abilities.
The months that passed helped consolidating the project, the team, and the routines and created a stability that had not yet been experienced by the group. Regarding the children’s performance, however, we noticed that many objectives were achieved slowly, and some goals seemed to become further away. In some moments we see evolution rapidly but other moments seem to be of stability, with little progress. The year passed with many visits and new evaluations.
The dream that was complete did not end. Many accomplishments were being achieved and we decided to set up a room exclusively for conductive education. Following the conductor’s instructions, we used an existing structure and fitted it to our needs, so it now offers a pantry, adapted bathrooms, adequate outings, no stairs and two rooms to cater for the group’s necessities.
In 2010 we inaugurated a new space with our Open Day annual event, when we divulge the method with a lecture and the observation of routines and programmes. We also receive many professionals, families and people who want to learn more about conductive education. We have also received new conductors to lead the group and have generated the expectation of changes regarding objectives and desires from the families who have experienced conductive education in the past years. For the fourth consecutive year we welcomed new families for a very successful Holiday Course.
After these years, we count more than 30 children who at one moment or another have been in the Com Amor project, attending the daily routine, holiday courses in July, visitors’ programmes and evaluation sessions. Most families had the opportunity of discovering conductive education for the first time and while this might not seem a large number most of them came to visit us in search of a new opportunity and hope to improve their children’s performance.
The objectives remain, and for the years to come we plan to establish new routines and cater for twice the number of children we have had to date, remodel the programmes according to group age, create new songs and follow the children’s evolution, because they have become interested in new themes and rhythms with the passing of the years.
We are growing together and already know that our dream never ends. We face all the limitations of the body and mind to achieve a life that is more adequate for children with special difficulties with love, grateful for the days in which we learn. Of one thing we are certain: with the correct stimulus, we always learn!
I can only thank Dr Peto for bringing together teachings in this disciplined educational system that aims at improving the quality of life of people with cerebral palsy and other motor disorders. To him and his followers: conductors, the dream achievers; and parents, hopeful in the search for more learning and performance.

I request that copies of this publication in other locations are consulted to the author or editor.

Educação Condutiva no Brasil

Em setembro estará sendo publicado na Inglaterra um Livro sobre experiências de famílias com a educação condutiva, em diversos países do mundo. No mesmo modelo do livro Just do it, onde a condutora Becky Featherstone contou a sua experiência como condutora em nosso projeto em Florianópolis. Desta vez eu estarei escrevendo a nossa história, como começamos e até onde chegamos. Publico aqui em primeira mão o artigo, escrito por mim, que será em breve editado por Gillian Maguire e Andrew Sutton.

In order to read in english, click here.

Educação Condutiva Com Amor: um case no Brasil.
Leticia Búrigo Tomelin Kuerten, leticia.kuerten@gmail.com


Era no ano de 2004 quando passou na televisão brasileira uma matéria sobre um método voltado a crianças com dificuldades motoras chamado Educação Condutiva. Foi meu primeiro contato com o sistema húngaro que viria a mudar minha forma de enxergar as possibilidades da vida junto aos meus filhos, gêmeos com paralisia cerebral.
A matéria contava a história de uma mãe que buscava maior independência para sua filha. Ela desejava recursos para ir a Hungria e experimentar este método oportunizando a ela uma vida mais ativa.
De imediato achei que este método chamado Educação Condutiva não era desenhado para os meus filhos, já que eu os via muito pobres de movimentos para executar as tarefas ali sugeridas. Imaginava que a Educação Condutiva era para crianças em melhor estado de desenvolvimento do que as minhas.
De todas as formas a curiosidade me fez pesquisar mais sobre o método. Confesso que li e reli as informações em inglês e por mais que eu lia não conseguia entender o funcionamento daquelas rotinas. Tentei conversar com profissionais da área da saúde, como médicos ou fisioterapeutas, sobre o método húngaro, no entanto ninguém conhecia, ou tinha ouvido falar.
Ao me informar um pouco mais, entendi que tratava-se de algo muito diferente do que já tínhamos experimentado. Tratava-se de um sistema de educação que funcionava em grupo e realizava movimentos repetitivos para as situações diárias, percebendo o indivíduo como um ser completo.
Seguindo as coincidências que a vida nos oferece, encontrei casualmente com uma professora de escola infantil dizendo que estava indo ao México para um curso de férias com a intenção de conhecer a Educação Condutiva. Percebi que conhecer o método estava mais próximo do que eu imaginava.
Durante a gravidez dos meninos eu estive a partir da 12a. semana em repouso absoluto. Passei parte do tempo hospitalizada e na maioria das vezes inconsciente dos riscos de uma gravidez gemelar no quadro infeccioso que eu me encontrava. Em junho de 2002, meus filhos nasceram com 28 semanas de gestação e do hospital saíram com um novo sobrenome: paralisia cerebral. A partir daquele momento minha dedicação era somente para meus filhos, com curiosidade e estudo para descobrir as diversas formas de estímulos que viessem a estimular a plasticidade neuronal no cérebro.
Decidimos embarcar com toda a família para o México em busca deste algo mais, desta oportunidade singular. Era agosto de 2005.
Neste período no Brasil, nós fazíamos fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional, musicoterapia, hidroterapia, equoterapia, além de terapias alternativas.
Também foi nesta época que minha filha, nascida 2 anos após os gêmeos, aprendeu a engatinhar e começou a derrubar todos os dvds e as fitas vhs que decoravam nossa sala de estar. Um de meus filhos me disse com entusiasmo:
- Mãe, eu também quero derrubar isso tudo!
E eu, somente neste momento, percebi que eles, apesar de seguirem uma rotina diária e diversificada de atividades, não tinham noção de como realizar suas ações de forma independente. Eles eram muito bem alongados fisicamente mas não tinha sido despertado neles a intenção do movimento a partir do cérebro.
Nossa experiência no México foi intensa. Pela primeira vez vi meus filhos com seus 3 anos de vida, serem respeitados em relação as suas vontades motoras, serem questionados sobre seus objetivos e seus interesses. Foi a primeira vez que os vi atentos aos objetivos conscientes de seus movimentos.
Foram quatro semanas de muito trabalho para as crianças e paralelamente eu e meu marido pudemos assistir alguns vídeos sobre o Instituto Peto, sobre a biografia de Andras Peto, e conhecendo declarações de alguns de seus ex-alunos e ex-condutores. Foi o suficiente para que estas sensações despertassem em mim mais curiosidade para conhecer o método com profundidade.
Naquele momento me interessei profundamente pela Educação Condutiva e pela forma de respeito e igualdade que meus filhos eram conduzidos. Com maturidade e responsabilidade, mesmo tendo 3 anos de idade.
Minha reação imediata após o curso no México foi convidar meu marido para tomarmos uma decisão em conjunto em busca de uma nova experiência em algum outro país que oferecesse a Educação Condutiva. Decidimos por investir um ano de nossas vidas para dedicação de nossos filhos com o método húngaro na Inglaterra.
Seguindo mais uma vez o sincronismo da vida , fomos a Birmingham, onde eu mesma já havia me hospedado na casa de uma amiga brasileira, em frente ao Cannon Hill Park, parque que fica em frente ao National Institute of Conductive Education, muitos anos antes de ser mãe.
Em janeiro de 2006 estávamos chegando na Inglaterra experimentando uma nova rotina, nova cultura e um novo método de aprendizagem para crianças com paralisia cerebral.
Durante este ano em que vivemos na Inglaterra, passei parte de meus momentos na biblioteca devorando livros e artigos, tentando saturar a minha curiosidade sobre a história, os objetivos, os desenvolvimentos, e as possibilidades que o método nos oferecia.
Vivi o ambiente da escola, assistindo adultos e crianças fazendo atividades externas, participando de passeios em família, assistindo a palestras e bebendo toda a experiência com a educação condutiva.
Repito muitas vezes esta dúvida para comigo mesmo. Eu não sei se a educação condutiva fez mais bem para mim, ou para meus filhos. A medicina e a fisioterapia sempre me ensinaram a ver a limitação, aquilo que os meus filhos não podiam fazer. A educação condutiva me ensinou a enxergar o outro lado, o potencial que eles ainda tem em aprender.
Eu passei a comemorar cada pequeno passo, cada vitória e viver intensamente cada momento do agora. Passei a respeitar a individualidade deles, sendo eles assim como são. A importância de dar a eles disciplina, com regras claras, ensinando a percepção corporal, a consciência de seu corpo, sempre com motivação e alegria com a comemoração de cada conquista.
A educação condutiva é uma união de movimentos simples e repetitivos que oferecem a informação correta, uma série de pequenas tarefas que formam um grande movimento. As informações que são repetidas e motivadas pelas ordens da condutora:
- Com os meus pés apoiados no chão, eu estico meus joelhos e posiciono o meu corpo no meio, coloco minhas mãos sobre a mesa e mantenho meu corpo reto. Eu estou de pé. Mantenho, mantenho, mantenho.
Ter a consciência de cada movimento, construindo cada pequena tarefa para buscar uma ação ativa, com a mente sempre consciente dos movimentos do corpo. A Educação Condutiva é uma atividade intensa e cansativa, tanto física quanto mental.
A educação condutiva é um sistema de educação que vê um indivíduo como um todo, de forma holística, estimulando atividades motoras, sociais, emocionais e cognitivas. As crianças vivenciam rotinas diárias, com programas curtos variando de acordo com a idade e o desenvolvimento da criança.
Lembro quando meus filhos foram pela primeira vez para a escola regular e a professora me pediu orientação da fisioterapeuta para melhor incluir as crianças. A fisioterapeuta orientou a professora em relação a postura das crianças na posição sentado e nas atividades de educação física, mas quando a professora questionou sobre o momento do lanche, a fisioterapeuta indicou que a fonoaudióloga fosse solicitada. O mesmo aconteceu quando a professora questionou sobre as atividades de desenho, escrita e manipulação na mesa de trabalho, ela solicitou que a terapeuta ocupacional fosse solicitada.
As terapias tradicionais enxergam os meus filhos por pequenas partes, focando apenas em algum movimento, membro ou determinada musculatura. A Educação Condutiva vê meu filho como um ser completo, por inteiro; seja no reflexo de uma motivação na postura em pé, na atividade em grupo, a resposta do comportamento adequado, o esperar a vez, entre outras relações.
Fico feliz somente de repetir este ensinamento, pois a educação condutiva é muito rica como filosofia em nos ensinar estas relações completas, de nossas ações, de nossos anseios e de nossas conquistas.
Quem de nós termina uma tarefa pensando em fazer melhor da próxima vez? A cada seqüência de tarefas nas rotinas da educação condutiva as crianças recebem um objetivo, e após realizadas analisam seu desempenho e se programam para uma resposta mais precisa e positiva na próxima vez.
Ao retornar da Inglaterra decidimos iniciar um projeto formando um grupo que atendesse aos meus filhos e também outras crianças que pudessem experimentar a educação condutiva em nosso País. Era um sonho, o projeto Com Amor.
Começamos com uma condutora, meus dois filhos e muita vontade em querer fazer. Em fevereiro de 2007 formamos uma parceria com uma escola de ensino regular e passamos a utilizar o espaço deles, a sala de aula em período contrário ao horário escolar para exercer as atividades de educação condutiva. O ambiente escolar é muito rico em estímulos e foi muito prazeroso o momento que vivenciamos.
Precisávamos dos móveis e não encontramos dificuldades ao elabora-los em nossa região. Seguindo fotos e medidas orientadas pela condutora, construímos artesanalmente as mesas, cadeiras e barras necessárias. Acessórios como espelhos, barras de fixação na mesa e banquetas também foram feitas. Da Hungria vieram as argolas de diversos tamanhos e as barras de pressão em borracha.
Em 3 meses, nosso período de adaptação estava em ótimas condições, tínhamos uma profissional de educação física trabalhando em conjunto com a condutora auxiliando na construção das rotinas e com o idioma; ambas não mediram esforços para que o projeto fosse estabelecido. Ao final deste breve período conseguimos traduzir, escolhendo as melhores palavras de acordo com o regionalismo nacional, os programas elaborados pela condutora para o português.
Com a divulgação boca a boca, conseguimos que uma família viesse conhecer a educação condutiva como método, o que imediatamente fez a criança participar do grupo. Tínhamos um grupo pré-escolar, meus filhos estavam com 5 anos.
Ainda durante este ano elaboramos músicas seguindo ritmos brasileiros, com ordens condutivas que fossem adequadas aos programas estipulados pela condutora. Formamos um grupo: 3 crianças, 1 condutora, 2 educadoras, móveis, músicas e muito entusiasmo. O sonho estava completo.
Através do blog (http://educacaocondutiva.blogspot.com), escrevendo mais sobre a educação condutiva e relatando nosso dia a dia, surgiram famílias de diversas partes do Brasil que despertaram o interesse em nos visitar. Devido a distância decidimos criar o Curso de Férias no mês de julho para que as famílias experimentassem as rotinas de educação condutiva. Desde então recebemos anualmente 8 crianças neste período, que durante 3 semanas vivenciam os programas da educação condutiva de forma integral.
O projeto cresceu e tivemos que nos mudar para um espaço mais amplo. Em 2008 iniciamos o ano com uma nova condutora em um novo espaço. O local era um sitio com muito estímulo da natureza, contato com animais e agradável sensação de bem estar. Também conseguimos adequar os banheiros do local de acordo com as necessidades do grupo. Neste novo espaço desenhamos móveis novos, como andadores, barras paralelas e novos jogos de mobília para atender ao grupo de crianças que fomos recebendo.
Neste ano novamente recebemos famílias para o Curso de Férias, a presença das famílias é sempre muito importante no desenvolvimento e credibilidade do projeto, uma vez que relatam uma experiência positiva e acabam divulgando o projeto Com Amor. A observação do desempenho no desenvolvimento de seus filhos também é muito gratificante. Cada família cerca um objetivo e acaba alcançando vários outros. Relatos de pais descrevem o aprendizado, a rotina e a disciplina conseguidos com a educação condutiva como fundamentais no desenvolvimento das habilidades no dia a dia de suas crianças.
Os meses que se passaram serviram para sedimentar o projeto, a equipe, as rotinas, criando uma estabilidade ainda não vivenciada pelo grupo. No entanto em relação ao desempenho das crianças, muitos objetivos foram vagarosamente alcançados, e algumas metas pareceram ficar cada vez mais distantes. Percebemos que em alguns momentos vemos a evolução rapidamente, mas em outros parecem momentos de estabilidade, sem muitos progressos. O ano seguiu repleto de visitas e novas avaliações.
O sonho que já era completo não terminava. Muitas realizações foram sendo conquistadas e decidimos montar uma sala dedicada somente a educação condutiva. Seguindo orientações da condutora, aproveitamos uma construção existente e adequamos as nossas necessidades. Incluindo copa, banheiros adaptados, passeios adequados, ausência de degraus e duas salas para atender as necessidades do grupo.
Em 2010 inauguramos o novo espaço com o nosso evento anual, chamado Open Day, dia dedicado a divulgação do método a interessados através de uma palestra e a observação das rotinas e programas. Sempre recebemos muitos profissionais, famílias e curiosos para conhecer e questionar sobre a educação condutiva.
Também recebemos novos condutores para liderar o grupo e despertamos muitas expectativas de mudança em relação a objetivos e desejos das famílias após alguns anos experimentando a educação condutiva. Pelo quarto ano recebemos novas famílias para o curso de férias com muito êxito.
Após estes anos contabilizamos mais de 30 crianças que estiveram em algum momento no projeto Com Amor, seja através da rotina diária, dos cursos de julho, dos programas visitantes ou das sessões de avaliação. A grande maioria das famílias tiveram a oportunidade de conhecer a educação condutiva pela primeira vez e pode não parecer um número muito grande, mas a grande maioria deles veio nos visitar em busca de uma nova oportunidade e de esperança para melhorar o desempenho de seus filhos.
Os objetivos continuam e para os próximos anos objetivamos construir novas rotinas e atender o dobro de crianças até hoje atendidas, remodelar os programas de acordo com a idades do grupo, criar novas músicas e acompanhar a evolução das crianças que com o passar dos anos passaram a se interessar por novos temas e ritmos.
Estamos crescendo juntos e já sabemos que nosso sonho nunca acaba. Com amor enfrentamos todos os limites do corpo e da mente para conquistar uma vida mais adequada a crianças com dificuldades especiais, agradecendo os dias que aprendemos. Uma certeza temos: com o estímulo correto, aprenderemos sempre!
Eu só tenho a agradecer ao Dr. Peto por esta união de ensinamentos reunidos neste disciplinado sistema educacional visando melhor qualidade de vida para pessoas com paralisia cerebral e outras desordens motoras. A ele e a seus seguidores: condutores, como realizadores de sonhos; e pais, como esperançosos na busca de mais aprendizagem e desempenho.

Solicito que cópias desta publicação em outros locais sejam consultados ao autor ou editor.

Crianças, pais e condutoras


Quase trinta dias depois de terminado nosso curso de férias, ele ainda fermenta em nosso entorno. Vivenciando uma sensação que parece não terminar, continuamos saboreando as conquistas realizadas pelo quarto ano consecutivo de nosso grupo Com Amor. As experiências que vivemos em Florianópolis, recebendo neste ano crianças de Americana, Porto Alegre, Belo Horizonte e de regiões de Santa Catarina, ficam latejando ainda por alguns meses em nosso dia a dia.

Para as crianças o convívio no grupo, observando novas deficiências, brincando por igual, convivendo com diferentes diferenças de forma intensa, aprendendo, trabalhando, se emocionando, construindo e ganhando. São sete horas diárias de educação condutiva, exercendo intensamente o cérebro e as funções motoras.

Para os pais conhecer dicas de outras famílias, compartilhando histórias, momentos, emoções, tentativas, descobertas, conquistas. Nossas manias ficam minimizadas, nossos medos esquecidos, nossas atitudes valorizadas. Passar três semanas sem almoçar com nossos filhos, nos faz sentir um vazio, mas ao mesmo tempo uma forte sensação de liberdade para eles, que estão tendo um tempo somente deles, com amigos semelhantes a eles, percebendo a vida deles mesmos.

Neste último mês de julho vivemos um momento ainda mais especial, compartilhamos nossa rotina com duas condutoras, tivemos alta produtividade e excelente desempenho de nosso grupo. Com amor nos despedimos de nossa condutora Becky Featherstone, inglesa que esteve tanto tempo dedicada a este grupo, construindo cada detalhe de nossa nova sala e sempre buscando um dia melhor para nossas crianças. Ao mesmo tempo damos as boas vindas a condutora Anna Szabo, húngara que assume o grupo Com amor com novas idéias e propõe mudanças em busca de novas aquisições que determinem independência para nosso filhos.

Pela primeira vez publico aqui neste blog os rostos que fazem a alegria de nossas crianças em nossa rotina diária, a elas que fazem tudo acontecer e procuram fazer a diferença, provocando a mudança e a novidade, nos oferecendo uma rotina transformada. Obrigada Fernanda, Laura, Melina, Gisele, Maisa, Juliana, Rafaela, Becky e Anna.