Auto-defesa
Hoje fomos até a praça dar comida aos pássaros. Parecia uma tarefa agradável, simples e natural. Para meus filhos não foi.
Levamos um saquinho de milho e chamamos eles até nós. Vieram vários, muitos mesmo. E foi para mim uma delícia ver eles a nossa volta, se deslocando para todos os lados, qualquer local que pudessem encontrar um grãozinho.
Esta movimentação sem sentido, ora pra direita, pra esquerda, pra cima, uma turma indo para um lado, outras para o outro, alguns deles até se chocando no ar. Esta `desorganização` e os movimentos `surpresa`, fizeram com que um de meus filhos tivesse medo. Parecia uma daquelas festinhas de aniversário que ele entra aos prantos e sai chorando mais ainda.
Eu poderia achar que festinhas de aniversário, entrar em uma sala de cinema ou ver pessoas dentro de bonecos, estivessem todas associadas a alguma aversão à novas pessoas. Mas neste momento a reação e o sentimento dele era o mesmo, e eram pássaros.
Esta situação está relacionada com a auto-defesa deles, que é, sem dúvida muito frágil. Eles têm vontade de fugir, de correr, de sumir, e o máximo que podem fazer é chorar desesperadamente ou gritar:
- Mãe, me tira daqui!
Mas... não é sempre que a mãe responde da forma como eles querem. Procuro fazê-los viver as experiências, querendo ou não, agradando ou não.
O movimento surpresa dos pássaros, a movimentação desordenada, algumas vezes até batendo na gente, outras batendo suas asas aceleradamente, ou fazendo um ruído estranho. Era muita surpresa, tudo novidade. Viver situações assim irão mostrar que nem tudo é lógico e possível de determinar. Surpresas acontecem sempre e temos que administrá-las.
A auto-defesa é frágil para uns quando a pessoa têm noção do perigo, das situações a realizar e se vê completamente indefesa nos momentos críticos. Para outros ela é frágil justamente quando a pessoa não tem a noção da dificuldade a ser encarada, talvez por não ter maturidade para tal ou por parecer irresponsável algumas vezes.
Para mim, pode parecer antagônico, mas como saber se meu filho não chora por não ter noção de sua dificuldade, ou não chora porquê ele já se sente seguro com aquela situação?
5 Comments:
OI Letícia! quando vc escreveu no desabafo de mãe sobre a educação condutiva, me pareceu ser muito parecido com o método TEACCH, que usamos com o Gabriel, claro com as devidas adaptações ao autismo, já que é uma técnica própria para a educação de autistas. esse questionamente que vc fez sobre auto-defesa me fez pensar tbém. Gábi não tem noção do perigo, então muito me preocupa a questão da independência dele, estou "libertando" mas sempre observando e zelando por ele. mas é impressionante como ele consegue se defender bem das coisas que conhece e sabe que farão mal a ele. o desafio está aí: em fazer com que ele conheça perceba mais e mais situações de perigo, para que entenda os riscos que elas oferecem...beijos Simone
Oi leticia, acho que na verdade eles sabem tudo de uma maneira que nos ainda não entendemos.O meu filho Guilherme não falava nada até os três anos de idade e quando eu falava com ele, o mesmo desviava o olhar para o meu cabelo! Com 4 anos começou a falar bem. Perguntei a ele porque ele não me olhava nos olhos, ele disse: " É mais fácil olhar os teus cabelos.." Mudei o meu olhar..estou mais leve...ele agora me olha nos olhos. bj Luciane
Oi Simone
Nao conheço este método para crianças autistas, mas pela sua descrição deve ser super motivador. Legal!
Estar preparado para se defender do mundo, nenhum de nós estamos, mas querer que nossos filhos estejam, sim nos angustia. Eu vivo com isso.
Um beijão e obrigada por comentar aqui.
Leticia
Oi Luciane,
Saber de uma maneira que ainda não entendemos, concordo. E eu diria mais, talvez de uma maneira que já esquecemos!
Quando crianças somos puros, sentimentais, cheios de amor, sem rancor. Ver eles da forma como eles são é o nosso The Secret.
Tentar enxergá-los como eles deveriam ser só nos frustra. Fica difícil não comparar, ainda mais tendo 'parecidos' ao seu lado. Não é?
Parabéns pela sua mudança.
Um beijão, com amor.
Leticia
Oi Letícia!Sei da impotância da auto defesa e penso muito sobre isso pois quando não há temos nos tornamos reféns das situações .
Beijos
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