Simples aprendizado
Quem é essa que fala de terapia, de medicina, de pedagogia .. Não sou nada disso, não tenho formação em educação, nem em medicina, nem em nenhuma terapia. Sou formada na ciência da vida, na experiência que a vida me deu, em ter trabalho dobrado, em não saber o que é amamentar só um, em não saber em o que é dar banho e descansar, mas começar de novo. Sou como os Teletubbies: again, again.
Descrevo a história que vivo, da forma que vejo. Mas imagino que todas as histórias devem ser contadas assim mesmo. Cada um conta aquilo que percebe. Não necessariamente aquilo que aconteceu.
Aqui queria falar sobre aprendizado. Aprendemos aquilo que vivemos. Não necessariamente o que lemos, nem o que vemos, mas sim o que vivenciamos.
Descrever a educação condutiva, quando se percebe, quando se vive, se experimenta, me parece talvez mais fácil do que quando comecei a ler sobre o tema, em que 'só' lia, mas não conseguia perceber o verdadeiro valor.
As vezes achamos tudo tão complexo, mas somente quando descobrimos o mais simples é que aprendemos de verdade.
Assim vejo também em meus filhos, o que eles têm que aprender são o que existe de mais simples. Na condição que eles têm, normalmente as crianças apresentam as mesmas dificuldades na condição motora, seja na movimentação de seus membros, na fala, na visão, ou em seu equilíbrio. As percepções do ambiente, como as sensações de espaço, as texturas, a sensibilidade e o entorno sensorial também são fragilizados.
De uma forma geral as crianças com paralisia cerebral têm que aprender a :
- olhar, observar
- seguir objetos em movimento
- entender e se fazer entender
- fazer que seus desejos e necessidades sejam conhecidos, demonstrar interesse
- discriminar, gosto e não gosto, quero e não quero
- controlar sua coordenação
- adquirir novas técnicas
A educação condutiva é trabalhada em grupo, com o grupo a criança aprende observando, copiando, compartilhando. Todo o programa é feito da mesma forma para todo o grupo, mas cada criança executa da forma que consegue.
Ao escrever parece difícil entender, mas imaginamos um grupo numa sala de ginástica, de yoga, de pintura. Todos executam a mesma atividade, mas cada um faz de seu jeito, um estende o braço por completo, outro já não tem o mesmo alongamento e outro não pinta com a mesma pressão e definição. O grupo faz a mesma ação, mas cada indivíduo executa de forma particular e independente.
Segundo Mari Hari, para estar integrado ao grupo se sugere uma adaptação em torno de dois a três meses, com visitas de seis a sete dias por semana. O programa desenvolvido para o grupo deve ser planejado e executado como uma receita de bolo, cada passo e ação é importante para o êxito do todo. Os exercícios a serem realizados, a forma como é conduzido, a atenção necessária para que se prenda o interesse. A seguir, de forma geral, o programa de Hari :
Seção de introdução: criar uma ambientação e atmosfera que dê prazer as crianças. Fazer com que o sentimento do trabalho seja visto como diversão.Estar preparado para usar as 'ferramentas' e facilidades que auxiliem o trabalho.Estabelecer um objetivo claro e facilmente compreensível. A criança tem que entender o completo sentimento da tarefa até que ela aja de forma voluntária e ativa.
A rotina, o trabalho e o programa desenvolvido, planejado pelo condutor, permite que a criança esteja apta para absorver seus progressos. Definindo objetivos como sentar, andar, escrever, comer ou qualquer outra forma de autonomia, através de tarefas simples leva ela a tornar-se útil não só para si mesma, mas para a vida em comunidade.
4 Comments:
Acabei de ler os novos textos do blog, que está ficando cada vez mais rico de informação e emoção. Parabéns por esse trabalho. Com certeza ele vai ajudar muitas famílias a entenderem melhor as necessidades de suas "crias" especiais, criando uma corrente de troca de informações e experiências.
Um beijão
Simone
Oi leticia...
Nossa quanto tempo...Tenho lido todos os dias os teus texto e cada dia + fico encantada com a EC..
saudades enormes de vcs...
Linda essa sua iniciativa..
Beijos Roberta
Letícia, não é preciso vc ser formada em nada, não. Ser mãe de um filho PC (no seu caso, dois) nos torna PHDs no assunto. Duvido encontrar pela frente um neurologista por exemplo, que vê minha filha por 20 min, que saiba mais sobre ela do que eu.
Essas visitas com médicos são sempre uma surpresa, parece sempre que é a primeira vez que eles estão atendendo uma criança como a minha!
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