Educação Condutiva - com amor

Quero escrever sobre Educação Condutiva porque me apaixonei por este método, cheio de amor, que tem atendido aos meus filhos com p.c. Quero descrever o que tenho estudado, aprendido, escutado e sentido ... Tenho a vontade de abraçar o mundo e fazer com que todas as crianças na mesma condição motora de meus filhos, tenham a chance de receber toda esta inteligência, técnica, forma de agir, pensar e sentir, que com todo carinho o Dr. Andras Peto deixou de herança.

Wednesday, November 29, 2006

Experimentar para entender


Fui convidada para escrever um artigo para o jornal "Recent Advances in Conductive Education". Estou escrevendo sobre a experiência de minha família desde o nosso primeiro contato com o método. Ao escrever, reflito muito sobre tudo o que aprendemos e a forma como aplicamos.

É verdade que quando ouvi pela primeira vez falar deste método, através daquela matéria na TV Globo falando do Projeto-Luísa, fiquei super empolgada com as possibilidades que a Educação Condutiva poderia proporcionar aos meus filhos. Mas quando fui procurar saber mais sobre o assunto, só me compliquei ainda mais. Não conseguia entender como aquela teoria funcionaria na prática.

Hoje estou muito agradecida de ter sido curiosa e ter mesmo comprovado todas aquelas dúvidas com a prática. Mas fico pensando que a Educação Condutiva deve ser mesmo 'experimentada' para ser 'entendida'. Imagino um exemplo assim: fazer um mergulho no fundo mar. Nós podemos ter vontade de fazer, ler todas aquelas apostilas, ver vídeos, ouvir relatos de pessoas que fazem, e até se sentir 'o mergulhador' nas piscinas de teste. Mas só vamos entender o que é mesmo, depois de fazer um.

Vivenciar a educação condutiva em seu dia-a-dia, os efeitos que ela proporciona na rotina em casa, a filosofia que nos é ensinada e a forma como absorvemos tudo isto, me fez ver meus filhos de forma diferente. E acho isso muito importante.

Talvez eles até não tenham mudado muito... Depende dos olhos de quem vê... Mas a minha forma de enxergá-los, esta sim mudou. Vejo o imenso potencial que eles têm para aprender! Vejo eles como pessoas conscientes de suas tarefas, esforçando-se ao máximo para executar um movimento simples, como colocar a mão na boca por exemplo, e os vejo vitoriosos em tudo o que fazem!

Ter a cabeça turbilhando, cheia de desejos, ansiedades e vontades; mesmo com a sensação de ter seus membros atados, e com todas as dificuldades que têm, eles estão conseguindo executar as tarefas que eles têm vontade de fazer! E estamos aqui pra facilitar, ajudar para que estas tarefas sejam cada dia mais complexas e funcionais.

Educação Condutiva, mais uma vez, obrigada por ter dado esta oportunidade aos meus filhos e a ter me ensinado a ver todo o potencial que eles ainda têm a aprender.

Tuesday, November 28, 2006

2080, perto do quase-fim


Na capa do jornal de hoje tinha uma foto da cidade de Birmingham e dizia ser o ano 2080. Falava que ela seria a nova capital da Inglaterra, uma vez que Londres teria sido 'engolida' pelas águas do degelo glacial. E isto irá acontecer se não paramos com a emissão dos gases que perfuram a camada que nos protege do sol - hoje!

Não sei o que me assusta mais, se a ignorância dessa raça animal-humana, que somos nós os responsáveis por essa burrice; ou se me preocupo com este mundo que ficará para meus filhos e que caberão a eles decidir o que fazer, ou assistir o fim de tudo isso que construimos com o tempo...

Essa história de dinossauros tem alguém aqui pra contar, mas quem contará a nossa ? Serão aqueles seres sobreviventes amontoados nos cumes do mundo, virando quase peixes para sobreviver em um mundo aquático ? Com a pele torrada do sol ou vestindo alguma roupa esdrúxula ?

Tudo isto já estava escrito, todos nós já sabíamos, ía mesmo terminar um dia né... Mas não me parecia tão próximo! 2080 já não terá petróleo e com o degelo virará estado de caos absoluto! Quantas gerações mais ? Não sei, mas muito próximas de mim e presentes no futuro de meus filhos!

Tanto estudo, tanta pesquisa, tanta evolução. De alguma forma eles estão tentando dar a volta nisto, e parece que será modificando código genético, clonando gente, usando do poder das células tronco.... Mas cuidar da mãe natureza, essa simples tarefa, que é de gratidão, carinho, respeito, amor...parece cada dia mais difícil.

Catastrófica eu ? Nada! Eu construo não somente o melhor para os meus filhos, mas o melhor para o mundo!



Reverter diplegia


Eu estava na biblioteca folheando revistas ao acaso, quando deparei com um artigo que dizia assim: "Imagine ser possível reverter a situação da diplegia espástica". Devorei o artigo imediatamente, e traduzo um pouco do que li abaixo:

Pesquisas na Universidade de Oregon, pelo Dr. Stephen Back, descobriram que quando existe um acúmulo do ácido hialurônico, o sistema nervoso falha e não consegue reparar a mielina. Então reduzindo os índices deste ácido, eles descobriram que as células imaturas desenvolveriam-se dentro das células que produzem a mielina. Os experimentos concluiram que a auto construção do ácido explicam a falha no prejuíso da massa branca para se reparar. Uma situação que acontece no cérebro de bebês prematuros. Aplicado a humanos os experimentos, já realizados em ratos, explicam que a reparação do tecido do cérebro poderia ser realizada se fosse prevenida esta auto construção do ácido hialurônico. Estas estratégias poderiam reverter parcialmente o tecido do cérebro de pessoas com diplegia espástica.

Traduzi este texto do artigo que li, pode não estar exatamente correto, mas me impressiona de qualquer forma saber que existe uma maneira de reconstruir as células que se 'perdem' no momento de uma hemorragia cerebral. Este Sr. Back cita justamente casos da lesão da massa branca do cérebro, esta responsável pelas funções motoras - leucomalácia periventricular. Exatamente o que meus filhos tiveram.

Uma vez que o nascimento antes do prazo interrompe o desenvolvimento da mielina, estas pesquisas são muito interessantes no desenvolvimento de também outras áreas que envolvem a paralisia cerebral, principalmente no caso de nascimentos prematuros.

Mais informações podem ser encontradas na Oregon Health & Sciences University, no American Academy of Cerebral Palsy and Developmental Medicine Conference, congresso que foi realizado na Flórida e onde foi apresentado a pesquisa, ou na revista CP Austrália, onde li este artigo.

Planejamento Acadêmico


Cada dia de escola das crianças é planejado e apresentando aos pais em um mural escolar semanalmente. Cada dia a aula é liderada por uma condutora diferente, que define um tema e programa todo o dia, seguindo o planejamento geral da semana. O planejamento global segue o ano acadêmico e atende todas as áreas de conhecimento para o grupo.

O grupo que meus filhos estão é o grupo chamado pré-escola e reúne crianças de 3 a 7 anos. A programação acadêmica é feita para o grupo, mas cada um realiza as atividades que lhe convém, dentro de suas limitações. Existem aqueles que fazem o tracejado de letrinhas, aqueles que unem dois pontos e aqueles que fazem desenho livre. Não necessariamente fazem todos o mesmo exercício ao mesmo tempo.

O plano acadêmico apresentado tem a estrutura com os seguintes tópicos:
  • área de aprendizado
  • tópico
  • data e hora
  • líder

Depois é completado com uma tabela descrevendo os objetivos e o detalhamento das atividades, com os tópicos:

  • objetivos de aprendizado
  • palavras chaves
  • atividades sugeridas
  • materiais e recursos utilizados
  • relações com outras áreas de aprendizado

E finalmente individualiza algumas atividades que devem ser realizadas apenas para algumas crianças:

  • Atividades diferenciadas

O foco do trabalho está no desenvolvimento das habilidades motoras, mas todas as funções de rotina de uso diário estão incluídas, como higiene pessoal, alimentação e divertimento. Além das funções cognitivas seguindo o planejamento acadêmico.

Educação Condutiva - Florianópolis


Vivemos neste mês um momento de conclusão de um projeto, um ano de investimento em Educação Condutiva na Inglaterra. Ao mesmo tempo vivemos também um momento de início de um novo projeto, continuar nosso aprendizado em Educação Condutiva no Brasil.

Este momento é uma forma de sentimento interessante, vivemos nosso dia-a-dia sem a interferência dos planos futuros. Apenas vivemos cada dia como único, e ao mesmo tempo como se ele não terminasse nunca, como se a semana que vêm seguisse da forma como vivemos hoje. Sem nenhuma ansiedade, angústia ou afobação. Acho que posso descrever como se estivéssemos desenhando nossa vida, sem se preocupar com o que vem, pois afinal, somos nós os criadores. Tudo se parece muito a um texto que li recentemente e dizia assim:

"Voyageur, le chemin c'est les traces de tes pas, il n´y a pas de chemin, le chemin se fait en marchant."

"Viajante, o caminho são os traços de teus passos, não há um caminho, o caminho se faz caminhando."


Não existe nenhuma escola no Brasil, ou na América do Sul, que trabalhe a educação condutiva da forma como ela é, da forma como ela é conduzida em todos os outros países do mundo. O que existe no Brasil são escolas que seguem os conceitos da educação condutiva, por pessoas que aprenderam sobre esta forma de educação, e que acabam somando aos conhecimento de outros métodos.

Estaremos então a partir de janeiro de 2007, iniciando um grupo de educação condutiva liderados por uma condutora húngara em Florianópolis - Santa Catarina. Será um grupo de crianças em idade pré-escolar que terão acesso aos conhecimentos e a forma de educação que tivemos neste um ano aqui na Inglaterra. Sem muitas expectativas para o projeto, apenas desejo que funcione da melhor forma para cada um daqueles que tiverem acesso, e que seja, como foi pra mim, a melhor iniciativa que pude fazer para o futuro de meus filhos.

Tuesday, November 21, 2006

Na condição que eles são


Hoje pela manhã o Andy, pai do Thomas, veio se abrir comigo, disse que estava estressado, chateado e triste com a vida. Não conseguia ver o filho dele na condição que é e estar sempre em paz consigo mesmo. Me perguntou qual era o segredo que eu e meu marido temos, de estar sempre muito felizes.

Andy estava muito chateado com o desenvolvimento de seu filho e me confidenciou que vê ele como duas crianças: uma que é ele, o adorável Thomas, e outra que é uma chamada paralisia cerebral que está de mãos dadas com ele, e que está sempre o arrastando para tráz. Ele tenta ir adiante, mas a outra criança não deixa.

Tenho meus piores dias, mas nunca tento ver os meus filhos como eles deveriam ser. Eles são assim, nesta condição. Se eles sempre choram quando chega uma visita, é porque eles ainda são imaturos para entender o contexto social. Se ele ainda acorda muitas vezes durante a noite, é porquê ainda não atingiu a maturidade suficiente para relaxar e recuperar seu dia de trabalho. Se ele sempre olha para o lado esquerdo quando deveria olhar para frente, é porque esta é a condição dele. Se eles fizessem algo diferente do que espero, então não seriam os meus filhos que conheço.

Tudo isso disse ao Andy, pois não significa que eles serão sempre assim, mas hoje é assim e é desta forma que devemos enxergá-los.


E.C. também para adultos


Em todos os meus textos não lembro de ter mencionado o uso e a prática da Educação Condutiva para adultos. Acontece que meu mundo são meus filhos, meu interesse no momento é pelo desenvolvimento motor de crianças. Mas a Educação Condutiva foi também desenvolvida para trabalhar com adultos com dificuldades motoras. É uma condição falha no sistema nervoso central que afeta a habilidade em controlar os movimentos de uma forma fácil, intencional e funcional. Na infância esta condição inclui a paralisa cerebral, nos adultos aparece como Parkinson, múltipla esclerose, derrame e algum tipo de traumatismo de crânio.

O que me leva entender que o interesse pela Educação Condutiva se deva dar pela sociedade como um todo, e não somente àqueles que tenham uma situação crítica a 'consertar'. Não sabemos o que pode nos acontecer no futuro, seja um acidente de carro ou uma situação ao acaso, como os ínúmeros casos de derrame cerebral. A Educação Condutiva está aqui para nos ajudar a levar de maneira mais fácil e adequada a nossa vida.

A Educação Condutiva não proporciona nenhum tipo de 'cura', mas opera de uma forma a minimizar efeitos secundários da sua condição, além de beneficiar os níveis fisiológicos e psicológicos. Não é uma terapia, mas uma psico-pedagogia.

Nós como pais quando temos nossos filhos em uma condição de dependência, fazemos com o que o centro da família seja aquele que mais necessita. Mas também podemos ser nós como filhos, com nossos pais em uma condição de dependência, e também teremos uma família ainda mais unida e solidária. Toda a família acaba envolvida na condição e interessada em quaquer assunto que venha a agregar ao 'novo' grupo.

Na prática eu já observei alguns momentos dos programas dos adultos e eles não são muito diferentes daqueles que as crianças fazem. A mesma sonorização, a mesma sequência de movimentos e a mesma concentração nas tarefas. Não sei dizer, mas imagino que os progressos com adultos devam ser mais rápidos, uma vez que fazem de maneira consciente e intencional, podendo praticar no seu dia a dia sem que precise ser lembrado da importância dos movimentos.


* Algumas informações deste post foram retiradas do artigo "Some basics things to know about Conductive Pedagogy", por Andrew Sutton em maio de 2006.


Wednesday, November 15, 2006

Terapeutas, professoras e condutoras


Sempre tive uma liberdade enorme com todas as terapeutas de meus filhos, elas sempre foram a minha segunda casa, o espaço que pude descobrir até onde ía esta tal de paralisia cerebral. Foi com elas que aprendi muitas coisas, recebi lindas mensagens de esperança, outras muito mais realistas, e era sempre com elas que terminávamos mais um ano planejando novos objetivos e expectativas.

Sempre fui muito verdadeira em minhas palavras, em meus pensamentos, com os outros e comigo mesma. Sempre fui do lado que melhor magoar com a verdade do que inventar uma super mentira pra agradar.

Meus filhos fizeram terapia desde as primeiras horas de vida e desde aquele momento dividi meus momentos e aprendi muito em cada terapia, reconhecendo o valor do terapeuta e a distância dela da medicina. Eram estas terapeutas, as pessoas que conheciam mais os meus filhos; depois de mim e de meu marido.

Essa minha visão mudou completamente depois que eles entraram na escola! Percebi que em um mês a professora da escolinha conhecia melhor os meus filhos que qualquer terapeuta em três anos de convivência! Desde seus hábitos, comportamentos, gostos, habilidades, e saber até diferenciá-los com tanta facilidade. Sim, todos nossos filhos ficam uma 'eternidade' na escola. Um terço dormindo, um terço na escola e um terço em casa.

Este também acredito ser um dos créditos do êxito da educação condutiva. As crianças passam esta mesma 'eternidade' nos programas deitado, sentado, em pé. A convivência com as condutoras transpassa a afinidade de uma professora de escola, agora elas conhecem todas aquelas características e ainda mais, suas dificuldades motoras, seus possíveis novos objetivos, seu potencial e parte de seu futuro.

Terapeutas, Professoras e Condutoras: pelo seu trabalho, seu empenho, e seu amor pelos meus filhos - Muito Obrigada.

Em especial à Elaine, Ju, Eliane, Hilde, Cynara, Magé, Giana, Janaina, Mari, Graziela, Fabi, Andrea, Ana, Évito, Eduardo, Valdete, Liége, Erzji, Nelly, Nora, Jordy, Orsi, Suza, Barbara, Becky e Wendy.

Desenvolvimento e aprimoramento das atividades motoras


A rotina que as crianças vivenciam na Educação Condutiva é como um ciclo. As tarefas são realizadas com começo, meio e fim. Busca-se evitar a frustração de uma atividade não realizada. Os objetivos são direcionados para a criança dando-lhes motivação no seguimento das atividades, e para isto usam-se algumas técnicas para o desenvolvimento das habilidades motoras que são usadas nas atividades diárias. Estas atividades concentram-se principalmente em :

  • aquisição de equilíbrio
  • desenvolvimento de coordenação motora
  • coordenação e orientação visual
  • manipulação
  • mobilidade
  • comunicação

Para o aprimoramento do desempenho das atividades motoras destina-se ainda à:

  • fazer todo o movimento com propósito
  • adaptação para a tarefa de aprendizado atual
  • posicionamento correto
  • uso das mãos de forma ativa
  • motivação para a mobilidade
  • trabalhar visando o êxito

O movimento com propósito é muito importante para o desenvolvimento infantil. Como fazer a criança alongar os braços, fazer agachamento, dar os passinhos, sem que tenha uma motivação e interesse dentro de um contexto ? Para um adulto ou adolescente é muito mais fácil, onde nesta idade já se tem a consciência da necessidade do movimento, do benefício que se vai atingir. Mas para uma criança de até 5 anos é preciso muito trabalho pedagógico.

Vamos ver um exemplo: Que tal imaginar um passeio em volta do lago e lá desviar de sapos que estão no caminho, colher cogumelos para colocar numa cesta, arrancar flores de uma árvore mais alta. E na hora de colar e pintar: Onde está a cola ? Vamos até lá buscar. E agora como que se abre ? Vamos abrir, brincar, colar e de novo devolver a cola no lugar, indo até a prateleira, abrir e fechar a gaveta.

Uma atividade que parece simples, acaba tendo propósito, sendo ativa, promovendo mobilidade e executando um ciclo de tarefas.


Neste contexto é necessário proporcionar também um posicionamento correto, onde podemos destacar:

  • tamanho do equipamento
  • uso correto do equipamento
  • postura
  • espaço adequado
  • posicionamento visível no grupo
  • segurança
  • campo visual, distância e percepção do ambiente

A criança dentro do grupo precisa sentir-se parte dele, tendo a sua vez, seu campo de visão não pode estar comprometido, estar seguro de que poderá executar atividades sem que não se perca o equilíbrio, além de ter seu espaço adequado para movimentar-se. O grupo faz com que a criança torne-se mais um indivíduo do grupo, sem diferenciação e parte do todo.



* informações retiradas do material "Introduction to Conductive Education for children with physical disabilities", em workshop ministrado por Tunde Rozsahegyi.

Monday, November 13, 2006

Owen, Thomas, James, Jacob


Vamos completar um ano experimentando a Educação Condutiva na Inglaterra e neste período que vivemos aqui, acompanho todo o desenvolvimento de meus filhos, claro, no seu dia a dia. Mas não só o deles, vivendo praticamente dentro da escola neste período, pude acompanhar a alegria de muitas famílias e ver como as crianças 'mudam de fase' e atingem mesmo seus objetivos.

Hoje foi um dia lindo, pela primeira vez vi o Jacob caminhando, sozinho. Ele vinha com o andador de seu amigo, emprestado. A mãe dele exalava alegria, não se continha em tanta felicidade!

No começo do ano vi esta cena com o Owen, lá veio ele segurando um bastão para manter seu equilíbrio e dando seus primeiros passos sozinho. Hoje ele já pega o seu casaco, verifica as atividades que tem em seu escaninho e vai pra casa de mãos dadas com a sua super-mãe.

Durante a Páscoa foi a vez do Thomas. A mãe dele me comentou que em casa ele sempre se levantava da mesa sozinho, quando um dia, inesperadamente para os pais, ele se levantou e deu passos em volta dela. Não parou mais, se divertia caminhando em volta da mesa. Hoje ele chega e sai da escola todo feliz com seu andador.

Antes do verão (aqui o verão é em agosto) foi a vez do James. Lá veio ele também com seu bastão, pra não perder o equilíbrio, quando parecia que ía cair, franzia o rosto, como quem diz, ai que tombo! Que nada, voltava ele mesmo pro seu centro e continuava com seus passos.

Estas cenas ficam dando flashes nas minhas emoções, imaginando como seria um dia se esta situação acontecesse comigo. Comparando com as mães das outras crianças, não me sinto preparada emocionalmente, eu faria um escândalo e tanto!

Mas o que parece mesmo é que com os meus filhos isto não acontece, vejo o progresso deles tão lento, e até me culpo também pelo tamanho de nossa ansiedade e fé... Comparar o que é possível com o que desejamos fica sendo insalutar às vezes. Precisamos de tolerância e muita paciência para atingir todas as metas que seja possíveis atingir, não só agora, mas em toda a nossa vida.

São cenas que gravo, que vão e voltam de meus pensamentos, e que acredito sim, poder realizar. Amém.

Criança ativa e participativa


Muitas vezes me sinto despreparada para incluir meus filhos nas brincadeiras que eles gostam de fazer. Fico pensando várias alternativas e muitas vezes acabo mais complicando do que ajudando. Vejo que é uma tarefa que tenho em transformar uma brincadeira que parece parada para alguma com movimento. Como por exemplo: fazer um livro 'falar' ou um jogo de cartas 'dançar'.

A Educação Condutiva busca transformar o indivíduo de sua forma passiva para uma forma ativa. São algumas formas de envolver a criança em um meio que ela seja útil, compreendida e percebida.

Partem do princípio de enxergar a criança como um indivíduo dotado de conhecimento, para então estabelecer a ele objetivos realistas, procurando entender e se fazer perceber de sua condição . O condutor auxilia de forma passiva, mas com um teste de desempenho e qualidades ativos. Está sempre buscando motivação e recompensando às tentativas. Os recursos utilizados devem ser escolhidos adequadamente para que não se obtenha frustração, buscando tornar a criança participativa.

Me vejo na atividade de auxiliar meus filhos a pintar um desenho. Segurar um lápis parece simples, mas ele é fino e liso, só escreve se estiver em pé e ainda quando colocada uma certa pressão. Um giz de cera é gordinho e não escorrega das mãos, facilita a forma de pegar, pode escrever com pouca pressão ou mesmo de lado. A criança então pinta e consegue ver uma tarefa realizada por ele mesmo (ou com algum auxílio). Satisfação e aprendizado, usando os recursos adequados.

E o que a criança precisa para se sentir participativa ? Ela precisa se sentir interessada, motivada e estimulada. Mas acima de tudo, precisa de segurança. Estar bem sentada, bem posicionada e confiante de que ela tem condição de fazer. As atividades devem estar dentro do seu nível de habilidades, as funções motoras devem ter propósito e intenção, visando proporcionar uma experiência positiva. Atenção e concentração também devem ser trabalhadas.

Nós sempre recebemos muitos elogios em relação ao desenvolvimento cognitivo de nossos filhos, e estamos sempre buscando unir todas estas habilidades, mas sei que muito nos falta desenvolver os exercícios motores em nosso dia a dia. Atividades simples, mas em um mundo competitivo em que o vencedor é aquele que faz primeiro e mais rápido. É neste mundo que vamos sobreviver e continuamos aprendendo, com o tempo.

Thursday, November 09, 2006

E.C. como iniciar ?


Existem várias histórias de Andras Peto, sobre sua vida, seu modo de ser, seu estilo 'brutamontes' com coração tão doce. Cada um que conta, coloca sua emoção e comenta um pouco. E claro, eu também! Sou mais uma a passar pra frente todas estas histórias dele, que tanto adoro e sempre vejo aprendizado em cada uma delas.

Era uma daquelas manhãs frias no Instituto Peto e o objetivo daquela criança era empurrar a cadeira do início até o final da sala. Eram sete da manhã. Peto voltou lá às dez e ele estava lá, na metade da sala.

Outro momento comenta-se que ele decidiu que já não se fariam exercícios de caminhada naquele mês. Nenhum movimento de passos, ninguém. O exercício para todos seria trabalhar com as mãos e braços, movimentação motora fina, manipulação. E assim foi o mês inteiro, até que então foi 'liberado' o caminhar. As caras de espanto não foram poucas! Como as crianças desenvolveram tanto o 'caminhar' se não praticaram o mês todo ? O cérebro estava ocupado e ativando todas as funções, não somente as de manipulação.

Li vários comentário sobre a preocupação de Peto com a beleza de suas condutoras. Não importa o que aconteça estejam sempre bem penteadas, asseadas e com boa apresentação. Minhas crianças merecem a sua beleza!

Até hoje um dos senhores que era amigo de Peto e que 'perambula' pelos corredores do Instituto, pára condutoras pelo corredor que não estejam em 'boa forma' e diz: - Se Peto estivesse aqui ele não deixaria você vir trabalhar deste jeito! Vai pentear este cabelo vai!

Andras Peto sempre esteve em contato com estrangeiros, quando professor de terapia do movimento em 1947 ele já recebia estudantes da antiga União Soviética, Estados Unidos e Alemanha. Até hoje o Instituto recebe estrangeiros e agrupa eles em salas com condutores habilitados a conduzir em inglês.

Quando Ester Cotton perguntou a ele como iniciar a Educação Condutiva na Inglaterra ele sugeriu: 'O critério para escolher um condutor é que ele seja uma pessoa feliz. Ser jovem, inteligente, com vigor e ter comprometimento também são importantes, mas estar de bem consigo mesmo, é o que fará de sua escola um sucesso. E... venha nos visitar quando quiser.'

Pachamama*, que exemplo!


Aqui no hemisfério norte o inverno está chegando e as árvores estão se despindo...

Elas estão deixando de lado toda aquela beleza e jovialidade de suas folhas, que estavam tão frescas no verão...

As folhas que dançavam de acordo com o vento, que juntas faziam música para aqueles que passeavam sobre suas sombras...

As folhas passam por um degradê de cores, e do verde vivo, quase fosforence do pós verão, era possível ver a energia e a clorofila respirar, a árvore estava vestida para uma festa de gala...

E as folhas então passaram para um verde opaco, quase 'velho', que parecia estar na árvores há muito tempo, e que já demostrava maturidade, entendimento, porém conservadora com aquela nova veste...

Com o outono então as folhas se transformam em um lindo tom de amarelo, já sóbrio e preparado para uma nova ocasião, era o momento de se deixar levar pelo envelhecimento que logo se transformou em um amarelo fosco, maduro, sábio e paciente...

Era então a vez de colocar a última vestimenta, de cor marrom, com pouca força, quase sem vida, balançando de acordo com o grupo, sem energia própria, esperando a vez de mudar...

E elas assim ficam em uma vai e vém, tanto tempo por um triz, penduradas nas árvores até esperar que sopre o vento e seja a hora de cair...

No chão uma reunião, uma montanha, uma família que se une...

Pela primeira vez elas estão lá todas juntas, de sorriso feito com seu trabalho cumprido, e sem vida já...

Em pouco tempo as árvores já estão desnudas, mostrando sua bela forma, os galhos fortes e vivos, viris, torneados, prepotentes, contudo uma feição zangada se arma contra o frio, a neve, o vento...

Toda essa tranformação mostra a força da vida! Não só a força, mas a rapidez com que ela vem e vai, e o ciclo que ela oferece para àqueles que dão a chance de esperar pra ver. Na próxima estação tudo recomeça...

Pachamama (significa mãe natureza na linguagem dos incas) que força! Que exemplo!

Tuesday, November 07, 2006

Mesersário do blog


Mais uma vez só tenho a agradecer as palavras, elogios, considerações, comentários e vibrações de todos vocês que visitam o meu blog : Educação Condutiva - com amor!

Dois meses depois hoje tenho 42 artigos publicados aqui, e não consigo parar de pensar no que ainda tenho a somar! Procuro atualizar semanalmente e espero que continuem gostando.

Como diz o ditado e... faço dele verdade para meus pensamentos, atos e palavras:

Não sabendo que era impossível, foi lá e fez.

Princesa Diana


A Princesa Diana (1961-1997) foi a Patronesse da Fundação de Educação Condutiva em 1990 na Inglaterra. Ela acompanhou o desenvolvimento dos planos de aplicação do método húngaro desde seu projeto piloto e visitou Birmingham em duas ocasiões, nos anos de 1990 e 1991. Ela também esteve na Hungria e visitou os estudantes ingleses que estavam estudando no Instituto Peto como condutores. Lá também ela esteve duas vezes, em 1990 e 1992.

Diana esteve presente em eventos de auxílio e apoio a educação condutiva e em novembro de 1995 inaugurou a primeira fase do atual National Institute of Conductive Education, em Birmingham. A sua participação e envolvimento dá até hoje muito prestígio a esta escola e a iniciativa de desenvolvimento e continuidade do método fora da Hungria.

Mais uma vez acredito teria orgulho Professor Peto de conhecer seu interesse e também de sua paixão por esta causa. Infelizmente o Instituto Peto atualmente não tem uma direção política e administrativa coerente. Depois de seu fundador e da excelente continuidade de Mari Hari, o Instituto Peto continua funcionando como um excelente modelo de ensino, com seus mais de 140 alunos, e recebendo visitas de todo o mundo, das mais variados condições sociais, culturais e econômicas.

Alguns dizem que tanto êxito e fama tem este método porque ele alcança objetivos com crianças que foram 'esquecidas' por algum sistema de saúde e dadas como improdutivas por outros. Principalmente falando do desenvolvimento de crianças 'mais velhas', aquelas consideradas pela medicina atual com pouca possibilidade de novas aquisições. É aqui que a Educação Condutiva mostra sua força e entusiasmo em não descansar e seguir buscando o melhor na vida de cada um, independente de sua idade e condição.


Potencial duplo


Estava lendo sobre a quantidade de aprendizado que se adquire ao brincar. Uma criança que pega um objeto pela mão, consegue sentir sua textura, seu volume, seu peso. Ao deixá-lo cair ele ao mesmo tempo observa o movimento do objeto se movendo, partindo de um ponto e chegando a outro, seja ele mais rápido, como uma boneca ou mais devagar, como uma bolinha de sabão, percebendo o conceito de leve e pesado.

Este simples pegar e jogar de um brinquedo, mostra a complexidade que se tem e que se aprende. Acho que muitas vezes esquecemos do quanto nossos filhos, mesmo uns bebês, ou ainda com alguma dificuldade de aprendizado ou de movimentação, podem adquirir conhecimentos, que para nós parecem tão implícitos.

O brincar desenvolve, estimula e promove o desenvolvimento cognitivo. E mais do que isto, nos mostra quanto é possível aprender com tarefas tão simples.

Eu como mãe não olho para meus filhos tendo a visão do que eles não têm, mas sim do imenso potencial que eles têm! Vejo eles tendo muito o que aprender, com tanto a descobrir, como um ser tão completo, sensível e comunicativo; e ao mesmo tempo tão indecifrável pra alguns. Procuro não me concentrar na falta de habilidade, mas sim na capacidade de desenvolver novas habilidades.

É assim que gostaria que o mundo enxergasse meus filhos e todos os outros com dificuldades, enxergar neles o belo que eles têm, e a alegria que eles têm a nos dar. Como sempre digo, tive a grande chance na vida de ter tudo isto em dobro: as alegrias, os sorrisos, o prazer, o amor.

Sunday, November 05, 2006

E.C. na Hungria, na Inglaterra, no Brasil


Quando ouvi pela primeira vez falar em Educação Condutiva, e que me pareceu justo a idéia de conhecê-la um pouco melhor, ficava imaginado como seria tudo isto na Hungria. Sempre tive vontade de ir até lá e conhecer a escola, o Instituto Peto, verificar 'bem de perto' o desenvolvimento desta forma de educação, sem perder nada que tivesse sido 'confundido' em outro país.

Por fim decidimos não ir a Hungria, mais por falta de informação do que de vontade. Não consegui contato com eles, e tudo o que tinha disponível estava em húngaro. Tinhamos então optado por vir até a Inglaterra e então daqui partir pra lá. Este destino era certo. Afinal, foi lá onde nasceu este método e onde ainda hoje se respira Educação Condutiva.

Estaremos fazendo um ano de Inglaterra e ainda não fomos até a Hungria. Estamos à duas horas de vôo e os custos de viagem são bem baixos. Porquê ?

Quem saciou a minha vontade de ir até lá foi Andrew Sutton, hoje representante do Conselho da Escola de Birmingham. Andrew teve contato direto com Mari Hari quando iniciaram os primeiros passos da Educação Condutiva na Inglaterra e foi ele quem trouxe o projeto de formação de condutores para cá.

Andrew comparou a Educação Condutiva com a invenção do telefone. Hoje todos nós usamos o telefone de diversas formas, nem sabemos direito como ele funciona, muito menos quando foi inventado, ou por quem, ou onde. O que importa é que ele é útil, funcional e principalmente, globalizado. Em todos os lugares ele existe, ele funciona, sem que precisamos ficar nos perguntado se ele foi inventado na Europa, Rússia ou América.

E assim é a Educação Condutiva, não importa exatamente que ela foi criada e ainda é desenvolvida na Hungria. Hoje ela é globalizada, pode ser aplicada em qualquer lugar, e cada lugar acaba 'adaptando' para o modo de vida de seu país. Uns usam mais do contato corporal, como massagens, outros de ordens e definição de objetivos verbais, outros ainda da inserção de terapias na água ou foco no desenvolvimento da fala.

A Educação Condutiva pode ser levada da forma que seja útil para cada local e grupo de crianças. Afinal ela é um retrato da rotina diária de cada um de nós e assim deverá ser para cada país que ela se destine.