Na Inglaterra existe uma profissão que é o career. Não consigo achar tradução para este profissional e gostaria de encontrar uma. Ele é uma mistura de mãe, pai, babá, técnico de enfermagem, professora, motorista. É o career que leva e busca, que tira a criança do carro, que tira e bota na cadeira, que profissionalmente tem cuidados especiais, onde parar, o que levar, como administrar situações especiais.
Hoje eu preciso de auxílio e digo que preciso de uma babá. Os meus filhos precisam tomar banho, comer e se alimentar. Mas eles também querem brincar de memória, ver dvd de adulto, aprender com novas histórias, pintar e recortar. A babá cuida de bebês.
Hoje eu preciso de auxílio e digo que preciso de uma enfermeira. A enfermeira tem cuidados especiais como tratar, atender, ser gentil e paciente. Meus filhos têm um ritmo, eles querem ir na piscina, ao mesmo tempo escutar música e cantar. Querem ir ver o jogo de futebol e tentar uns chutes, querem também ir na praia ver se a água está gelada e voltar para brincar com a mangueira que está quentinha.
Hoje eu preciso de auxílio e digo que preciso de uma professora. A professora ensina meu filho a usar o banheiro, a não fazer xixi na fralda, a lanchar com os amigos. Ela ensina meus filhos a pintar, ler e escrever. Ela não é só uma professora, ela é motivada e acredita no potencial deles. Ela convida eles pro passeio da escola e encontra uma forma de fazer ele participar.
Hoje eu preciso de auxílio e digo que preciso de um career. Não sei mais.
Hoje eu preciso de auxílio e digo que preciso de uma mãe. É ela que brinca, troca fralda, dá de comer, ensina a fazer xixi no banheiro e a lavar as mãos. É ela que lê histórias, coloca música, canta junto. É ela que leva pra jogar futebol, toma banho de mangueira, dá o banho. A mãe enquanto faz a comida pensa nos deveres que estão pra serem feitos, liga pra avó ajudar a procurar recortes. Ela nunca esquece os remédios e faz a nebulização. Ela sempre encontra uma aventura legal, seja na caverna do depósito, na sombra do gigante, no barco viking. Ela está sempre em busca de encontrar um sorriso em cada rosto. Ela também acorda durante a noite, acalenta um, outro e sai matando mosquitos.
Na Inglaterra ou aqui, com ou sem career, eu preciso sempre de auxílio, não nego. Mas também não quero ser taxada como coitada, azarada, ou sortuda. Digo mais, não sou super - mãe e nem quero ser. Compartilho com a Marina* a seguinte questão:
"... me dá a nítida impressão que das pessoas quererem dizer que por ele ter um filho deficiente ele é legal, apesar de discordarem das idéias como um todo... mais ou menos por aí. Letícia, isso sim me deixa P da vida...a sociedade querer nos engrandecer por tratarmos com naturalidade (e muitas vezes por pura falta de opção) de algo que ela tem dificuldade em lidar... Isso pra mim é puro preconceito!!!! e preconceito velado..."
*A Marina é a dona da Comunidade Paralisia Cerebral no orkut. Uma comunidade muito ativa, consciente e muito produtiva para os pais, amigos, e aqueles que vivem pc. Para ver da onde vem o comentário dela procurar pelo tópico "o grande botão vermelho".