Papel principal

Cada pessoa tem um monte de histórias pra contar.
Cada pessoa publicaria um livro interessante sobre suas vidas.

Qualquer um de nós compartilharíamos destas histórias como se fossem novas.
Qualquer um de nós relembraria nelas, vários momentos de nossas próprias vidas.

Alguns de nós seríamos sempre coadjuvantes.
Alguns de nós seríamos sempre personagem principal.

Uns contariam histórias fascinantes.
Outros contariam as mesmas histórias sem nenhum delírio.

Várias vezes parecemos invisíveis aos fatos a nossa volta.
Várias vezes nos fazemos invisíveis aos fatos a nossa volta.

Muito poucos se destacam de um todo.
Muitos se esforçam pelo todo.

Ser especial me impede de ser invisível,
me impede de me disfarçar no todo,
me impede de ter uma história natural,
me impede de ser coadjuvante,
me impede de desaparecer na multidão,

Ser especial é ser o destaque, o cantor que deu certo, o jogador que despontou, o ator que emocionou, o professor que marcou, o amigo famoso, o filho que nasceu, o cientista que descobriu, o amor que encontrei, a empresa que cresceu, a opção que escolhi.

Ser especial é ser o destaque.

Por mais que eu não queira: na escola, na rua, no mercado, na festa, na loja, no teatro, na praia, na clínica, no parque. Ser especial é não ser ignorado. Ser especial é ter atenção curiosa, é deixar de ser menos um.

Alguns poderiam contar em seus livros que queriam ser personagem principal nesta vida. ... e poderiam passar a vida querendo.
Poucos poderiam desejar nunca terem sido o papel principal. ...

Vídeo Educação Condutiva UK

Este vídeo começa com as verdades:
:: Ele nunca irá andar.
:: Ele nunca irá chutar uma bola.
:: Ele nunca escalará uma escada.
:: Ela nunca subirá um degrau.
:: Ele nunca irá sentar.
E contraditoriamente mostra as imagens das crianças do centro de Educação Condutiva Rainbow de Fareham-UK. O que vemos são imagens de um grupo de crianças confrontando verdades uma vez ditas por algum profissional de saúde.

Uma mãe assim fala:
- Minha filha sempre foi feliz em observar as ações dos outros, em sorrir para os outros. Hoje, com a Educação Condutiva, ela está feliz de fazer parte do grupo, interagindo com ele, brincando sozinha, participando ativamente.

A condutora mostra a rotina, muitíssimo parecida com o nosso dia a dia em Florianópolis, as cenas de alongamento, massagem, brincar no chão, os móveis, as canções, o entorno, o grupo, as educadoras. Seguimos o mesmo sistema de aprendizado, quebrando um movimento em pequenos pedaços, ganhando pequenas conquistas a cada dia. Desenvolvemos não somente o físico, mas o emocional, social e cognitivo de nossas crianças - diz a condutora senior Magdi Kovacs com forte sotaque estrangeiro.

Este é mais um vídeo que encontramos sobre uma escola de Educação Condutiva, lentamente construída por uma mãe para um grupo de crianças, em algum lugar do mundo. Para saber mais sobre este centro visite The Rainbow Centre. Se ainda não conseguiu ver o vídeo clique aqui.

Educação Condutiva: quero participar

Estamos próximos de iniciar nosso ano no Projeto Com Amor. Oferecer a oportunidade para crianças especiais experimentarem o método de Dr. Andras Peto em Florianópolis, dar uma chance para que desenvolvam suas habilidades motoras, independente da condição que tenham. A Educação Condutiva busca a vida de forma autônoma, fazendo com que cada um faça, execute, aja por si mesmo. Primeiro com a intenção, estimulando o desejo, e então com o movimento.

O Projeto Com Amor Florianópolis atualmente atende crianças com dificuldades motoras, principalmente paralisia cerebral, em dois grupos:

^^ Pais & Filhos: Crianças de até 3 anos de idade participam da rotina de Educação Condutiva acompanhadas de seus pais e orientados pela condutora. Duas vezes na semana.
^^ Pré-Escola: Crianças de até 9 anos de idade participam da rotina diária de Educação Condutiva, recebendo uma educação especializada, direcionada e individualizada. Três, quatro ou cinco vezes na semana.

O projeto acontece em Florianópolis, no norte da ilha. Para crianças de outras localidades oferecemos o Programa Visitante.

^^ Visitante: Crianças que visitam o projeto durante 3 semanas, participando ativamente de todas as atividades de rotina. Voltam para suas casas com um Programa de atividades a serem realizadas e retornam posteriormente para uma reavaliação. As crianças visitam o projeto em datas específicas, de acordo com nosso calendário.

^^ Curso de Férias: Crianças que participam de intensas 3 semanas de atividades em período integral nas rotinas de Educação Condutiva e ainda têm a oportunidade de experimentar outras atividades da vida diária. O curso ocorre durante o mês de julho. Vagas limitadas.

Para quem quiser saber mais, visite este blog ou através do e-mail educacaocondutiva@gmail.com

Desejos

Eu não me vejo com muitos desejos, sou sempre muito prática. Adoro conhecer culturas que minimizem os pequenos tempos com suas utilidades. (F)utilidades para cozinhar, bronzear, divertir, limpar, trocar, jogar, passear, recordar, preservar,...

Não sou do tipo que gosta de passear a toa. Não faço compras e sou bem desprendida. Poderia me avaliar neste instante, como alguém com uma falta de desejo por qualquer bem. Não obstante, quando eu tenha uma necessidade. Se for útil, prático, necessário, então me será desejável.

Meus desejos não são materiais, eles são densos.
:: Quero ler um livro com o barulho de minhas crianças brincando no jardim.
:: Quero sentir a brisa do mar, sentada na beira da praia, enquanto eles rolam na areia.
:: Quero fazer Yoga na hora que eu quiser.
:: Quero ler uma revista inteira, de uma vez só.
:: Quero mandar meus filhos pro quarto quando for hora de dormir.
:: Quero sair apressada e ser a primeira a chegar.
:: Quero receber um sorriso sem precisar dar.
:: Quero escutar um elogio aos meus filhos, de um simples desconhecido.
:: Quero ver meu filho realizar seu desejo.
:: Quero ter certeza de que tudo vai dar certo.
:: Quero ter desejos, sempre.

Me toca, me amassa, me beija

Meus filhos, já grandes, não sentam adequadamente em suas cadeirinhas de carro. Quando estão todos dormindo ainda mais difícil dirigir sozinha com meus três rolando as cabeças, ainda mais sem controle, por todas as direções.

Queremos forçar uma posição que deveria ser natural, mas estar sentado e dormindo não seria natural para nenhum de nós. Resolvi por colocá-los juntos deitados no chão, um encostando no outro, um rolando sobre o outro, por vezes com joelhos e cotovelos levemente machucando o outro.

Neste momento lembro-me como é gostoso ser amassado, empurrado, acotovelado. Uma troca de calor, energia, sensação. Meus filhos que são muito amados pela nossa família, claro, são certamente devido a sua condição, inúmeras vezes privados de abraços, beijos e até apertões e beliscões. Ridícula esta verdadeira colocação.

Eu cinicamente me animo de ver minha pequena filha empurrando o meu filho, de sua difícil posição matematicamente equilibrada para estar sentado. Também me derreto de alegria quando ela se deita em cima de um deles, e fica fazendo cavalinho intermitentemente, em cima de um estômago cheio. Dificilmente vejo um amiguinho bater ou morder, algo que seria nesta idade até natural (porém dolorido). Aqui lembro da Cristiana falando que a professora não queria que a Luísa sentasse na grama porque iria pinicar. Criança especial não pode deixar a grama pinicar?

O toque entre irmãos, o toque entre amigos, o toque entre almas. Muitas vezes deixamos passar um carinho, uma abraço, um beijo. Vamos em 2008 chegar mais, amassar mais, apertar e transmitir as sensações que temos aqui dentro da gente. Vamos aproveitar que moramos neste país tropical, com gente que toca em gente, que abraça a gente e beija muito.

Silêncio entre meus pensamentos

Vivendo um momento de recomeço que a virada do ano nos proporciona, me percebo abusando de meu corpo e espírito, tanto em uma profusão de planejamentos, como nas festas de verão.

Para o desenvolvimento de meus filhos, planejo uma série de atividades que visualizo cada vez mais com a participação de um grupo coeso e determinado a querer mais. Com o interesse de várias pessoas, que têm me procurado em virtude do curso de julho ou da participação no Grupo Com Amor, vejo que o ano de 2007 foi mesmo a semente de uma grande oportunidade para meus filhos e para outras crianças com paralisia cerebral.

A Educação Condutiva é a condução da rotina de meus filhos e também da minha, que me traqüiliza por saber que eles estão trabalhando em uma série de atividades que eles necessitam. Também confesso que libera um pouco a minha consciência de responsabilidade por eles, parece um pouco até de alívio egoísta. Trata-se de um tempo que tenho para mim e neste mesmo tempo, tenho alguém -um grupo de excelentes profissionais- trabalhando com eles.

De férias, tenho todos os meus tempos ocupados, e me percebo procurando `disfarçar` a minha rotina, como se não quisesse demonstrar o quanto eu faço. Me pego fazendo que não faço, e por ter esta atitude até me culpo por não ter feito. Parece estranho e confuso, mas é verdade, confundo a minha mente que desesperadamente procura o silêncio entre os meus pensamentos ocupados.

Estados de consciência

Quando falamos de sono e sonhos, me dá a sensação de estar lidando com um mundo não meu, ou melhor de um mundo que eu não domine. De acordo com o Vedanta existem sete estados de consciência, e cada um deles progressivamente nos leva para mais perto do ideal da iluminação. Infelizmente a maioria das pessoas apenas experimenta os três primeiros, sono profundo, sonho e estado desperto.

Em alguns momentos nossa vida já parece plena, em outros nos falta muitos pedaços. Já não sei se o que me falta é consciência ou se o que me preenche é que é consciência. Sei que ainda tenho a descobrir e experimentar.

Nesta leitura de Chopra reconheço que ainda quero muito mais para meu ser. Aqui copio um trecho do livro deste assunto:

:: O quarto estado de consciência ocorre quando vislumbramos a alma, quando ficamos, mesmo que pela fração de um momento conscientes do observador que existe em nós. ::
:: O quinto estado chama-se consciência cósmica, neste estado o espírito pode observar o corpo material, a percepção está desperta e alerta com relação ao nosso lugar como parte do espírito infinito. ::
:: O sexto estado é a consciência divina, neste momento não apenas sentimos a presença de espírito em nós mesmos, como também começamos a sentir este mesmo espírito em todos os seres. ::
:: O último é a consciência unitária, a meta suprema, a iluminação. Neste momento vemos o mundo inteiro como uma extensão de nosso ser, uma projeção de nosso eu, transcendemos a vida e a morte.::

E não é somente de sono e sonhos que não dominamos, por ora nos assustamos, temos ainda muitos estados de consciência que ainda estaremos por vivenciar.

** Informações sobre Vedanta retiradas do livro ` A Realização espontânea do desejo`, de Deepak Chopra.

No presépio, tenho gêmeos

No meu momento de avaliação com meus filhos relato que meu pequeno tem uma dificuldade motora berrante, ele luta com esta dificuldade para fazer o que ele mais quer, mas muitas vezes não consegue. Neste ano de Educação Condutiva não me animo com seu desenvolvimento motor, é verdade, mas me impressiono com seu amadurecimento social, sua percepção e seu controle de esfíncteres para xixi e cocô, seu relacionamento em grupo. Avalio que ele teve um desenvolvimento global animador, principalmente com sua atenção e disciplina para realização de tarefas muito precisos, a percepção de ter realizado ou não as tarefas não deixa ele descansar, quer muito mais. E para o próximo ano eu quero mais esforço em comunicação e evolução motora.

Para seu gêmeo, me animo com seu desenvolvimento motor, controla com menos dificuldade seu corpo e me dá a sensação de estar próximo de sentar, de ser independente, de me impressionar. Seu relacionamento grupal, social, cognitivo, de comunicação, de percepção é consideravelmente melhor do que no ano anterior. Ele tem noção de suas funções mas precisa de um elemento motivador muito forte para ser disciplinado. Para o ano que vem eu quero mais empenho em sua maturidade emocional e na busca da disciplina para a realização de uma tarefa de cada vez.

Um diferente do outro. Ao mesmo tempo um se espelhando no outro. Um aprendendo com o exemplo do outro.

No meu presépio tenho dois Meninos-Jesus. Desde que meus filhos nasceram coloquei dois meninos ao lado de Maria e José. Cada um vê em Jesus aquilo que quer ver, busca nele o tamanho da força que precisar. Ele representa pra mim uma pessoa de coração gigante, de percepção sutil, onde teve Seus sentidos mais do que apurados, conquistando apenas com Sua presença, deixando uma história eterna, com diversas maneiras de contar. Diferente porque foi gente, Ele ensinou com seu exemplo, querendo Se mostrar como modelo. Ele foi um, mas também foi muitos. No meu presépio ele veio com um irmão, gêmeo.

No sono que acalma

Ao observar meu filho dormir vejo uma vida se transformar. Em instantes.

Na dificuldade de tranquilizar seu corpo e relaxar seus músculos, ele se vira para um lado, para o outro, e de novo, e de novo... em um movimento sem cessar. Ele `briga` com a variação entre o estado alerta e o estado de sonolência, como se esta situação fosse nova para ele, como se dormir fosse difícil. A respiração descoordenada, com o som de entrada e saída do ar pelas narinas formam uma música acelerada, em tom alto, se mostrando distante da combinação desejada para o sono.

Ao observar este ritmo, tento eu mesma buscar uma respiração equilibrada para meu corpo, tentando fazer com que pelos meus movimentos ele perceba e imite os meus atos. Mesmo que inicialmente seja de forma automática, sem razão, de forma inconsciente aquela imitação vem trazendo a ele o conforto do relaxamento, da respiração tranquila, em busca do prazer e do sono.

Em um momento muito próximo ao outro, seu corpo se acalma, sua respiração fica inaudível, sua energia se tranquiliza, ele adormece. Vejo uma vida se transformar. Aquela `briga` cessou, aquela angustia cessou, aquela pessoa se transformou. Assim vejo uma guerra que se transforma no bem, no guerreiro voraz que imediatamente se transforma em santo, na explosão que traz o silêncio. Em instantes.