Lembro do tempo em que no meio da madrugada, esgotada depois de amamentar os gêmeos e complementar com a mamadeira de leite nan, eu ficava imaginando o dia que meus bebês conseguissem segurar a mamadeira. Parecia a ação mais importante do mundo, pois assim permitiria que por alguns segundos eu pudesse fechar os olhos e descansar.
Amamentei meus gêmeos sempre com leite materno até o dia em que eles saíram da unidade de terapia intensiva. Uma atividade que se tornou simples e rotineira, ir ao banco de leite, sentar-se a frente do vácuo e na presença de outras mulheres, sugar o leite com aquela música do compressor pressionando os mamilos até sair a última e preciosa gota. Nos primeiros dias, eram mesmo gotas. Enquanto a vizinha ao lado enchia seus potes e até deixava escorrer pelo seio e barriga, eu economizava cada
ml do líquido precioso que garantiria a sobrevivência dos meus bebês em estado de septicemia. Eu ficava imaginando o dia que eles conseguiriam mamar no peito, pois assim permitiria que o contato me deixasse mais tempo junto deles e me sobraria tempo para descansar uns minutos a mais.
Meus bebês estão com oito anos e foi nesta semana que um deles realizou uma grande conquista. Com a ajuda de uma fita adesiva e de um caderno de capa dura em seu colo, colamos o controle remoto e demos a ele a liberdade de mudar de canal, aumentar o som, entrar na programação da semana, colocar para gravar, assistir programas antigos. Que maravilha! Fazia já algum tempo que esta ação lhe parecia "motoramente" possível, no entanto o tempo de pressão do botão, a precisão do apertão, o tamanho da tecla, impediam que ele conseguisse com total êxito.
Foi na sequência que ele navegou com seu
joystick no Youtube escolhendo os vídeos para ele e para seu irmão. Com entusiasmo assistiu a todos eles, como a comemoração de uma vitória. No dia seguinte quis fazer os deveres de redação usando o teclado do computador, e sozinho fez a tarefa. É verdade que ele não usou a tecla de espaço, mas copiou o texto do caderno conforme solicitado. Eu ficava imaginando o dia que seria despertado nele o interesse em querer fazer, gratificando a sua realização, e nos oferecendo descanso.
Ainda é cedo mas chegará o dia em que se somará persistência unida aos objetivos de suas conquistas motoras, a todas as duras rotinas que eles seguem desde que saíram daquele descanso na unidade de terapia intensiva. Será naquele futuro que mais uma vez seremos agraciados com aquele perfeito sorriso de vitória. E então, neste futuro, será o tempo de descansar...