Luma
Logo que meus filhos nasceram decidimos por nos mudar para uma casa, nosso apartamento tinha ficado pequeno para uma inesperada gravidez de gêmeos. Eu sempre morei em casa e meu marido também. Casa, jardim, árvores, passarinhos, ar, espaço. Quase completo, faltavam os cachorros.
Decidimos por ter uma cachorra que cuidasse da casa, nos fizesse compania e principalmente pudesse estimular os meninos. A alegria de um cachorrinho, o vai e vém dele, correndo de um lado ao outro sem sossego, mesmo que roubando meias, lambendo nossos dedos, mordendo nossa canela, é um teatro que se faz e se cria todo dia, a cada instante.
Então fomos buscar a Luma, nossa pastor alemão. Ela veio meio assustada e ficou muito acomodada, parecia tímida na nova casa. Naquele momento a alegria e o teatro foram representados por nós adultos, que adoramos o presente. Ela chegou em casa com uns quatro meses, apenas uns dois a mais que os meninos.
Mas aquela acomodação e quietude não ficou somente no primeiro dia, nem na primeira semana. Onde ela dormia ela ficava, fazíamos ela conhecer a casa, ir de um lado a outro, mas ela logo cansava. Parava e ali descansava. Trazíamos os meninos para junto dela, era uma alegria só, passar a mão no pêlo, sentar em cima dela, fazer carinho, dar ração na boca, receber lambidas. Mas ela quase não andava, nem corria.
Ela parecia triste. Na verdade ela tinha displasia.
"Displasia é uma doença que dá em algumas raças, muito comum em pastor alemão, sempre em fêmeas. Ela é hereditária e genética, e afeta a articulação coxo-femural. Esta articulação é formada pela cabeça do femur e a cavidade acetabular dos ossos da bacia, e é responsável pela transmissão das forças da coluna vertebral pelo membro posterior até ao solo quando o animal anda ou corre. Esta falta de resistência dos tecidos moles envolventes da articulação origina precocemente sub-luxação articular (cabeça do femur mal encaixada na cavidade acetabular) e posteriormente lesões de artrose."
O que acontece com meu mundo que traz para dentro da minha casa uma cachorra com lesão no quadril que não consegue correr e andar?
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Essas reticências querem dizer muita coisa, muitos pensamentos imbecis, momentos de desentendimento comigo e com o universo, muitos momentos de questionamentos sem sentido e esforços tensos desnecessários. Reflexões que nunca deveriam ter sido feitas, pensamentos que nunca poderiam me ocorrer, momentos importantes, que me marcaram, me transformaram e me fizeram viver.
Hoje nossa Luma está fazendo 5 anos. Ela é uma cachorra linda, tem respeito e impõe respeito. Com uma pelagem brilhosa e um tamanho descomunal, ela corre e brinca pelo terreno. Ela faz ainda seu tratamento, toma medição, faz regime e tem ração especial para lidar com sua dificuldade. Mas ela é uma gigante, aos meus olhos, do tamanho do Clifford, que cresceu conosco tanto tanto, se destacando entre tantas pastoras. Como o cachorro vermelho do Discovery Kids, ela ficou assim tão grande de tanto amor que recebeu.
Informações sobre displasia retiradas do Guia do Criador do site do Clube Português de Canicultura.