Em algum lugar tenho que aprender
O pequeno príncipe ensina que o essencial é invisível aos olhos. Algumas vezes com apenas um olhar, entendo tudo. Outras vezes não entendo nada e fico procurando onde está esta essência que não consegui captar. Em algum lugar tenho que aprender.
Me vejo em meu corpo pesado, sem saber se esta sou eu. Um corpo que hoje é meu, talvez amanhã não. A energia que me envolve, que me motiva, que me anima, que me impulsiona, esta sou eu. A consciência que tenho em meu corpo, que me habita, que me conduz, esta sou eu.
Quantas vezes fiquei espiando uma coisa e passei a copiá-la, pode ser um roer de unhas, uma dobra de camisa. Quantas vezes uso meu corpo pra experimentar o que preciso aprender. Em algum lugar tenho que aprender.
Queria ter uma pele resistente, que não me arranhasse com uma coisa pontuda, que não me espetasse com um espinho imponente, que não me queimasse com uma bicha cabeluda vaidosa. Cultivo esta idéia de sermos mais resistentes por fora para experimentar sensações mais profundas, mesmo que fisicamente.
Queria colocar meus filhos em um castigo eterno, quando em um momento de rebeldia já não querem mais o seu corpo, querem copiar o belo, o normal, o forte, o rico, o esperto. Quero me colocar em um castigo ainda mais rígido, muito mais doloroso que o deles, por ter a mesma opinião.
Em algum lugar tenho que aprender a entender esta dor, que existe. Ela é minha, de mais ninguém. Ninguém pode me tirar, mas pode me ensinar a não sofrer com ela. Algo tem que me ensiar a aceitá-la, como qualquer outra parte do meu corpo. Essa sou eu.
Nos dias que estou, não entendo o porquê. Talvez esteja aqui bem na frente, mas como disse o príncipe, está invisível.