Som ao fundo
Eu estou escutando no ipod uma aula de Vedanta e escuto ao fundo o som do ambiente. Mesmo não estando no local, consigo saber onde aquele palestrante está dando suas aulas.
Escuto um som constante, um ruído bruto, que a minha audição já se acostuma. Somente quando são sirenes, gritos e sons mais bruscos que volto a dar atenção para o ruído que está lá se misturando com as palavras consciência, mente, meditação, desejo, dúvida e outros temas citados no diálogo entre Krisna e Arjuna.
O som ao fundo de uma forma ou de outra faz parte do som de minha vida. Ele está sempre presente, na agitação e no silêncio.
Neste caso uma área urbana e o som do movimento dos carros, perto de uma rodovia, fica uma constante, como se eu não o escutasse. Mas ele está lá, presente, dentro da minha cabeça. Ao descansar, desligo tudo, mas ainda continuo escutando o som que vem ao fundo. A tv no vizinho, alguém discutindo alguns andares acima, pessoas conversando na rua.
O som que se mantém constante acaba fazendo parte de mim.
Para os que moram no campo, o silêncio contínuo, som dos animais, dos grilos, das cigarras, dos sapos. É também um ruído permanente, dentro da minha cabeça, moro comigo.
Para os que moram na praia, o som das ondas, vai e vém, vai e vém, sem parar o barulho das ondas quebrando e de uma nova onda se formando. Uma constante que acaba morando dentro de mim.
Este som ao fundo pode determinar alguns gostos. Alguns que amam a cidade grande, outros que se irritam com o som incessante das ondas. Os que se apaixonam ao visitar o litoral, o ouvido esquece momentaneamente o ruído dos carros e o substitui pelo barulho do vento, das árvores balançando, dos pássaros cantando.
Nossas escolhas e determinações de comportamento podem estar nestes pequenos momentos de atenção, não a palavra que escuto, mas o som que vem ao fundo.