Um sono de braços abertos
Quando vejo meu filho dormindo assim, com os braços para cima ou com a mão sobre seu rosto, me derreto. Ele está respirando tão leve que não escuto o som do ar que entra e sai pelas suas narinas. Ele tem seis anos e seis meses, e somente agora encontra seu corpo relaxado nas preciosas horas noturnas.
Não foi sempre assim. A briga por uma hora seguida de sono, um choro incessante, uma hérnia gigante que saltava do seu umbigo. Parecia um momento de busca, uma dor, um desencontro. Era como se o mundo não lhe pertencesse ou a noite lhe afrontasse. Sem motivo, sem razão.
Convulsão, medicação, terror noturno, terapia, mais medicação, shiatsu, rolfing, homeopatia. Ou simplesmente maturidade. Respirando. Em algum momento isso vai passar.
Passaram-se seis anos e agora acho que está passando, já são mais frequentes as noites com braços abertos estilo Jesus Cristo, ou mãozinha escondendo o rosto do tipo Sei quem sou. É verdade que ele chama durante a noite, mas chama porquê está em uma posição desconfortável, dormindo sobre seu braço, ou stuck em um canto da cama. Chama por um motivo.
Me tranquilizo, sem medicação alguma, sabendo exatamente quem ele é, sem medicação alguma, podendo admirar sua beleza, seu crescimento, sua própria imaturidade.
E é também neste mesmo momento que ele encontra uma forma de apertar o botão para jogar no computador. Com precisão, sem força e com muita habilidade, usa sua testa para fazer o click. Ao escutar o click, ele levanta a cabeça para ver a ação que executou. Descobriu fazendo, experimentando, relaxando. Do jeito dele, que ele escolheu, que ele optou.
Parabéns meu lindo pelos teus ganhos, pela tua dedicação, aprendizado e superação. Te amo.