Quando meu filho precisou pela primeira vez desenhar uma casa, ele ficou bravo, amassou o papel e disse que não adianta que ele não sabia desenhar. Demorou até querer pintar de novo.
Ele tinha seus 3 anos e certamente, nem ele,
nem nenhuma criança da idade dele desenharia uma casa.
Eu como mãe de uma criança com paralisia cerebral só pensava que ele
nunca desenharia uma casa. A dificuldade motora impede que ele segure adequadamente um lápis, que ele se posicione frente a uma mesa sem cair ou sem babar.
Sei perfeitamente que na cabeça dele tinha uma casa, com detalhes, e era
esta casa que ele queria retratar no papel.
Foi nesta época que a professora levou a turminha da escola até um atelier de arte, para mostrar as diversas formas que um pintor usa para expressar seus desenhos. Foi ótimo, para mim e para ele.
A arte explica e relaxa a razão.
Neste ano foi a vez da minha filha desenhar um animal. Ela tem 4 anos. Ela não tem dificuldade motora alguma, mas ficou muito irritada porquê não sabia desenhar o cachorro que estava retratado na mente dela. Pediu ajuda e, riu chorando, dos desenhos dos adultos:
- Isso não é um cachorro!
Alguns anos depois, mesmo tendo a arte como cúmplice, somente agora entendi que a rebeldia era natural. Natural de uma criança de 3 anos. Sem as neuras e preocupações de uma mãe inexperiente, de uma mãe especial,
querendo muito mais que seu filho poderia oferecer. A gente sempre espera de nossos filhos mais do que a idade deles está pronta a mostrar. Nos leva a frustrações, dúvidas e amadurecimentos. E esquecemos. Como pais, apenas temos que lembrar disso. Eles têm muito a aprender.