Ele fala. Pouco, mas fala.
Quando perguntam se meu filho fala, eu respondo que sim. Poucas palavras.
Ele tem dificuldade, mas se comunica. Diz que sim e que não, de forma evidente. Chama mamã e papá, emite gritos de entusiasmo e dá gargalhadas gostosas; cínicas muitas vezes. Ontem eu perguntei a ele com quem ele queria fazer os deveres, e ele respondeu claramente: Vovó.
Então ele fala. Palavra.
Não posso dizer que ele não fala, não seria justo! Quando tratamos com pessoas normais, usamos perguntas e respostas normais. Você viu tal cena? Vi. Será que viu? Será que viu o mesmo que eu vi? Viu quanto? Percebeu tal detalhe? Não importa. Importa que viu.
Existem níveis de falar, de ver, de escutar, de saber, de perceber, de todos os infinitivos verbais ao nosso entorno. Resta saber em que momento é importante saber o quanto.
Em nossa última visita ao oftalmologista ele me garantiu que meu filho não enxerga bem, devido a uma opacidade no nervo que conduz a informação da visão até o cérebro. Seria importante saber o quanto ele enxerga. Ele enxerga? Sim. Quanto? Não podemos medir. O médico pode prever? Não sei. Em minha opinião a mãe tem mais condições de saber do que o médico - mesmo sendo ela quem pergunta.
Então ele enxerga.
Preciso trabalhar com as ferramentas que tenho, com o tanto que ele fala, conseguir comunicar e entender. Com o tanto que ele vê vou fazer que ele perceba e realize. Com o pouco que tenho vou fazer muito.
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