O encontro 2
Artigo publicado no jornal O Liberal, da cidade de Americana, interior do estado de São Paulo.
ENCONTRO II
Os meninos finalmente chegaram à sua casa, mas já com agenda cheia: cirurgias oftálmicas, para fala e mastigação fonoaudióloga, trabalho pedagógico, orientações técnicas do Centro de prevenção à Cegueira, junto com bastante brincadeira e descanso para não deixar de ser criança. Mãe Maristela conseguiu organizar seu trabalho em casa, e gera os recursos que financiam os tratamentos necessários. Os meninos, Rafael e Renan freqüentam EMEI, completamente incluídos por toda a sensibilidade e adequação com que os colegas foram preparados. A professora contou que teriam colegas que enxergavam de forma diferente. Pediu que tampassem os olhos com uma das mãozinhas e com a outra tateassem o rosto do coleguinha ao lado, e concluiu: “Eles enxergam com os dedos!”.
Esses meninos são recebidos por mãozinhas acolhedoras a cada dia em que chegam à escola, e já conduzidos às brincadeiras, muitas vezes adaptadas pela professora para a inclusão. Há estagiária-acompanhante. Foi construída a rampa necessária, comprados brinquedos especiais. Com todo esse colo, a adaptação foi fácil. Um deles já usa a bengala especial para o auxilio dos passos (e para brincar também) – isto é trabalho do CPC, que continuará em paralelo por muito tempo, a cada fase da vida, assim como alfabetizar a criança que é deficiente visual em Braille antes do seu primeiro ano regular de escolaridade. Os pais destes gêmeos estão tão abertos à toda e qualquer oportunidade de evolução e independência que já fizeram a experiência de curso intensivo em Santa Catarina de “educação condutiva”, técnica pedagógica para crianças e adultos, que podem ter severa lesão anatômica neurológica, como paralisia cerebral, ou dificuldades de comunicação e aprendizagem. O curso durou três semanas e os pais sentiram significativas mudanças. O pilar de sustentação do método é o respeito, defendem que todo adulto e criança é capaz e quer aprender, desde que respeitados os seus limites funcionais – podem começar deitados, evoluindo para sentados e de pé depois, usando movimentos e estrutura da rotina física diária sempre com intenção rítmica em todas as atividades. O ritmo constante é lúdico, dá a sensação de familiaridade com a tarefa e com o grupo praticante, dá segurança. O ritmo, para quem tem dificuldades motoras é tão importante como Braille para deficientes visuais. O nome dos idealizadores: Bobath e Peto, para pesquisar na internet basta digitar no Google “Gracia Maria Educação Condutiva” e clicar no primeiro resultado, e Maristela recomenda www.educacaocondutiva.blogspot.com.
Os pais acham que grande parte da força que usam para a sua rotina de luta e sabedoria mesmo, vem de respostas encontradas em grupo de estudos filosóficos a que pertencem. Palavras de Maristela: “Depois de toda batalha, sobrou muita vida”.
Caso real, nomes trocados por privacidade.
Elizabeth Fritzsons da Silva, Psicóloga e Diretora da Unidade de Atenção à Pessoa com Deficiência, Promoção Social, Prefeitura Municipal de Americana.
1 Comments:
Muita vida foi o que a gente viu nessa família linda que tivemos o prazer de conhecer!!
Não vou esquecer NUNCA O brilho no olhar desses pais TODOS os dias do curso!!
Um beijo!! com saudades!
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