Eu: passeando no shopping com meus filhos
Eu estava sentada na praia, observando o mar. Era um dia nublado, sem nenhuma perspectiva de sol. As nuvens fazendo um movimento desordenado no céu. Ora indicando tempo bom, ora indicando chuva. Com o meu olhar no horizonte ía apenas acompanhando aquela linha, que em alguns momentos me parecia completamente reta, outras me dava a noção de que a terra é mesmo redonda, se via um perfeito contorno.
A minha frente apenas pássaros mergulhando em busca de peixe. Eles voavam lá bem alto e mergulhavam com toda sua energia, e eu imagino, a uma profundidade considerável pela força que demonstram ao entrar na água. Em alguns segundos ressurgem do meio das águas, ora com um peixe ativo querendo se soltar, ora com o bico apenas molhado.
Era um momento de reflexão em que me encontrava tranquila, apenas observando. Sem decisões a tomar. Apenas acompanhamento o movimento do céu, das ondas, dos animais, do horizonte, do vento, das plantas, de eu mesma.
Em determinado instante o vento começa a mostrar sua força de forma inesperada. E saindo de quase um transe, sem querer me mover, parecendo que meus pensamentos tinham paralisado também o meu corpo, apenas me levanto. Vários pensamentos surgem para que eu possa tomar uma decisão: vai chover, vou me molhar, o vento será muito forte, vai me derrubar, talvez eu devesse correr, mas quem sabe nem irá chover, só um vento irá passar. De tantos pensamentos contraditórios e ainda naquele estado de imersão, não decido nada, apenas fico de pé.
Um vento forte tráz chuva em velocidade que chega a espetar meu corpo, o céu se transforma completamente, um vai e vém de nuvens negras se instala e fica noite. Os pássaros berram desnorteados querendo alardar quem seja. O mar cresce, percebo água doce e salgada em meus lábios e de olhos fechados, apenas percebo. Sinto como se fosse mesmo uma massa de ar compacta, perdida em seu momento, que se choca em tudo e todos, de forma rebelde e insensata.
Da mesma forma que veio, se foi. Como se um botão fosse apertado. O vento cessa, o barulho do mar se acalenta, a violenta chuva se transforma em carícias de chuvisco. O silêncio se instala.
No mesmo momento os pássaros voltam a pescar, a maré se acalma como se nada tivesse acontecido, a tranquilidade é retomada.
Mas algo está diferente. Sou eu. Somente eu não consigo silenciar as minhas emoções, retomar os meus sentidos, reintegrar o meu ser. A mudança, a dúvida, a controvérsia, a incerteza, o inesperado, a surpresa, o intrigante, o fascinante, o assustador, o perturbador, a raiva, a angústia. A observação que em pouco tempo me fez viver tanto, agora me esvazia. E já não lembrando de como ali cheguei, me entristeço.
2 Comments:
ASSIM NASCE A POESIA... A SUA É LINDA E EXPRESSIVA. TE ADMIRO, JULIANA BARACUHY.
Juliana
Que lindo seu momento de me falar, adorei e como muitas vezes, reli meu texto como se fosse novo.
Um beijo com amor,
Leticia
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